11.30.2008

Querer

As pessoas querem ir para casa cedo, ver televisão. Ou sair até de madrugada na procissão dos locais-in do costume.
As pessoas querem chegar sempre mais depressa. E correm. E ficam presas nas filas. E usam relógio. E "já te ligo que estou atrasada".
As pessoas querem telemóveis último modelo, carros desportivos, roupa de marca.
As pessoas querem grandes repastos. Barbecues no jardim. Se possível sem sujar as mãos. Sem muito trabalho. E depois fazer dieta. Ir ao ginásio.
As pessoas querem ganhar mais dinheiro. Subir na carreira. Mesmo que fiquem sem tempo para o gastar.
As pessoas querem relações duradouras. Imbeliscáveis e perfeitas. Para toda a vida.
As pessoas querem apenas a felicidade extrema. Num comprimido milagroso. Nada mais.
As pessoas querem que tudo lhes seja servido numa bandeja de prata.
As pessoas querem que lhes digam o que fazer. Respostas fáceis. Receitas para tudo.
As pessoas querem que as ouçam sempre mas escutam tão pouco.
As pessoas querem ser urbanas e ultramodernas. Rejeitam o campo, acham saloio a terra e as origens.
As pessoas dizem-se liberais mas seguem caminhos conservadores: estudo, emprego, casamento, filhos. Por esta ordem precisa. Exacta.
As pessoas querem acreditar apenas no que faz sentido. E no que lhes chega aos ouvidos. No que é notícia e como tal paradigma. Sem investigar fontes ou procurar o contraditório. Opiniões já mastigadas. Prontas a usar.
As pessoas querem férias na praia. Destinos de ócio sem história ou descoberta.
As pessoas querem ganhar o Euromilhões. Fazer compras no shopping e futebol ao Domingo.
As pessoas querem ser como as estrelas de cinema ou top models mas são cada vez mais iguais.
As pessoas vibram com o Cristiano Ronaldo, suspiram pelo Brad Pitt e comovem-se com a Lady Di e passa-lhes, muitas vezes, ao lado o Dolstoievsky, o Fellini, a Maria Callas ou a Madame Curie.
As pessoas querem planos futuros traçados ao milímetro. Sem paragens. Sem desvios. Linhas rectas profundamente cinzentas. Investindo tempo e energia em futilidades que nada acrescentam. Tão menores ao pé do saber dum carvalho secular.
As pessoas querem, e deve ser bom querer assim. E atentem. Não sou melhor nem pior. Apenas estou em crer, repito, que deve ser bom esse querer. Sinceramente, sem ironias. Assim tão certo. Tão exacto. Apenas queria, um pedacinho, que fosse, desse querer. Desse inabalável querer que as pessoas tanto querem.

11.29.2008

Pérolas de uma semana ausente

Só para provar que se pode discutir política, futebol e religião, ainda por cima ao mesmo tempo.


“Cavaco Silva ficou incomodado com o envolvimento do seu nome no caso BPN”
Ao que consta está tudo explicado, fonte segura revelou que tal se ficou meramente a dever a um erro tipográfico envolvendo o seu nome, passando a imagem de uma empresa em fuga descarada, nada mais nada menos que Cava & Co.


"Miguel Veloso declarou no final do jogo Sporting-Barcelona que não entrámos bem no jogo, tivemos a infelicidade do 2º golo e depois do 3º e também do 4º”
Pois Miguel, é certo que uma infelicidade nunca vem só e, se uma ainda se percebe, assim tantas já é uma tragédia grega. E essa, infelizmente, envolve também o Benfica.


“A modelo checa Karolina Kourkova, eleita pelo canal E! a mulher mais sexy do mundo em 2008, não tem umbigo”
Consta que foram dadas conferências de imprensa da parte de um conjunto considerável de umbigos que, com discursos políticos, juraram por Deus serem o seu desde pequeninos e que iriam honrar a sua camisola.

11.28.2008

Bar aberto

Este espaço esteve encerrado uma semana. É curioso como pode ser muito tempo uma semana. Teve, não a morte anunciada [pois alerto quero morrer de repente sem despedidas], mas uma paragem meditada e decidida. Por longo tempo. Por tempo indeterminado. Talvez para sempre. Por um propósito descoberto. Por um fechar de ciclo.

