8.30.2007

Filmes 10

Uma história crivada de suspense. Uma envolvente viagem de obsessão sexual numa atmosfera quase irreal. Cenas elegantemente filmadas, ritmos controlados, riqueza de cores, imagens ousadas e surpreendentes.


Um médico, casado com uma curadora de arte vivem o casamento perfeito até que, após uma festa, ela lhe confessa ter sentido uma atracção por outro homem e que seria capaz de o deixar e à sua filha por ele. Assombrado por esta confissão o médico transforma uma fatídica noite de Inverno numa busca erótica que ameaça o seu casamento e o pode levar a envolver-se num misterioso assassínio. Um filme erótico sobre relacionamentos.


Eyes Wide Shut, Stanley Kubrick, 1999

8.29.2007

Estranho cansaço

Que cansaço é este
que enche sorrateiro
os corpos duma água pesada
Absorvendo movimentos
Turvando olhares
Calmo mas violento
Afogando sonhos. Alegrias

Que cansaço é este
Que transforma almas
em esponjas atoladas
Atordoadas
Indiferentes a outras formas
Rejeitando gotas de esperança

Que cansaço é esse
Pântano assassino
Que consome o oxigénio
Em redor
Arrastando o andar
Para zonas sem pé

Algures, estagnado
Mora um cansaço
Permanecendo
Vertendo lágrimas
para não rebentar
Cansado de si mesmo



8.28.2007

Shibumi

Era uma casa antiga. Enorme para apenas uma pessoa. Mas sempre gostara de espaço. Do espaço por si só. Sem adornos ou decorações. Espaço aberto, em estado bruto. Cru. Matéria invisível, albergando um silêncio sábio e fecundo, comprimido entre as paredes despidas. Como que a querer escapar.

Tinha tido alguma dificuldade em chegar àquele ermo distante, perdido no mapa, no meio do nada. Mas, ao chegar, bastou-lhe uma volta rápida para se apaixonar e decidir ficar.
Os soalhos rangiam, corroídos pelo tempo e as espessas paredes de pedra, transmitiam uma frescura sonora, que se agarrava ao corpo, num eco sedutor. As amplas divisões vazias, sussurravam histórias, sedentas de um ouvinte mais atento. Envolvendo rapidamente o corpo estranho que ocupava parte daquele espaço sagrado, fazendo-nos sentir imediatamente esmagados por algo superior.

Tudo era fluir. Uma corrente magnética que se sentia sem se ver. O que mais o fascinou foi a paisagem, que decorava toda a casa. Inundando-a de uma luz que nunca vira. Embalando o olhar. Sobretudo a de uma divisão onde instalou apenas uma poltrona confortável. Ficando horas, embevecido, absorvendo a simplicidade das coisas, contemplando o ambiente minimalista mas ao mesmo tempo tão vasto.

Lembrava-se frequentemente da palavra japonesa de que tanto gostava – Shibumi, a verdadeira sofisticação das coisas simples – ao contemplar aquela simbiose perfeita de espaço e paisagem, numa dança frágil a perder de vista. Estava pronto para mais uma etapa.

8.27.2007

Beyond

Cada vez me interesso menos pelo que leio ou escrevo, para me interessar muito mais pelo que lhe deu origem. Escondido, algures, por de traz da folha.

8.26.2007

Filmes 9

Uma mente rebelde, colorindo espaços esvaziados. Na silenciosa sombra do índio gigante. Retracto de um mundo perturbador.


Um malandro humorado, após ser preso, finge-se louco para ir para um hospital psiquiátrico. O seu espírito rebelde contagia todos os internos, em seu redor, destabilizando a rotina e despoletando a oposição da cruel e sádica enfermeira chefe. Esse confronto, numa luta constante pela liberdade, afectará não só o seu futuro mas o de todos os doentes internados no hospital. Um convite directo a conhecer as personagens e o seu mundo. Controverso, irónico e tocante.


One Flew Over the Cuckoo's Nest, Milos Forman, 1975

8.25.2007

Filmes 8

Uma longa batalha contra a incerteza do destino. A vida limitada por quatro paredes em pequenas nuances, reviravoltas e histórias cruzadas. Um bater de emoções tocantes a cada batida de flamenco.


