2.27.2013
Chorar [lágrimas azuis]
12.05.2009
A primeira vez

8.06.2009
Sinto muito
Apresentou-se detalhadamente, demasiadamente [no fundo é tão curto mas tão difícil apresentarmo-nos verdadeiramente] mas houve uma frase que ecoo sobre todas as outras. Uma frase que me levantou a orelha daquela cadeira desconfortável, como um cão meio adormecido entre dois mundos, fazendo-me encurtar a distância com aquele homem, que nunca vira mais gordo, e me falava de algo profundamente íntimo.
De tudo o resto pouco [ou nada] retive. Mas aquela frase estremeceu, fazendo parar o corpo à espera do trovão que se lhe seguiria, àquela luz cortante inicial. Àquele aviso: “o meu irmão faleceu num desastre de aviação” e mais tarde, no desfiar da conversa [já canídeo mais desperto], novamente, mas mais camuflado [a precisar de olfacto apurado], numa saudade infinita de infância, numa corrida inocente de jardim que ficou talvez por dar [espelhada num olhar], repleta de sorrisos interrompidos bruscamente por outra frase que logo lhe seguiu.
A dor de perder um irmão ou um filho é uma coisa que ninguém poderá alguma vez estar preparado, ou poderá explicar por palavras [estou certo disso], apenas talvez, se consiga sentir, muito diluída, muito funda, por uma ligeira expressão ou um olhar mais preso, mais calado.
Aquela frase ficou-me vários dias a trovejar, lembrando-me a infância, somando-se a outras, curiosamente, nos dias seguintes, como que premeditadamente arranjadas: “o teu irmão não é o mesmo que saiu de casa”; “quase não fala, parece revoltado”; “não é o mesmo” [continuava a trovejar].
Que nos afastou assim tanto? Em que momento ocorreu? Que muro se nos levantou? Porque me cansei de te procurar sem respostas? De te esperar? Porque é que as forças me abandonaram numa mágoa cálida e silenciosa?
Lembrei-me de ti, hoje, sabes? [às vezes lembro-me muito de ti, mas sinceramente já não estou tão certo se te lembras de mim]. Quando te liguei fiquei uns segundos calado [um tempo milimétrico que me pareceu infinito], à espera do que viria colado na tua voz, às tuas pausas, mas logo após as primeiras frases lembrei-me que afinal sempre existira o tal acidente de viação, de que não me apercebera, que te levou, mesmo aqui tão próximo, que não me permite resgatar-te, trazer-te de volta. Um acidente que me magoa pela indiferença e indisponibilidade e me deixa, às vezes, o tal olhar distante, preso a memórias.
Sinto muito [é bem diferente de “lamento”, estas duas palavras, próximas mas tão diferentes, como nós actualmente, e de facto sinto, muito] Sinto muito, mas também porque nunca o conseguirei pôr por palavras.
Para o meu irmão, algures, muito longe
5.05.2009
Incomoda(-me)
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4.11.2009
(Um) silêncio

Um silêncio lento. Assassino. Não sei se difícil se inconsciente. Um silêncio de mãos finas, frias, estrangulando, aos poucos. Esvaziando o ar. Um silêncio, outrora perceptível, mas que ultrapassou o prazo. A razoabilidade. Levantando dúvidas onde nunca existiram. Um silêncio branco que faz esquecer o que se gostou. O que se sentiu próximo. Questionando o antigamente tão certo. Tão cúmplice. Um silêncio indiferente. Não sei se áspero se desprovido de textura. De aromas. Um silêncio autista. Frio. Cómodo ou apaziguador, talvez. Não o sei. Um silêncio egoísta. Que corrói, alastrando como uma ferrugem metálica. Indiferente. Pela negação de uma simples conversa. Única que fosse. Pela falta de interesse. Um silêncio que não permite um telefonema sobre uma qualquer coisa banal. Um silêncio que não condiz com a imagem e por isso custa mais. Um silêncio que quebrei demasiadas vezes, sem resposta, para o tentar sacudir. Para o tentar salvar. Um silêncio que me faz também partir, cansado. Em silêncio também. Certo de tudo ter feito. Triste, ainda assim. Um silêncio de despedida. De adeus, essa palavra que pouco consumo. Que detesto. Tudo isso habita nesse silêncio. Tudo isso lhe preenche as frestas feridas. Tudo isso mora no teu silêncio.
2.29.2008
Adeus
Adeus, dissemos
E nada mais de então ficou
De asas quebradas
Foi a ave branca que voou
Voa lá alto, que eu morro, bem sei, sem voltar
Cantem as aves do monte qu'eu fui ver o mar.. .
Ai,
Não sei de mim;
Ai,
Não sinto nada..
Ai,
E nem,
Voltei.
Madredeus
Porque custam tanto alguns adeus ?
2.21.2008
1.16.2008
Special
12.25.2007
Dias