No entanto um novo propósito foi descoberto. Rápido e surpreso. Como as melhores coisas normalmente acontecem. Recentemente li também, num blog por onde passo, que estes espaços não se deviam fechar, podiam ter pausas [isso sim], mas não deveríamos “matar” parte de nós. Em certa parte concordo e ajuda a reforçar a ideia.

Continua, no entanto, a ser válido tudo o que disse. Não gosto de incoerências, apesar de também as cometer. Faz parte da imperfeição humana que gosto de ter. Continuas a fazer parte dele. A ser teu, por direito próprio [pelo menos até ao post anterior]. E continuarás, por certo, a estares diluída nalgumas passagens, nalguns quadros ou cores, cheiros ou sonoridades, pois continuas a correr-me no sangue.

No entanto quiseste que continuasse por aqui e encontrámos uma forma de o poder fazer. De me sentir em paz. Obrigado por isso.

Volta assim o Dry-Martini, agora com um primo mais novo, Gin-Tónico, que manterá os seus contos, quem sabe se com a colaboração de alguns dos leitores mais assíduos. Quem sabe se com novos propósitos ainda por descobrir. Rápidos e surpresos. Como gosto.


Façam o favor de ter um bom fim-de-semana.
XinXin

11.14.2008

Bom fim de semana

Avisam-se todas as azeitonas e palitos eventualmente interessados [vá-se lá saber porquê] que pela falta de transparência psicológica habitual, excesso de agitação [quase a puxar à mexidela proibitiva] este modesto cocktail vai partir para parte incerta, por tempo indeterminado...

Qualquer assunto mais urgente avisem por pombo correio.

11.13.2008

Todos os dias

Sempre gostei de dias 13.
Obrigado pelas palavras de hoje. É que estava mesmo a precisar.
Fazes-me bem. Espero fazer o mesmo em ti. Sempre.
Todos os dias.

A concha

Da concha
rubra
retiro
fluida
alva
tuas líquidas
sementes
que trago
entredentes

Na concha
rubra
mergulho
com a ponta
do arpão
que perturba
e escuta
teu íntimo
rumor

Na concha
rubra
busco
a pérola
úmida
ardente
que me faz
ser
quem sou

Ivan Miziara

A morte das palavras

Ando a sentir uma pálida fragilidade nas palavras
Um desfiar de mim que se tem solto sem lhe pegares
Deixando as asas presas em terra. Como folhas de Outono
Trespassadas. Secas. Perdidas.
Não sei quanto mais tenho para lhes pôr
Nem por quanto mais tempo resistirão
É que são apenas palavras
E as minhas palavras, estão a morrer

11.12.2008

Nokia

Só para informar os meus estimados leitores que possam, eventualmente, estar a pensar em pedir ao Pai Natal um telemóvel novo (conferindo também a este espaço um pouco de utilidade pública) que os Nokia são de facto equipamentos muito resistentes, sim senhor, mas não resistem ao rodado de um BMW X5 ao atravessar a estrada. É que esta informação normalmente não vem na embalagem nem nas revistas da Proteste. Após este alerta, que espero útil, informa-se também que, se necessitarem de peças sobresselentes, ainda que um pouco espalmadas (óptimas para enviar por envelope postal) façam o favor de solicitar. Terei também todo o prazer em vos esclarecer qualquer dúvida relativa a queda dos mesmos de décimos andares, afogamentos em piscinas ou mesmo novas ideias para brindes Kinder Surpresa em receitas culinárias. Efectuarei o contacto por sinais de fumo ou pelo, já famoso, pombo correio.

Toma lá e vai buscar

- O que queres ser quando fores grande?
- Hummm... [com um ligeiro contorcer de sobrancelha]. Criança. Quero ser sempre criança. Acho que muita ambição pode levar a perder muita coisa. Se for criança terei sempre muitos sonhos e isso é bom.


Adoro este puto. Tem muita pinta.

