9.30.2008

Testamento

Não me parece que herdei muito dos meus pais, dos meus avós: algumas coisas mais ou menos superficiais mas lá do fundo nada. Princípios, claro. Regras. O resto, quase tudo, fiz sempre sozinho.

António Lobo Antunes

9.29.2008

Aperto de mão

- Muito prazer: Opus Day
- O prazer é todo meu: Copus Night


Confesso andar sem pachorra nenhuma para determinados empertigamentos, totalmente desnecessários e descabidos, levando a algumas respostas politicamente menos correctas não descozendo o tom sério e tranquilo.

9.28.2008

Newman's Own

“Perdi um verdadeiro amigo. Minha vida e este país são melhores porque ele esteve em ambos" [Robert Redford]

"Estabeleceu um padrão demasiado alto para o resto - não apenas para os actores, mas para todos". [George Clooney]


O mundo cinéfilo ficou mais pobre. Perdeu azul. Perdeu causas e generosidade para lá de fama ou protagonismo. Perdeu uma estátua grega contemporânea. Perdeu um cavalheiro e um filantropo. Perdeu humildade. Mas ganhou um exemplo. Para recordar.

Boas corridas Paul
e um obrigado.

Mar de caricias




O decantar de um vinho
O ritual dos gestos
O corpo a levitar

O estalar do fogo
O escuro á escuta
O sangue

O sussurro da noite
O beijo sôfrego
O arrepio

O entrelaçar das mãos
O interior dos frutos
O sismo húmido

Um mar de carícias
Desaguando em ti

9.27.2008

Arquitectura #2

Mago da conjugação de materiais num imprevisível
mas perfeito chic delicado e funcional.


[Decoração by Phillipp Stark]


9.26.2008

Tema recorrente

O mundo torna-se diferente se olhado com banda sonora.
Diferente. Para melhor.



Cálidas imagens acenam brilhos escondidos. Resguardados do rebuliço apressado dos dias. Protegendo-se da ferrugem do tempo. Camuflados. Mas sempre presentes. Num objecto. Num gesto. Num cansaço ou olhar. Com tanto sentido e doutra forma esquecidos, à morte.

Nascentes secretas brotando sereias de luz. Ávidas de sussurros, que invadem a pele em ondas mornas. Planando aos ouvidos. Tocando fundo em gotas densas interiores.


9.24.2008

Boa mesa

Nunca tivera medo de facas. Sempre alertam para as facas - “Cuidado para não te cortares”. As facas perdem assim muito da sua imprevisibilidade e consequente perigo.

As colheres, por seu lado, dispersam a realidade em formas curvas e côncavas, o que tem a sua sensualidade e utilidade, no conforto de não permanecer demasiado tempo nessa realidade enfadonha. Mas não representam perigo algum, também.

O verdadeiro perigo reside nos garfos. Forquilhas impotentes duma fome, por vezes, impossível de saciar.

9.23.2008

Os amantes

Começa o mar a castigar-te os flancos e a resumir, em poucos minutos, uma sonâmbula evolução de muitos milénios, convertendo em pedra o que era peixe, desfazendo em areia o que foi pedra, incorporando cada vez mais pó no volume das suas águas... Passam entretanto pelo céu nocturno cavalgadas de nuvens magnéticas; entre as estrelas mais longínquas estabelecem-se pactos efémeros; e morrem aves nos pântanos da Lua, sob a luz que da Terra lhe enviamos. Não sei se principias a gemer, se é lenha mais alto a crepitar. Luzes, Luzes! Luzes soltas no meio da escuridão... Instala-se o firmamento nas tuas entranhas. O êmbolo do vento acelera-te o ritmo. O teu último gemido, nem o consegues dominar: derrapou no pavor de ser um grito, suicida-se na curva do meu ombro. E finalmente deito-me a teu lado. Não sei se bem se a teu lado se dentro de ti.



