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2.27.2013

Chorar [lágrimas azuis]


Apaga a luz e sorri só para ti. Resguarda-te. Resguarda-o. Ninguém te alcançará, ninguém o merece. Ninguém. Não penses em nada. Limita-te a preservar esse esgar como uma onda vagarosa. Gigante, não de altura, mas de extensão interminável, por rebentar. Prolonga-o. Prolonga-a, não no tempo que passou tão rápido mas nesse pedaço de silêncio de que todos somos feitos. Não penses em nós, peço-te. Hoje não. Só por uma vez. Insisto. Lembra-te do cheiro que mora no interior dos livros e viaja numa frase ou numa imagem até onde ela te quiser levar. Dá-lhe a mão e senta-te num qualquer banco de jardim mas não chores. Hoje não. Concentra-te nesse sorriso que é só teu. A vida por vezes parece fugir-nos na estranha distância dum respirar fundo. Onde tudo parece ter morado. Até esse amor infinito que te dói tantas vezes nos dias frios e te faz cantar baixinho no olhar. Apaga a luz e sorri. Resguarda-te. Resguardo-te no meu peito, aqui. Comigo.

12.05.2009

A primeira vez

Da primeira vez, que morremos, custa muito. Doí, no fundo da alma, e algo se estilhaça para sempre, dum vidro antigo, fino e moído, que nos corta os pés. Demora muito a morrer. Demasiado, como um balão a perder ar. Um ar mais quente, que nos foge e levita para alto, mal se esvai. Um ar que não se resgata mais, mesmo colando a mão à ferida, com muita força. Morremos lentamente, da primeira vez e depois morre-se todos os dias um pouco. Todos os dias se morre mais um bocadinho, mas já não custa nada, já não se dá por isso. Da primeira vez que morremos é que custa muito e nunca se esquece que já morremos um dia. Da primeira vez que morremos.

8.06.2009

Sinto muito

Apresentou-se detalhadamente, demasiadamente [no fundo é tão curto mas tão difícil apresentarmo-nos verdadeiramente] mas houve uma frase que ecoo sobre todas as outras. Uma frase que me levantou a orelha daquela cadeira desconfortável, como um cão meio adormecido entre dois mundos, fazendo-me encurtar a distância com aquele homem, que nunca vira mais gordo, e me falava de algo profundamente íntimo.

De tudo o resto pouco [ou nada] retive. Mas aquela frase estremeceu, fazendo parar o corpo à espera do trovão que se lhe seguiria, àquela luz cortante inicial. Àquele aviso: “o meu irmão faleceu num desastre de aviação” e mais tarde, no desfiar da conversa [já canídeo mais desperto], novamente, mas mais camuflado [a precisar de olfacto apurado], numa saudade infinita de infância, numa corrida inocente de jardim que ficou talvez por dar [espelhada num olhar], repleta de sorrisos interrompidos bruscamente por outra frase que logo lhe seguiu.

A dor de perder um irmão ou um filho é uma coisa que ninguém poderá alguma vez estar preparado, ou poderá explicar por palavras [estou certo disso], apenas talvez, se consiga sentir, muito diluída, muito funda, por uma ligeira expressão ou um olhar mais preso, mais calado.

Aquela frase ficou-me vários dias a trovejar, lembrando-me a infância, somando-se a outras, curiosamente, nos dias seguintes, como que premeditadamente arranjadas: “o teu irmão não é o mesmo que saiu de casa”; “quase não fala, parece revoltado”; “não é o mesmo” [continuava a trovejar].

Que nos afastou assim tanto? Em que momento ocorreu? Que muro se nos levantou? Porque me cansei de te procurar sem respostas? De te esperar? Porque é que as forças me abandonaram numa mágoa cálida e silenciosa?

Lembrei-me de ti, hoje, sabes? [às vezes lembro-me muito de ti, mas sinceramente já não estou tão certo se te lembras de mim]. Quando te liguei fiquei uns segundos calado [um tempo milimétrico que me pareceu infinito], à espera do que viria colado na tua voz, às tuas pausas, mas logo após as primeiras frases lembrei-me que afinal sempre existira o tal acidente de viação, de que não me apercebera, que te levou, mesmo aqui tão próximo, que não me permite resgatar-te, trazer-te de volta. Um acidente que me magoa pela indiferença e indisponibilidade e me deixa, às vezes, o tal olhar distante, preso a memórias.

Sinto muito [é bem diferente de “lamento”, estas duas palavras, próximas mas tão diferentes, como nós actualmente, e de facto sinto, muito] Sinto muito, mas também porque nunca o conseguirei pôr por palavras.