11.10.2008

À espera de ti

Espero a dúvida, nunca a certeza
Espero a descoberta, a curiosidade, a inspiração
Espero a surpresa
Espero o acaso, o improvável e o incerto

Espero encontros e reencontros, nunca despedidas
Espero o oriente, o encurtar das distâncias
Espero a viajem e o mistério
Espero os silêncios nocturnos e o calor do sol

Espero mais o dia de hoje que o de amanhã
Espero a humildade e estar sempre atento, sempre presente
Espero os primeiros dias de chuva e o cheiro da terra molhada
Espero desprover-me de fé e ser pouco racional

Espero loucura e demência ao inconformismo amorfo
Espero a palavra por inventar e os brilhos músicais
Espero as rugas vividas, nunca as lamentadas
Espero respeito, educação, o alento

Espero pensar mais nos outros do que em mim
Espero o impossível
Espero nunca ser perfeito, errar e voltar a errar
Espero não ser insosso e sempre um bocadinho picante

Espero mais os ecos que as palavras lançadas ao vento
Espero manter o instinto e o impulso
Espero sentir mesmo o que doa mais fundo
Espero não magoar ninguém por falta de atenção

Espero sempre saber pedir desculpa e dar o braço a torcer
Espero um sorriso, muitos, mil sorrisos
Espero continuar a saber esperar, a poder esperar por ti
Espero conseguir dizer-te sempre tudo, sem nada guardar

Espero não me guiar por regras ou profetas
Espero nunca prometer mas sempre cumprir
Espero perder-me no extenso deserto da tua pele
Espero encontrar-me, um pouco mais, na espera

Espero a tempestade
Espero o bater de asas, o mar revolto, a tentação
Espero nunca perder o teu cheiro
Espero que o fogo posto que me ateaste nunca se consuma

Espero prolongar-te no sangue, trazer-te dentro de mim
Espero conseguir tocar-te, sempre, por mais leve que seja
Espero tudo o que valha a pena esperar, o que não possa ou deva ser esperado
Espero que não queiras mais esperar. Todos os dias. Todas as noites.

Nada espero que não tenhamos já esperado os dois
Nada espero para mim, por vontade própria,
Para além desta espera. Incessante. Sempre presente.
Esta espera de mim dentro de ti. De ti dentro de mim.

Esta espera simples e tão despida de tudo
Esta espera de ti

11.09.2008

Gone to eaven


There was a guy
an under water guy who controlled the sea
got killed by ten million pounds of sludge
from new york and new jersey
this monkey's gone to heaven

The creature in the sky
got sucked in a hole
now there's a hole in the sky
and the ground's not cold
and if the ground's not cold
everything is gonna burn
we'll all take turns
i'll get mine, too
this monkey's gone to haven

Rock me joe!

If man is 5
then the devil is 6
then god is 7
this monkey's gone to heaven

Pixies, This monkey gone to eaven



Acordei com esta música, que não ouvia há anos, e com a certeza de que não irei para o céu.

Sibyl, a gecko butanesa

Calor húmido colado à pele. E um acordar sobressaltado. Um aviso. Um arrepio. Da janela aberta, a noite mansa. Calma. Eterna. E, ao longe, a Gangkhar Puensum, a mais alta montanha nunca escalada. O pico branco dos três irmãos espirituais.

Amanhã seria o dia. O dia em que a tentaria escalar. Em segredo, naquele país longínquo. Misterioso e proibido. A terra do Dragão. O dia em que talvez nunca regressaria. O último ou o primeiro de todos os dias.

Sentia uma presença no quarto. Camuflada mas intensa. Iluminada por um branco tépido de luar atento. Algo espiritual escorria pelo transpirar do corpo. Por entre o calor. E eis que te vi, suspensa, por entre as sedas exóticas. Quase imóvel.

Sibyl, a gecko butanesa, olhando-me fixamente com seu doce veneno. A invadir-me o sangue, nesse ópio de delírios recônditos. Milenares.

Ficámos assim, presos, não sei por quanto tempo. Numa espécie de fotografia roubada ao tempo. Num magnético contacto entre dois mundos, com a montanha de fundo. Que me quererias dizer Sibyl? Quem te enviara? Seriamos nós os três irmãos espirituais? Tu, eu e a montanha?