David Mourão-Ferreira


Curioso, o sonho do mar a percorrer essa rocha delicada dos teus ombros...

9.22.2008

Cerejas nos teus lábios

Dizem que as conversas são como as cerejas.
Sempre as vi, no entanto, em ti mais caladas.
Nos teus lábios. À espera dos meus.

9.21.2008

Olhares

Quem não compreende um olhar, tão pouco compreenderá uma longa explicação.

Mário Quintana


E assim se saboreou um bom vinho tinto*. Na lenta e sábia dança dos olhares. Cumplices mensageiros, para lá das palavras.

Maria João Pires



Para guardar na memória o concerto* do CCB, provando que há coisas que com a idade roçam a perfeição



* de Bethovenn (apesar do vídeo ser de Chopin)

9.20.2008

Sorriso assassino

A praça estava cheia. Vestida numa dança de sentidos, cores vivas, sons e movimento. E ela gostava daquela sensação que não sabia explicar completamente. Uma espécie de encenação do destino dos homens nas mãos dos deuses. Sob o seu olhar atento. O confronto da vida e da morte desafiando-se na arena, assim como na vida. O cheiro a terra, o calor do sangue, o eco dos aplausos.

Também ela, se sentira observada na noite anterior. Num arrepio sensual inexplicável. Num perverso adiar do prazer duma forma distante, mas tão presente ao mesmo tempo. A segurança da atenção envolta dum certo mistério não revelado.

A fiesta fazia-a oscilar entre a vida e as suas viagens interiores duma forma quase subconsciente. Não se revia na palidez dos cinzas, nos meios termos ou nos “assim assim”. Gostava de uma vida condimentada e era frontal. Quase transparente. Sentia demasiadamente as coisas. Talvez fosse isso. E não gostava de as aprisionar. Preferia solta-las como um levantar de pássaro. Um ímpeto que cada vez mais tentava controlar, por alguns dissabores. Causados por alguma falta de preparação do mundo para a verdade.

Aquela dança sensual, e ao mesmo tempo arriscada, entre a capa vermelha, rodopiando, e o touro imponente, investindo incansável era como uma metáfora da sua luta interior. A mulher fatal, quase assassina, e menina que não queria crescer. O medo da solidão e a impossibilidade de tudo. O vermelho da paixão, o negro do desconhecido, num perverso jogo, que lhe cativava o olhar e acelerava a pulsação.

Preferia o risco do sofrimento a uma vivência vegetal. Sem sede ou sabor. E ali percorria esses pensamentos naquela dança. Sem saber como ou quando apaixonara-se pela paixão, mais que pelas pessoas. E ficava, por vezes profundamente despida. Frágil, como um cálice deixado na praia. Talvez pela estúpida contradição de se saber capaz de tudo por essa paixão apesar da consciência da sua morte inevitável. Pré-anunciada. Apenas sem data marcada.

A paixão fazia parte de si, corria-lhe nas veias como um veleiro silencioso. Numa sede de abismo ao ponto de ter dias em que se julgava enlouquecer. De lhe apetecer largar tudo. Fugir. Saltar para aquela arena e evaporar-se num sopro. Que mesmo comprimido entre a espada e o touro não libertaria um único palavrão. Apenas um sorriso.


Para uma menina com um brilho especial, algures entre o sorriso e a lâmina mais assassina. Apesar de não gostar de touradas :)

9.19.2008

Extensão de nós

O silêncio é um amigo que nunca trai

Confúcio



O deserto. Novamente o deserto. A noite no deserto. Descendo calma ao seu leito de terra. Com suas mãos tácteis e frias. Sossegando segredos incandescentes. Antigos. Esticando o silêncio a uma extensão de nós. Inigualável. Tudo em redor é como sempre foi. Como sempre será. De nós uma pequenez grandiosa que tudo invade. Imagens. Histórias. Dúvidas e certezas. Todas estalam na fogueira, envolta de um nada que nos une a nós. Na noite que já vai longa.