Para o meu irmão, algures, muito longe

5.05.2009

Incomoda(-me)

Incomodam-me as pessoas que apenas vêm os defeitos. Que falam, mas têm dificuldade em ouvir ou de parar um pouco. Que não conseguem conviver com a ideia de poderem existir pontos de vista ou estados de alma diferentes dos seus, mesmo que não concordem. Pessoas que percebam que esse facto não têm de ter outros sentidos ou interpretações que extravasem daí. Pessoas que deduzem, sem permitir contrapor. Sem ouvir a resposta ou opinião divergente. Que já estão a "ver o filme todo" mesmo antes de existir qualquer um. Que nunca se enganam. Que têm a verdade sempre na ponta da língua. Absoluta. Imutável. Transparente. Quantas verdades existem ou subsistem nesse estado puro? 

Incomodam-me as pessoas que guardam o que sentem e se calam à espera do momento para passar ao ataque. Que não respondem ao "que se passa" por acharem que temos sempre que perceber tudo. E que à primeira oportunidade arremessam a tal pedra guardada. Numa espécie de "cá se fazem cá se pagam". 

Incomodam-me as pessoas que não sabem perdoar. Com orgulhos exacerbados, que nunca levam a lado nenhum. Pessoas que nunca dão o braço a torcer. Pessoas para quem só existe preto ou branco, nunca paletas de cores intermédias. 

Incomodam-me pessoas que cobram afectos, que comparam o incomparável, que não escolhem o momento ou local para tentar esclarecer o que se passou. Que não entendam que tal só pode ser feito com tempo e olhares. 

Incomodam-me, sobretudo, as pessoas que ficam em silêncio. Na indiferença de que o tempo tudo resolverá e acalmará. Incomodam-me apenas todas essas pessoas. Não as censuro ou afasto. Cada um é como é. Não as trato de maneira diferente ou lhes quero mal. Incomodam-me simplesmente. 

Incomodam-me mais quando são chegadas. Quando julgava que me conheciam bem para perceber como penso. Incomodam-me e digo-lhes sem qualquer problema ou pudor. E depois passa. Pois tudo sempre passa. Com mais ou menos incómodo.

Incomodaste-me, também, mas estas linhas não são para ti. São gerais e não é este o local para o esclarecer

4.11.2009

(Um) silêncio

Um silêncio lento. Assassino. Não sei se difícil se inconsciente. Um silêncio de mãos finas, frias, estrangulando, aos poucos. Esvaziando o ar. Um silêncio, outrora perceptível, mas que ultrapassou o prazo. A razoabilidade. Levantando dúvidas onde nunca existiram. Um silêncio branco que faz esquecer o que se gostou. O que se sentiu próximo. Questionando o antigamente tão certo. Tão cúmplice. Um silêncio indiferente. Não sei se áspero se desprovido de textura. De aromas. Um silêncio autista. Frio. Cómodo ou apaziguador, talvez. Não o sei. Um silêncio egoísta. Que corrói, alastrando como uma ferrugem metálica. Indiferente. Pela negação de uma simples conversa. Única que fosse. Pela falta de interesse. Um silêncio que não permite um telefonema sobre uma qualquer coisa banal. Um silêncio que não condiz com a imagem e por isso custa mais. Um silêncio que quebrei demasiadas vezes, sem resposta, para o tentar sacudir. Para o tentar salvar. Um silêncio que me faz também partir, cansado. Em silêncio também. Certo de tudo ter feito. Triste, ainda assim. Um silêncio de despedida. De adeus, essa palavra que pouco consumo. Que detesto. Tudo isso habita nesse silêncio. Tudo isso lhe preenche as frestas feridas. Tudo isso mora no teu silêncio.

2.29.2008

Adeus




Adeus, dissemos
E nada mais de então ficou
De asas quebradas
Foi a ave branca que voou
Voa lá alto, que eu morro, bem sei, sem voltar
Cantem as aves do monte qu'eu fui ver o mar.. .

Ai,
Não sei de mim;
Ai,
Não sinto nada..
Ai,
E nem,
Voltei.


Madredeus


Porque custam tanto alguns adeus ?

2.21.2008

Proximidade

Quero evitar ao máximo a proximidade. A entrega sem barreiras. A sensibilidade. Tal como quem anuncia que vai deixar de fumar, quero tornar pública essa decisão. E, se não for pedir demais, uma ASAE para me controlar, ao mínimo deslize.

1.16.2008

Special





Perdi-te? ou Perdeste-me?
Que importa…
Há uma vida normal. Lá fora.
À espreita.
Insuportavelmente normal.
À espreita
A chuva cai, corrida a vento.
A estrada continua escura e a chuva cai.
Miudinha. Corrida a vento.
Perdi-te? ou Perdeste-me?
Que importa…

12.25.2007

Dias

Há dias em que morremos um pouco. Um pouco mais rápido. Um pouco mais certos na incerteza. Um pouco mais. Dias em que se crava fundo o frio da decepção e se entranha o manto branco do desalento. Onde as forças se afundam e levitam memórias. Percorrendo, em segundos, uma vida que quase não se deu conta passar. Dias onde o relógio invisível se faz notar. Onde se deixa ir na corrente. Algures. Para longe de nós. Dias pálidos. Dias em que morremos. Um pouco mais.