Nunca o saberei, mas mantenho a tua imagem perturbadora. De hábitos nocturnos. Deixando a presa indefesa. Imobilizando-me nos teus olhos de jade.

Parti cedo. Muito cedo. O tempo mudara. Nevava. Foi o dia mais frio do ano. E nunca mais vi Sibyl, a gecko butanesa.

11.08.2008

Hang on

Dez formas para recuperar de uma semana terrível num inicio de fim-de-semana...

1.
Cura de sono de 12 horas

2.
Inicio de manhã relaxante na piscina quase deserta (já não nadava há tanto tempo). Gostei da Scarlett Johanson de fato de banho vermelho mas penso ter sido obra dum subconsciente revivalismo cinéfilo Scoopiano (isto de usar três palavras caras e uma inventada de assentada, é bonito não é?), apesar de ela não se ter tentado afogar.

3.
Pequeno almoço sumptuoso e tardio (lá se foram as 50 piscinas) acompanhado da GQ italiana deste mês com a Mónica Belluci. Pensamento perturbador para o resto do dia: Que 44 anos tão bem preservados...

4.
Chegar a casa com os novos álbuns dos Kaiser Chiefs e dos Radiohead “sacados” da net. Após longo período de abstinência downloadniana quebrei o jejum por a minha consciência questionar a absolvição da Fátima Felgueiras e o desempenho regulador do Banco de Portugal.

5.
Almoço com a F. (de fugida em Portugal, há 3 anos a trabalhar em Viena da Áustria). Convite elogioso, mas prontamente declinado, para escrever um comentário da capa do seu novo livro quase finalizado.

6.
Compra de 2 livros novos, na Fnac, para acrescentar aos 2 que ando a ler e a 1 que ando a reler (para tentar colmatar o facto de sentir andar a escrever de mais e a ler de menos), bilhetes para os Oasis de bónus (não resisti, parece que vou também entrar em recessão económica)

7.
Participação na última prova desportiva do ano - prova de vinhos e queijos em casa do R. com todo o pessoal da velha guarda. Cada um levou uma garrafa e um queijo. A garrafeira lá de casa ficou sem uma Quinta de Cabriz tinto e o El Corte Inglés sem um Roquefort (o sabor intenso pareceu-me apropriado à ocasião).

8.
Dar umas boas gargalhadas com a R. a S. e o M. um bocadito tocados a cantar no Singstar da Playstation. Aproveitar o Walk Like an Egyptian das Bangles para a retirada estratégica.

9.
Café forte e cigarro há varanda de casa. Pensei em ti. Que bom foi teres-me ligado.

10.
Ainda tenho o Domingo. Mas já me sinto melhor.

11.07.2008

Feminismos matemáticos

Correndo o risco de uma maquilhagem um pouco rupestre ou de uma depilação menos cuidada sempre preferi Primitivas a Derivadas. São mais genuínas.

Segurança(In) ou (In)segurança

Ok. O tipo parecia um paralelepípedo maciço.
Ok. Tinha um ar ameaçador de tropa de elite.
Ok. Estáva armado até aos dentes.
Mas... quer-me parecer que não dará muita tranquilidade a quem queira mesmo proteger a “vidinha” ouvir no walkie talkie a frase: “Ok Charlie, patinho amarelo à escuta”.

Chamem-me preciosista, chamem-me o que quiserem, mas patinhos amarelos só com espuma, champagne e boa companhia.

11.06.2008

Danae, o nome que dei ao teu silêncio

Há dias em que me perco no teu silêncio. Abrindo os portões desse teu mundo aquático onde habitas em alga ou na própria corrente. Nesse infinito denso. Próximo e distante, ao mesmo tempo. Onde te deitas, nessa concha lisa que te resguarda mas nunca afasta.

Dias onde boiamos juntos. Sem direcção. Sem antes nem depois. Sem nada pensar. Arrastados, simplesmente, ao sabor do destino que nos uniu. Nessa estranha descoberta táctil para além do toque. Para além dos beijos. Para além das caricias.