9.18.2008

Louvor


Aprender a louvar o tempo lento em que as coisas se fazem e desfazem

Pedro Paixão

9.17.2008

Anatomia de um beijo

Percorrer os teus lábios perfeitos
com um dedo suave
esquiando contornos húmidos. Brilhantes

Entreabri-los dessa luz
de desejo volátil
ali espelhado. Silencioso

Aproximá-los vagarosamente
encurtando a distância
felina. Impaciente

E tocá-los, finalmente
em salpicos de mar
na pele queimada

Mordê-los levemente
Com o cair da noite
dos olhos fechados

Beijar como fome
esse veneno que alastra música
e asas no sangue

9.16.2008

Dopagem musical





Informa-se (mesmo sem qualquer interesse – já basta o Eng. Socrates – apenas por mera automotivação) que se intensificou o jogging matinal de fim-de-semana visando, ao que parece, a preparação da participação em três meias maratonas, que de quando em vez me passa pela cabeça participar. É o princípio da demência, eu sei. Mas acho, também provável, que seja uma “pequenina” desculpa para não aturar mais a chefe ao fim-de-semana (mas isso não pode ser dito, por isso, não disse nada). De qualquer forma, e para ultrapassar definitivamente as possíveis causas justificativas, convém fixar algum objectivo (até porque haverá formas muito mais interessantes de perder calorias, quer-me parecer. Adiante).

Mais indispensável que a escolha do equipamento, locais de treino ou até, às vezes a própria companhia, é a pré-selecção da banda sonora, que se quer variada, ritmada e propiciadora de viagens per si. No primeiro treino, mais longo, a escolha (ainda em banho Maria – curioso, gosto deste termo) foi a seguinte:

Useless (Depeche Mode The Kruder & Dorfmeister Remix); There Comes Your Man (Pixies); Ruby (Kaiser Chiefs); Read my mind (The Killers); The Saints are coming (U2 & GreenDay); All I Need (Air); Banquet (Bloc Party); The Bitter End (Pacebo); In the Darkness (Tim Booth); Come Undone (Duran Duran); Casca (Toranja); Baila Morena (Zucchero); You’re Unbeliveble (Emf); Angel (Massive Attack); Feel Good Inc.(The Gorillaz); Eye (Smashing Pumpkins); There she goes (La’s); High & Dry (Radiohead); Drive(REM); Square One (Coldplay); Everybody Knows (Leonard Cohen); Quero é viver (Humanos); Song 2 (Blur); Electrical Storm (U2); Spanish Taster (Depeche Mode); Home (Simply Minds); Little winds (The Corrs); Some things (Tindersticks); I love you I kill you (Enigma); The Test (Chemical Brothers with Richard Ashcroft); Stop crying your heart out (Oasis); Lake of Fire (Nirvana); Hardly Wait (PJ Harvey by Julliete Lewis); Kiss me oh kiss me (David Fonseca); Sometimes (My Bloody Valentine); Letting the cables sleep (Bush); Cantiga de Amor (Rádio Macau); Burn (The Cure), Sympathy for the Devil (Rolling Stones), The Story (Brandie Carlie), We are going to miss you (James); Love Show (Skye)

Aceitam-se sugestões musicais e até, quem sabe, possíveis participações.

9.15.2008

Close your eyes

I wanna kiss you in Paris
I wanna hold your hand in Rome
I wanna run naked in a rainstorm
Make love in a train cross-country
You put this in me
So now what, so now what?

Wanting, needing, waiting
For you to justify my love

Hoping, praying
For you to justify my love

I want to know you
Not like that
I don't wanna be your mother
I don't wanna be your sister either
I just wanna be your lover
I wanna be your baby
Kiss me, that's right, kiss me

Yearning, burning
For you to justify my love

What are you gonna do?
What are you gonna do?
Talk to me - tell me your dreams
Am I in them?
Tell me your fears
Are you scared?
Tell me your stories
I'm not afraid of who you are
We can fly!