O que me abate verdadeiramente é não conseguir estar à altura para esbater o sofrimento dos que me são mais chegados. Desculpa-me.

6.28.2007

Sorriso perdido

Ganham-se mais batalhas com o sorriso do que com a espada.

William Shakespear


Hoje perdi um sorriso
Voou para longe, assustado.
Afastar vagaroso
no horizonte, pesado

Foi para parte incerta.
Ferido
Talvez escondido
De pancada tão certa

1.15.2007

Miragem

"Devido ao facto da velocidade da luz ser superior à do som muitas pessoas parecem inteligentes até falarem"


Falou e tudo embaciou
Espelho de gelo
em pedaços se quebrou,
Calor? nem vê-lo

Há coisas que nem se pensam
outras que se sentem
Mentes que brilham
e miragens que mentem

10.26.2006

Pena

De todas as mágoas
dores, desilusões
fiz um disfarce,
uma máscara.

Para ver se lhes
perdia o rasto
afogadas, num carnaval
de Veneza.

Dei-lhe as
cores garridas
dum Monet,
rei do impressionismo.

Impressionou-me
vê-las, impermeáveis
no abrir de cauda
exposto, dum pavão

Que pena...

10.23.2006

O vento e a palavra

"Palavras leva-as o vento"



Por mais palavras que coleccionasse não se conseguia explicar. Por mais que existissem, que se inventassem eram manifestamente insuficientes.

As palavras padecem desta fraqueza, por mais precisas, minuciosas, poderosas, milimétricas, como que por uma maldição, não são fiéis, embaciam o espelho da alma do criador, reflectem a luz, não a deixando penetrar na profundeza desejada, evaporam sem molhar a pele. Traiem quem tanto as acarinha.

As palavras são, por vezes, prisioneiras de resposta, retidas. Outras, passeiam em pés descalços sobre conchas brancas, silenciosas, arrefecendo na espuma sem serem notadas. Arremeçadas violentamente, por vezes, ferem de morte quem as enviou com a melhor das intenções.

As palavras são meras articulações da linguagem, que na sua mais pura essencia é universal, transparente, musical aquando da presença um simples olhar.

Por tudo isso, há alturas onde aquece mais o vento na cara a uma fria palavra cara. Palavra!

10.21.2006

Desilusão

"Feliz do Homem que não espera nada, pois nunca terá desilusões"

Alexander Pope

Cravado num fundo
que não se sabia ter
despertam cansaços
e o corpo fraqueja

Como foi possível?
Distracção?
Premeditação?
Medo?
Indiferença?

Talvez um dia
fique nítida
a cor dum sangue
parado, reflectido na luz
que esmorece,
por ente a noite escura
da desilusão

10.11.2006

De azul em azul

"Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós"
Amado Nervo


O que me custa não é o fim.
Tudo tem um fim. E renasce, talvez.

Custa sim a partida, despida de memória
o esvaziar dos cestos
de imagens, cheiros, formas e sabores.

O esquecimento branco
silencioso,
de afectos, sentimentos, sorrisos.
Apagados.

Ausência de história
de passados cúmplices.
De melodias
Do mar, de azul em azul.

Será possível preservar tudo isso?
Não creio, apenas alguns “dejás-vus”.
Sátira ou arrependimento do criador
esse património não volta.
Nunca, nunca mais…



"Nunca mais este momento
será teu
lentamente há-de chegar
o fim da linha
enfim

Nunca mais o mesmo modo
o mesmo sol
e a noite pouco a pouco
de azul em azul

Nunca mais este momento voltará
Lentamente o vento,
o movimento, o mar,
o ar

Viajará esta noite rio a cima
e nunca mais o mesmo sol
o céu, a terra
Nunca mais"
Rádio Macau

9.14.2006

Message in a bottle

Ill send an s.o.s. to the world
I hope that someone gets my
Message in a bottle
Sting


"Desculpa, deixas-me só fazer esta chamada?"

Encurta distâncias mas retira-nos tempo. Para pensar, olhar em redor, escrever, conversar, estar. Tempo para absorver silêncios ou pintar um quadro com sentidos. Dá-nos uma fugaz segurança, tornando-nos sempre visíveis, disponíveis, submissos às vontades alheias. Em qualquer hora, em qualquer local, "onde você estiver está lá". À minima dúvida nunca se pode esperar. Tudo é urgente. Nunca foi tão fácil saciar curiosidades e acrescentar banalidades. Cada vez detesto mais o telefone.

Deixo, claro... Aguarda a minha "message in the bottle"

Assíduos do shaker

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