Um jovem enfermeiro (Benigno) cuida de pacientes em coma num hospital de Madrid. O hospital fica em frente a uma academia de ballet e, após ficar frequentemente à janela, observando uma aluna, apaixona-se por ela.

A bailarina sofre um acidente de carro, que a deixa em coma e é internada no seu hospital. Benigno passa a cuidar dela com uma atenção redobrada, falando sempre com ela. Movido por um misto de fé e amor crê que, de alguma forma, as suas palavras serão ouvidas.

Mais tarde, assistindo a uma peça, observa ao seu lado, um homem – escritor de meia idade (Marco) - profundamente emocionado em lágrimas. Meses depois reencontram-se no hospital pois a sua noiva toureira, é colhida numa arena ficando, também ela, em coma.

Ao contrário de Benigno, Marco quase não consegue tocar na noiva. É aí que começa uma intensa amizade entre os dois, com um conselho simples da parte do jovem enfermeiro: Fale com ela.



Habble con Ella, Pedro Almodóvar, 2002

8.24.2007

FIlmes 7

Uma história de amor em tempo de guerra. Pintada numa cor única, em tons de sépia. Uma lenta carícia sob os corpos despidos. Apaixonante.


Em plena Segunda Guerra Mundial, um paciente inglês, uma enfermeira e outros moradores falam de suas vidas. Em paralelo, passa a vida do inglês antes do acidente.
Em plena Segunda Guerra Mundial, um misterioso homem é encontrado nas areias quentes do deserto do Sahara, com queimaduras profundas no corpo, que o tornam irreconhecível. Levado para um mosteiro abandonado na Tuscania, no norte de Itália, recebe os cuidados de uma enfermeira canadiana destacada nessa região. As recordações dos dias de felicidade passados ao lado da sua amante, são a única razão para viver. Um filme de grande fulgor romântico, intriga e aventura, repleto de vida e mistério.


The English Patient, Anthony Minghella, 1996

8.22.2007

Ao longe

Passeava pelo jardins. Descalça. Na relva rasa aparada. Pé ante pé, com a suavidade natural do cair da folha. Cabelo arranjado, silhueta terna, sobriedade de colar de pérolas.

Mas era uma fera ferida. Estampada no vermelho do seu vestido, cintado. Hasteado no verde dos campos. Circulando, sem nunca parar, como quem procura uma saída, nos labirintos espessos do arvoredo.

Avistava-a pela janela, sem que me visse. Sempre em dias cinzentos. E ali ficava, a contempla-la. Na distância. Curioso. Nunca soube o seu nome. A sua origem ou seu destino. E agora que deixara, também, de a ver. Dou por mim, às vezes, a olhar ao longe, para uma papoila do campo. Lá longe, na folhagem.

8.21.2007

Locura e outras demências

Diz-me que distância é essa
Que levas no teu olhar
Que ânsia e que pressa
Que queres alcançar

António Variações in "Sempre Ausente"


Enlouquecia aos poucos. Estava cada vez mais certo disso.
Não sabendo o porquê, limitava-se a constatar um processo irreversível.
Um comboio antigo, em andamento por entre um fumo denso. Dissipando-se em formas mágicas. Em viagem. Ganhando velocidade. Para onde? Não sabia. Mas não se importava. Nada. Há muito que este mundo enlouquecera também e se afastara de sua pessoa como um barco à deriva. Ou ele do mundo real. Também disso não tinha certezas. Quem se desligara de quem. Sabia apenas ter um encontro marcado com a loucura. Sentia o seu respirar ofegante. O seu canto de sereia. Os seus lábios molhados, numa crescente embriaguez sedutora.
Aparecia cada vez mais regularmente numa espécie de livro de imagens que se folheia dando movimento aos objectos inanimados. Abrindo portas escondidas para locais fascinantes. Estendendo mãos. Avançando ou recuando os ponteiros dos relógios que se faziam setas de infinito.
Quem o chamaria assim? Estava prestes a descobrir...