Poor is the man
Whose pleasures depend
On the permission of another
Love me, that's right, love me
I wanna be your baby

I'm open and ready
For you to justify my love
To justify my love
Wanting, to justify
Waiting, to justify my love
Praying, to justify
To justify my love
I'm open, to justify my love

Madonna, Justify my love

9.14.2008

E por vezes

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes ah por vezes
num segundo se evocam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

9.13.2008

Improviso gourmet

Isto de receber visitas inesperadas com desejos de saladas light implica sempre alguma criatividade gastronómica. Nada que não se resolva com uma base de rúcula e tomate cherry, salmão fumado, temperado com vinagre balsâmico e um pouco de azeite, decorado com uns pinhões e acompanhado com um Vila Régia branco, bastante fresco. Foi o que se arranjou. Queriam melhor? Tivessem ido ao Magnólia.

Gravatas tristes (2nd act)

Ao que parece a menina das gravatas tristes despediu-se. Logo agora que ia finalmente fazer-lhe a vontade e aceder ao tão apregoado pedaço de seda “alegre”. No entanto, a visita não foi em vão, atendendo à profícua assessoria de moda.

A nova colega (também muito simpática e sorridente) elucidou-me que as novas tendências são os roxos (imaginem) e que "realça os meus lindos olhos verdes". Desculpem lá, mas “o que é demais é moléstia” (pensei para com os meus botões – alegres espero!). Por simpatia acabei por trazer uma azul. Foi o mais próximo que consegui chegar. É que isto de gravatas alegres tem, ao que parece, muito que se lhe diga.


Continuação de post anterior

9.12.2008

My joy



My joy, the air that I breathe
My joy, in God I believe
You move me

My joy, the blood in my veins
My joy, flows in your name
You move me

I'm not a mountain, no
You move me

My joy, heavenly bliss
My joy, the pleasure I miss
You move me

I'm not a mountain, no
You move me

Depeche Mode, My Joy

9.11.2008

O quadro inacabado

Porque é assim que ele vê as coisas, no fim. Primeiro, vê-as completamente nítidas, como todos nós as vemos, e, depois vê-as com um olhar que é só dele, e então elas ganham a forma desse olhar. Aí é que está o génio dele: vê o que todos vemos, mas vê também para além disso.
Um quadro não se pinta só com o olhar, pinta-se também com os sentimentos, com a alma, com o estado de espírito, com os sonhos, os pesadelos, tudo isso. É o consciente e o inconsciente, o visível e o obscuro. É isso a arte moderna.


Miguel Sousa Tavares


Foi assim, de forma imprevisível e inexplicável que se apaixonou pela forma desse olhar. Pelo infinito condensado por quatro tábuas. Numa vela esticada, que nos transportava para longe. Algures. Onde uma história se desenrolava na cálida lentidão do passar de nuvens. Onde mil formas voláteis que se misturavam numa nitidez crua. Quase desprotegida. Rebentando frágeis como bolhas que permaneciam numa sensação quente de final de tarde. Onde as cigarras cantam e a planície se espreguiça. Perdendo-se, lá longe, no horizonte. Onde tudo faz tanto sentido.


Dedicado a uma futura mãmã. Das melhores, só que ainda não sabe.

9.09.2008

Arquitectura #1

Gosto muito de arquitectura. É uma das minhas recentes paixões, levando-me a afirmar hoje (a anos de distancia dessa tomada de decisão) que, muito provavelmente, seria arquitecto.

Não tenho um designer ou estilo favoritos. Gosto de vários. Identifico-me sobretudo com o estilo contemporâneo e clássico, gostando particularmente da sua combinação em ambientes minimalistas.

O que mais me fascina, na arquitectura, é o seu poder de criação de ambientes. De transformar o espaço. A ligação do natural com a criação humana, numa simbiose estética.