O que me abate verdadeiramente é não conseguir estar à altura para esbater o sofrimento dos que me são mais chegados. Desculpa-me.
6.28.2007
Sorriso perdido
1.15.2007
Miragem
10.26.2006
Pena
10.23.2006
O vento e a palavra

Por mais palavras que coleccionasse não se conseguia explicar. Por mais que existissem, que se inventassem eram manifestamente insuficientes.
As palavras padecem desta fraqueza, por mais precisas, minuciosas, poderosas, milimétricas, como que por uma maldição, não são fiéis, embaciam o espelho da alma do criador, reflectem a luz, não a deixando penetrar na profundeza desejada, evaporam sem molhar a pele. Traiem quem tanto as acarinha.
As palavras são, por vezes, prisioneiras de resposta, retidas. Outras, passeiam em pés descalços sobre conchas brancas, silenciosas, arrefecendo na espuma sem serem notadas. Arremeçadas violentamente, por vezes, ferem de morte quem as enviou com a melhor das intenções.
As palavras são meras articulações da linguagem, que na sua mais pura essencia é universal, transparente, musical aquando da presença um simples olhar.
Por tudo isso, há alturas onde aquece mais o vento na cara a uma fria palavra cara. Palavra!
10.21.2006
Desilusão
que não se sabia ter
despertam cansaços
e o corpo fraqueja
Como foi possível?
Distracção?
Premeditação?
Medo?
Indiferença?
Talvez um dia
fique nítida
a cor dum sangue
parado, reflectido na luz
que esmorece,
por ente a noite escura
da desilusão
10.11.2006
De azul em azul

O que me custa não é o fim.
Tudo tem um fim. E renasce, talvez.
Custa sim a partida, despida de memória
o esvaziar dos cestos
de imagens, cheiros, formas e sabores.
O esquecimento branco
silencioso,
de afectos, sentimentos, sorrisos.
Apagados.
Ausência de história
de passados cúmplices.
De melodias
Do mar, de azul em azul.
Será possível preservar tudo isso?
Não creio, apenas alguns “dejás-vus”.
Sátira ou arrependimento do criador
esse património não volta.
Nunca, nunca mais…
"Nunca mais este momento
será teu
lentamente há-de chegar
o fim da linha
enfim
Nunca mais o mesmo modo
o mesmo sol
e a noite pouco a pouco
de azul em azul
Nunca mais este momento voltará
Lentamente o vento,
o movimento, o mar,
o ar
e nunca mais o mesmo sol
o céu, a terra
Nunca mais"
9.14.2006
Message in a bottle

I hope that someone gets my
Message in a bottle
"Desculpa, deixas-me só fazer esta chamada?"
Encurta distâncias mas retira-nos tempo. Para pensar, olhar em redor, escrever, conversar, estar. Tempo para absorver silêncios ou pintar um quadro com sentidos. Dá-nos uma fugaz segurança, tornando-nos sempre visíveis, disponíveis, submissos às vontades alheias. Em qualquer hora, em qualquer local, "onde você estiver está lá". À minima dúvida nunca se pode esperar. Tudo é urgente. Nunca foi tão fácil saciar curiosidades e acrescentar banalidades. Cada vez detesto mais o telefone.
Deixo, claro... Aguarda a minha "message in the bottle"