(to be continued)


8.20.2007

FIlmes 6

Da renuncia à redescoberta da vida, num fluir musical. Gota de água dissipada em pequenas ondas, num vasto lago de azul. Intenso. Envolvendo os sentidos.


Após a morte do marido e da filha, num trágico acidente de viação, uma modelo famosa decide renunciar à sua própria vida. Após uma tentativa fracassada de suicídio, volta-se a interessar pela vida ao envolver-se com uma obra inacabada do seu marido, um músico de renome internacional.

Trois Couleurs: Bleu, Krzysztof Kieslowski, 1993


8.19.2007

Filmes 5

"I believe that God made me for a purpose... (the mission), but He also made me fast, and when I run, I feel His pleasure.". Honra, empenho, sacrifício e companheirismo ao sabor dum vento envolvente.


Baseado na história verídica da participação equipa britânica, nos Jogos Olímpicos de Paris, de 1924 . O sucesso, de uma das maiores vitórias no desporto britânico trouxe glória à nação. Para dois dos seus atletas: Harold Abrahams (judeu) e Eric Liddell (o "escocês voador"), a honra a alcançar era também pessoal e o desafio profundo, advindo do âmago dos seus seres.

Chariots of Fire, Hugh Hudson, 1981


8.17.2007

Filmes 4

Uma dor de amor mantida ao longo dos séculos. Sofrida. Voraz. Sombria. Uma sombra misteriosa que não acompanha o corpo.


No século XV, um líder e guerreiro dos Cárpatos renega à Igreja quando esta se recusa a enterrar em solo sagrado a mulher amada e a condena ao inferno, por se ter suicidado ao julga-lo morto em batalha na defesa da igreja cristã na Roménia.
A busca do Conde Drácula pela reencarnação da sua amada, deambulando através dos séculos, até encontrar um advogado, na Inglaterra Vitoriana, cuja noiva é a reencarnação da sua eterna amada.


Bram Stroker Drácula, Francis Ford Coppola, 1992

8.16.2007

Conta gotas

Já não posso classificar os bens preciosos.
Tudo é precioso...
E tranquilo
Como olhos guardados nas pálpebras


Carlos Drumond de Andrade




Acordara estranha. Muito estranha. Numa espécie de dormência atenta que teimava em lhe enevoar os olhos verdes, brilhantes. Resgatando-a para um local interior. Indefinido.

Sentia pingos e um eco em redor. Uns pingos espessos, no seu movimento lento, descendente. A libertarem-se a custo, na sua cabeça. Lutando contra a gravidade. A conta gotas.

Ao caírem, num lago tranquilo, algures, no seu ser, sentia o espalhar infinito de ondas invisíveis pela pele. Fechou os olhos e chorou.

O Tejo corre no Tejo

Tu que passas por mim tão indiferente,
No teu correr vazio de sentido,
Na memória de seres lentamente,
Do mar para a nascente
És o curso do tempo já vivido.

Não, Tejo
Não és tu que em mim te vês,
- Sou eu que em ti me vejo!

Por isso, à tua beira se demora
Aquele que a saudade ainda trespassa,
Repetindo a lição, que não decora
De ser, aqui e agora,
Só um homem a olhar para o que passa.

(...)

Um voo desferido é uma gaivota
Não é o voo da tua imaginação
Gritos não são agoiros, são a lota.
Vá, não faças batota,
Deixa ficar as coisas onde estão...

(...)

Tejo desta canção, que o teu correr
Não seja o meu pretexto de saudade.
Saudades tenho, sim, mas de perder,
Sem as poder deter,
As águas vivas da realidade !

(...)


Alexandre O’Neill

8.15.2007

Filmes 3

Uma história de vida, delicada, numa subtil poesia flutuante.


Na Berlim pós-guerra, dois anjos deambulam pela cidade, invisíveis aos mortais, lendo os seus pensamentos e tentando confortar a solidão e a depressão das almas que encontram. Um dos anjos, que aparecem sempre a preto e branco - contrastando com as cores dos humanos - apaixona-se por uma trapezista, enfrentando o dilema de querer ou não tornar-se mortal.