Agrada-me mais o restauro do que o que nasce de raiz. História com laivos de modernidade. A combinação de materiais simples com peças nobres. Texturas tácteis. Tecidos. Cores. Quentes ou frias. Jogos de luz. A ocupação ou arejamento dos espaços e lugares. Sobressaindo a aura e a alma escondida dos objectos.

Adoro também a funcionalidade e o design de certos objectos e algumas peças per si (arte nova ou art dêco, por exemplo), assim como, certos estilos mais ousados (ou difíceis de enquadrar) como os ambientes árabes.

Em Portugal, apesar de existirem arquitectos fantásticos, não existe ordenamento de território ou conservação do património, o que não deixa de ser um contra senso, num país que pretende dar cartas no turismo. Não vejo forma de diferenciarmos ou valorizarmos o nosso turismo que não seja por essas duas vias, sem o esgotar rapidamente no marasmo indiferenciado da banalidade.

Perco-me completamente em livros de arquitectura e desing e decidi que passasse a constar, como rubrica, neste espaço, também ele arejado.

9.07.2008

O que é o espaço?

O que é o espaço
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?

O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta

Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível

Ana Hatherly

9.06.2008

Close your eyes



Some day he'll come along,
The man I love
And he'll be big and strong,
The man I love
And when he comes my way
I'll do my best to make him stay.

He'll look at me and smile
I'll understand ;
And in a little while,
He'll take my hand ;
And though it seems absurd,
I know we both won't say a word

Maybe I shall meet him Sunday
Maybe Monday, maybe not ;
Still I'm sure to meet him one day
Maybe Tuesday will be my good news day

He'll build a little home
Just meant for two,
From which I'll never roam,
Who would - would you ?
And so all else above
I'm waiting for the man I love.




George Gershwin, The Man I Love, By Larry Adler and Kate Bush

9.05.2008

Reuniões

Ainda não perdi a esperança de, vivendo em Portugal, poder vir a ser remunerado à reunião. Seria uma forma simples de me poder reformar brevemente.

9.04.2008

Press release

A Interpol publicou hoje um duro comunicado questionando, uma vez mais, a eficácia da investigação policial portuguesa. Lia-se, no referido documento, ser obvio que o principal suspeito pela morte do Presidente do Grupo Mosqueteiros ser o cardeal Richelieu.

9.03.2008

Encontro

Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: Nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra.


Mário Lago

9.02.2008

O Fim

Ontem julguei ter visto a luz
Nas horas brancas conduzi o despertar
E fui subindo a escada
Que me separava do meu fim

Abandonei quem já passou
Fechei os olhos e previ o que encontrei
E foi nesta viagem
Que percebi que não estou só


Jorge Palma



Gostava de poder lembrar o embate. Em que momento ocorrera? Esse pequeno fragmento de pó. Invisível a olhos nus. Que estalara, para sempre, esse seu vidro de mundo. Ecoando uma sede de doença. Que lhe ancorara raízes profundas. Gretando o fundo de seu lago interior. Atraiçoando peixes coloridos e anémonas tranquilas. Fragmentos soltos de algo outrora seu ou talvez nunca alcançado. Tornando o ar irrespirável. Frágil. Etéreo.

Caminhava pelo abismo a galope. Sentia-o no apagar das luzes. Desprendendo-se de tudo ao redor. Ouvia o som do vidro em riscos de instáveis direcções. Serpentes vivas. Famintas. Gretando gemidos de gelo. Pesar? Chamamento? Não sabia, ao certo, mas o caminho parecia chegar ao fim. Finalmente ao fim.

9.01.2008

Piano

“O vaso dá uma forma ao vazio e a música ao silêncio”

Georges Braque


Musicalmente falando seria, talvez, um piano de cauda Steinway. Um longo espelho negro de sete oitavas - ébano e marfim - colocado no centro de uma sala ampla, de tecto alto e boa acústica. Prolongando no espaço beijos tácteis. Leves e longos. Suspendendo o tempo no espaço. A pairar.


Assíduos do shaker

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