Tu em peixe. Tu em mulher. Tu em Ninfa. Tu em Danae. Tu espalhada nesse silêncio. Sem nada dizeres. Oculta, mas tão presente. Nessa atenta envolvencia táctil. Que simplesmente se sente. Nas sombras. No movimento.

Há dias em que me perco no teu silêncio. Entrelaçado em ti de cheiros e sabores de mar. Em cores quentes que sobressaem desse vazio. Envolto nesse líquido fecundo. Nesse silêncio que fala. Que sussurra. Tanto, que nada precisas dizer.

Sabes? Conheço tão bem o avesso do teu silêncio.

O teu corpo deitado

teu corpo deitado
acorda desejos
não confessados
meus dedos-olhos
desvendam sem pressa
doces mistérios
palmo a palmo
dedo a dedo
inicio teu percurso

Eugénia Tabosa

11.05.2008

Divagações sobre as eleições americanas

Logicamente preferia que ganhasse Obama. Não só por ser, de longe, o melhor candidato. Mas também por ser o primeiro negro (não gosto da palavra afroamericano) a governar um país profundamente racista e conservador.

Apesar de os americanos já terem provado, por variadas vezes, estarem completamente desprovidos de inteligência ou raciocínio lógico, nunca tive dúvidas que (desta vez) iria ganhar. Mas daí a ter esperanças em grandes mudanças mundiais... Desenganem-se os mais optimistas. Senão atentem: Quem manda nos estados e nas economias não são os políticos, meus caros, são quem lhes financia as campanhas, quem tem interesses em os colocar lá. E os favores, pagam-se, lá está. Nesta nossa sociedade de "bandeirinhas" e do “faz-de-conta”.

Por essas e outras razões (que me fariam alongar enfadonhamente), cada vez me empolgo menos com estas coisas e me revejo, menos também, nos conceitos de bandeira, pátria e valores pseudo moralistas ou salvadores do mundo de que os americanos são pródigos. Considero que o mundo seria bastante melhor sem países, bandeiras ou fronteiras. E, perdoe-me o Obama, quem sabe se sem americanos.

É que, meus caros, 5,3 mil milhões de euros gastos na mais cara e longa campanha política americana deveriam dar para matar muita “fominha” dos tais pretinhos, só afrós, não americanos.

Autodidata

Autodidata. Um ignorante por conta própria.

Mário Quintana


Sempre admirei quem preserva um pouco das duas coisas.

Goodnight moon



There's a nail in the door
And there's glass on the lawn
Tacks on the floor
And the TV is on
And I always sleep with my guns when you're gone

There's a blade by the bed
And a phone in my hand
A dog on the floor
And some cash on the nightstand
When I'm all alone the dreaming stops
And I just can't stand

What should I do I'm just a little baby
What if the lights go out
And maybe and then the wind just starts to moan
Outside the door he followed me home

So goodnight moon
I want the sun
If it's not here soon
I might be done
No it won?t be too soon 'til I say goodnight moon

There's a shark in the pool
And a witch in the tree
A crazy old neighbor and he's been watching me
And there's footsteps loud and strong coming down the hall
Something's under the bed
Now it's out in the hedge
There's a big black crow sitting on my window ledge
And I hear something scratching through the wall

What should I do I'm just a little baby
What if the lights go out
And maybe and then the wind just starts to moan
Outside the door he followed me home
So goodnight moon
I want the sun
If it's not here soon
I might be done
No it won't be too soon 'til I say goodnight moon


Shivaree, Goodnight moon

11.04.2008

Momentos calmos num mundo louco

Banho quente. Demorado. Roupão preto. Lareira acesa. Sala escurecida. Meia luz. Pouca fome. Tarde para jantar. Luzes distantes. Acenando à janela. Lua atenta. Tábua de queijos. Uvas. Para petiscar sem pressas. Um tinto lento. Suave. Aberto antes do banho. Para respirar. Um CD de Jazz para agarrar as sombras das paredes. Para viajar. O vinho a invadir os sentidos. Prolongado-se. Da boca para o sangue. O morno calor a invadir a pele. Alastrando desertos. Pensamentos longínquos. Calmos. A frescura firme do estalar de uma uva. O cómodo prazer das coisas simples. O não apetecer deitar. As horas adiadas. Já altas. Momentos calmos num mundo louco.