Wings of Desire (Der Himmel ünder Berlin), Wim Wenders, 1987

8.14.2007

Filmes 2

Um misterioso monólito negro entre o vasto silêncio do Universo.


Desde os primórdios do Homem um misterioso monólito negro parece emitir sinais de outra civilização interferindo no nosso planeta. Quatro milhões de anos depois, no século XXI, uma equipa de astronautas é enviada a Júpiter para investigar o enigmático monólito na nave Discovery, totalmente controlada pelo computador HAL 9000. A meio da viagem, HAL tenta assumir o controlo da nave, eliminando um a um os seus tripulantes.


2001: A Space Odyssey, Stanley Kubrick, 1968

8.13.2007

Filmes 1

Aquela árvore perdida na extensa planície, onde os leões se vêm deitar e o tempo passa. Devagar.


História real da baronesa dinamarquesa Karen von Blixen-Finecke, uma mulher independente e forte que dirige uma plantação de café no Quênia, por volta de 1914. Para sua surpresa, apaixonada-se por África e sua gente. Casada por conveniência com o Barão Bror von Blixen-Finecke, apaixona-se pelo misterioso caçador Denys Finch Hatton.


Out of Africa, Sidney Pollack, 1985


8.12.2007

Orfeu rebelde

A justa homenagem ao teu canto, que sempre me embalou ou agitou.


Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

Miguel Torga

8.11.2007

O click metálico



A praia estava deserta. Descansando, do mundo, num calmo ondular que embalava, espaçadamente. A noite estendera-lhe um manto infinito. Repleto de estrelas. Uma oferenda dos Deuses, prendendo o olhar numa dança de brilhos. Distantes, mas tão magnéticos.

O silêncio da noite roubado pelo som metálico do isqueiro, de que tanto gostava. Seguido por um cheiro quente a gasolina, enquanto se mantinha aceso. Indefinidamente, por entre os seus dedos, enquanto contemplava a chama. Como que a marcar, também ela, um ponto no escuro. Instintivamente.

Mais um click metálico, ao fechar da tampa e um travo profundo no deitar a cabeça na areia, para voltar a ser novamente devolvido ao emaranhado de faróis que guiavam o barco dos seus sentidos. A cada brilho um pensamento, uma frase, uma imagem, uma pergunta. Cintilando. Do nada. Sem sentido ou conexão aparente.

Ficava muitas vezes surpreso com o que lhe ocorria. Como que por magia. Tentava ligar os pontos. Estrela a estrela. Pensamento a pensamento. Como que num puzzle ou enigma por decifrar. Num desses pontos estaria, talvez, a chave, a pista. Ou até, quem sabe, outra praia deserta, outra noite tranquila e outro click metálico de chama quente e cheiro a gasolina.

8.09.2007

In my shire

Que queres de mim? Quem és que me olhas camuflado? Na densa floresta de meu ser. Pressinto-te por entre a folhagem. No estalar de um ramo ou folha seca. Num súbito parar do vento. Num arrefecer nocturno. Repentino. Naquele silêncio impossível. Como que a observar. Estático. Sombra imponente a pairar. Não sei quem és, nem porque partes. Veloz, sem uma palavra.

8.08.2007

Lost in universe

Às vezes também nos sentimos perdidos no universo.




Ground Control to Major Tom. Ground Control to Major Tom.
Take your protein pills and put your helmet on.
Ground Control to Major Tom, commencing countdown, engines on.
Check ignition and may God's love be with you.

This is Ground Control to Major Tom, you've really made the grade
and the papers want to know whose shirts you wear.
Now it's time to leave the capsule if you dare.

This is Major Tom to Ground Control, I'm stepping through the door.
And I'm floating in a most peculiar way and the stars look very different today.
For here am I sitting in a tin can, far above the world.
Planet Earth is blue and there's nothing I can do.

Though I'm past one hundred thousand miles, I'm feeling very still.
And I think my spaceship knows which way to go. Tell my wife I love her very much.

She knows. Ground Control to Major Tom, your circuit's dead, there's something wrong
Can you hear me, Major Tom? Can you hear me, Major Tom? Can you hear me, Major Tom?