11.03.2008

Desafio

O desafio veio da Maria Papoila, e reza assim:

- colocar uma foto individual;
- escolher uma banda ou artista;
- responder às questões somente com títulos de canções da referida banda;
- desafiar outras 4 pessoas, sem esquecer de as avisar.


A missão está cumprida:

A foto: É a minha em versão coktail (agitado mas nunca mexido)

A banda escolhida: os Depeche Mode

1. És homem ou mulher?John the revelator"

2. Descreve-te: Algures entre “Dream on”, “Enjoy the silence” e “Just can’t get enough"

3. O que as pessoas acham de ti? Para as mais chegadas espero que “Sweetest Perfection”, para as restantes espero que nem "Personal Jesus" nem "Judas" mas sou suficientemente “Flexible” para poderem pensar o que bem entenderem

4. Como descreves o teu último relacionamento:When the body speaks” e definitivamente “ I feel you

5. Descreve o estado actual da tua relação com o teu namorado ou pretendente:I wan’t you now” temperado com um bocadinho de “The sinner in me” (Acho que o “Sea of Sin” podia habituar um bocadinho mal)

6. Onde querias estar agora? "In your room"

7. O que pensas a respeito do amor?When you born a lover you born to suffer

8. Como é a tua vida?I want it all” apesar de tentar todos os dias que “Nothing’s impossible

9. O que pedirias se pudesses ter só um desejo? Conseguir passar mais tempo no “My secret garden

10. Escreve uma frase sábia: "The world in my eyes"


Passo o testemunho à Andromeda, M&M, Mlee e Rosa

.

11.02.2008

Mediterrâneo

Não gosto de catedrais, do peso das pedras, da dimensão excessiva das naves, da mitologia de um Deus em cujo nome foram construídas e aqui convoca e esmaga os seus crentes. Não gosto da profusão de altares de castiçais de talha dourada, de sacrários e cânticos e painéis. Não gosto da arquitectura que não é à escala humana, nem nos meios utilizados nem nos fins que representa.

Prefiro a extensão plana das mesquitas, o seu jogo de colunas e sombras, o despojamento geométrico dos seus azulejos. Prefiro mil vezes a herança do mundo árabe morto em Granada do que os símbolos da reconquista cristã que o sepultou.

Mil vezes a leveza do mundo mediterrâneo do que o sufoco das catedrais e castelos do Sacro Império Romano-Germânico. Mil vezes os templos gregos, entre resina e mar e a quietude das oliveiras, do que os Castelos de Inglaterra e as florestas de bétulas do Norte. Mil vezes as kesbahs de Marrocos do que os castelos feudais da Europa, mil vezes Granada que Versalhes.

E antes um Olimpo de Deuses de cada coisa que um Deus único, antes o Al Andaluz do que os Reis Católicos, antes Roma do que o Papado, antes a luz e a democracia gregas do que a escuridão medieval.

Falo da nossa herança, o Mediterrâneo - a mais extraordinária civilização humana, a civilização da luz, da arte, da arquitectura, da democracia, do direito, da nevegação e da descoberta, do mar e do deserto, das ilhas e dos golfos, das vinhas, dos olivais e dos pinhais, das estátuas profanas, das colunas e dos azulejos, dos pátios, dos terraços e das varandas, da cal, do branco e do azul. É a civilização do Egipto, de Creta, de Atenas, de Roma, de Volubilis, de Tânger. Das cidades portuárias de Alexandria a Lisboa e das Ilhas Gregas, da Sicília, de Malta, de Chipre, da Sardenha. São três mil anos a contemplar as estrelas do céu, a ouvir o som da água nas fontes e a tentar decifrar o mistério da morte.

Antes que a ideia de Deus esmagasse os homens, antes dos autos de fé, das perseguições religiosas da Inquisição e do fundamentalismo islâmico, O Mediterrâneo inventou a arte de viver. Os homens viviam livres dos castigos de Deus e das ameaças dos Profetas: na barca da morte até à outra vida, como acreditavam os egípcios. E os deuses eram, em vida dos homens, apenas a celebração de cada coisa: a caça, a pesca, o vinho, a agricultura, o amor. Os deuses encarnavam a festa e a alegria da vida e não o terror da morte.

Antes da queda de Granada, antes das fogueiras da Inquisição, antes dos massacres da Argélia, o Mediterrâneo ergueu uma civilização fundada na civilização da vida, na beleza de todas as coisas e na tolerância dos que sabem que, seja qual for o Deus que reclame a nossa vida morta, o resto é nosso e pertence-nos - por uma única, breve e intensa passagem. É a isso que chamamos liberdade - a grande herança do mundo Mediterrâneo.

Miguel Sousa Tavares


Este fim-de-semana andei por estas bandas. Por livros, lugares, cores, sons e cheiros. Nesta fantástica civilização que tanto me encanta e atrai. Escolhi este texto para dar inicio a uma nova rúbrica. Para viajar mais por esses recantos.

11.01.2008

Believe



oh
I needed to believe in something
I need you to believe in something
I needed to believe something
I need you to believe in something
I needed to believe
I needed to believe
oh
oh
I needed to believe in something
I need you to believe in something
I needed to believe something
I need you to believe in something
I needed to believe
I needed to believe
I needed to believe
I needed to believe
oh
I'm moving in between
can you feel me in between
I'm moving in between
can you feel me in between
oh
oh
oh
oh
I needed to believe
I needed to believe


Chemical Brothers, Believe

Era capaz

Era capaz de desistir de tudo. Das pessoas. Das coisas. De mim próprio.
Era capaz de me perder para não mais encontrar o caminho. Para me esquecer. Para começar de novo.
Era capaz de escrever toda a noite. De desistir do sono. Da lua. Da memória.
Era capaz de rasgar todos os livros que vivem dentro de mim. Asfixiar a música com mãos firmes. De apagar todas as imagens. Uma a uma. De me esvaziar.
Era capaz de seduzir alguém só para te rever no seu corpo. Amá-la nesse egoísmo que não faz parte de mim. Nessa dormência de não te ter.
Era capaz de subir ao topo do mais alto dos edifícios e dizer o teu nome. Para ouvir o seu eco a afastar-se aos poucos.
Era capaz de aprender a ser uma pessoa pior. Afogar todos os sentimentos. Toda a sensibilidade.
Era capaz de me deitar no chão e acordar um ser menos complexo. Uma simples célula. Uma vida mais fugaz.
Era capaz de me olhar ao espelho horas e não me reconhecer.
Era capaz de apunhalar o meu ânimo. A minha sede.
Era capaz do mais belo poema para nunca o revelar.
Era capaz de mergulhar no mar cheio de pedras nos bolsos. Ir ao fundo de olhos abertos. Contar os segundos do limite físico da respiração.
Era capaz de uma linha branca proibida só para sonhar contigo.
Era capaz de nunca mais dizer uma palavra por tanto as adorar ou por tanto me cansarem.
Era capaz de me cegar de toda a beleza das coisas simples. Embaciando os olhos dum vermelho têxtil do sangue.
Era capaz de gastar todo o dinheiro em champagne para brindar ao desapego de tudo.
Era capaz de perder o pé. E abraçar o abismo. Beijar a vertigem.
Era capaz de acender uma luz no escuro e deixar-me levar com ela.
Era capaz de te fazer vir numa lentidão quase maldosa.
Era capaz de tomar a forma do fumo de um cigarro.
Era capaz de fugir numas asas longas de um pássaro mitológico.
Era capaz de me entregar nos teus braços.
Era capaz de te perder para sempre.

O meu corpo no teu

O meu corpo naufragou no teu
E encalhámos nesta maré de desejo
Ora cheia Ora vaza Ora minha Ora tua
Orla de espuma
Para além da carne e do sal
Fodes-me a alma
e o meu corpo
já não o reconheço
sem o calor do teu

Assíduos do shaker

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