Can you- Here am I floating round my tin can far above the Moon.
Planet Earth is blue and there's nothing I can do.



David Bowie

8.07.2007

Filmes

Gosto de cinema sem me considerar um cinéfilo. Gosto mais de livros. Pronto. Confesso. Mas curiosamente fazem-me frequentemente esta questão - qual o filme da tua vida? - Suponho que também a muitos de vós já a fizeram ou irão fazer. Preparem-se.

É uma das muitas perguntas sem resposta que o mundo, felizmente, fez o favor de deixar sem resposta. Perdoem-me os que têm um filme predilecto mas, neste campo, sou muito pior que o Marco Paulo. Um autêntico sultão de tantos amores. Para não falar de que, por vezes, não sei muito bem o que é a minha vida. Mas isso é outro filme.

Gosto de muitos. Recentes. Antigos. De todos os estilos. Consigo apaixonar-me pela cor de um filme sabiam? Por uma imagem. Por um final, curiosamente não os felizes. Uma banda sonora. Uma mensagem escondida. Uma única cena. Um movimento. Chamem-me o que quiserem. Lamento.

Mas fiz um esforço para tentar reunir um conjunto de filmes que pudessem ser os que mais gostei, ou pelo menos, os que me vieram à cabeça, o que não é necessariamente a mesma coisa. Assim sendo, escolhi dez. Pronto, talvez quinze. Estão a ver. Não consigo.

Fica a promessa de os publicar brevemente, com uma simples frase complementar. Sem qualquer sequência lógica ou ordem de importância e, sobretudo, com plena consciência de não ter qualquer interesse para os meus estimados leitores. Mas pronto, ficam a saber pelo menos alguns…

8.05.2007

Comunhão

Todos os meus mortos estavam de pé, em círculo,
eu no centro.
Nenhum tinha rosto. Eram reconhecíveis
pela expressão corporal e pelo que diziam
no silêncio de suas roupas além da moda
e de tecidos; roupas não anunciadas.
Nenhum tinha rosto. O que diziam
escusava resposta,
ficava, parado, suspenso no salão, objecto
denso, tranquilo.
Notei um lugar vazio na roda.
Lentamente fui ocupá-lo.
Surgiram todos os rostos, iluminados.


Carlos Drummond de Andrade


8.04.2007

O texto perfeito

Existirá o texto perfeito?
Aquele que flua como um rio, tocando no mais fundo do Eu.
Suave carícia a cada frase. Moldando-se ao corpo. Entranhando-se.
Respiração ofegante a cada pausa.
Bater do coração. Silêncio. Memórias. Luz.
Ritmo familiar arrastando imagens.

Existirá o texto perfeito?
Aquele que nos prenda ao seu galopar. Desconcertante.
Onda violenta de sensações. Salpicos que ficam.
Molhando a alma com ecos estranhos de tão familiares.
Mesmo que desconhecidos. Talvez esquecidos?

Existem tantos textos perfeitos.
Mas refiro-me ao tal. Será que existe?
Escrito na textura dos sonhos com a tinta da noite
Sangrando uma música calma. Baixinha.
Quase despercebida, por entre arranha-céus de palavras.
Uma a uma. No local exacto.

Espero um dia encontrar o texto perfeito
Ou que ele me encontre
Por aí, perdido, num livro qualquer.

8.03.2007

Partir para parte incerta

Pegou no peixe imperador, na ama da rainha - pois a coroa era pesada e a rainha demasiado magra para apreciar o seu tacho de caça, ainda fumegante - e voaram para parte incerta. É o lugar mais fantástico que conheço. Tudo o resto é pura invenção. Acreditem.

8.02.2007

Desculpa

Há noites que te vejo assim. Curioso. Não sei se anjo se menina. Por entre uma espécie de neve ou brilho espesso, que fere a vista de uma beleza sépia, quase inocente. Com pudor de se mostrar. Desaparece rápido. É certo. Mas fica uma ondulação lenta, de final de tarde, entre o vasto areal da minha pele. Desculpa. Nunca consegui descrever o teu sorriso.

Assíduos do shaker

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