5.27.2012

"Não" e o mundo ao contrário


Um menino sem abrigo, na rua e a minha filha a perguntar-me:
- Mãe, vamos levá-lo para casa?
E eu a dizer que não, que não é boa ideia, que ele não pode ir, porque tem uma família, uma casa. Porque não... E ela a insistir:
- Não vês que não faz sentido! Cabe lá em casa, no meu quarto, arranjamos espaço.
E eu a dizer que não. E aos poucos a aperceber-me da injustiça, das falsas desculpas, da contradição, das diferentes visões do mundo. Mundos diferentes. Estudamos muitos de nós, em média, mais de 10 anos para afinal nada saber, para questionarmos coisas tão óbvias, tão simples aos olhos de uma criança. 
Abracei a minha filha e tive vergonha de mim.


Ligeiramente ficcionado de uma entrevista a uma realizadora brasileira   
que infelizmente não consegui saber o nome

5.21.2012

Orange


Este estranho desencontro de ter o corpo num lugar e a alma em outro


Rosa Lobato Faria

5.20.2012

Your mouth


Your mouth will be always 
where my voice fall a sleep
to stretch the sin   
with a wisper

5.17.2012

Presídio


Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo 
Que dizer do pescoço, às vezes mármore, 
às vezes linho, lago, tronco de árvore, 
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...? 

E o ventre, inconsistente como o lodo?... 
E o morno gradeamento dos teus braços? 
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne: 
é também água, terra, vento, fogo... 

É sobretudo sombra à despedida; 
onda de pedra em cada reencontro; 
no parque da memória o fugidio 

vulto da Primavera em pleno Outono... 
Nem só de carne é feito este presídio, 
pois no teu corpo existe o mundo todo! 





David Mourão Ferreira

5.15.2012

Querer


Apaga a luz porque a luz gasta as pessoas.
Queima-lhes algo dócil e mais audível
Afasta-lhes uma espécie de mistério esquecido
Um mar ora calmo, ora a bater nos rochedos


Apaga a luz e deixa-a ficar assim, 
a esvoaçar do mundo
Tudo calado. Tudo mais redondo
Tudo falível aos juízos 
à geometria monótona das coisas. 


Ouves-lhes a voz como chuva?


Apaga a luz porque o tempo de nada vale
Porque aqui, agora 
os teus olhos são o que a minha mão quiser 

5.12.2012

Cedo demais


Noite, Bernardo Sassetti

Partiste cedo demais. Tu que me fazias sempre partir, algures por ai - num palco, num filme, numa música ou fotografia que se prolongavam sempre para lá do seu tempo físico, num romantismo trágico que se colava à pele, luminoso. Partiste cedo demais e vais deixar-me saudades.

5.04.2012

Tempo[s]


Percebemos que estamos com falta de tempo quando somos os últimos a entrar no coliseu, super atrasados para o concerto dos Sétima Legião.

5.03.2012

Lazyholic Reminders











Austin, Texas-based photographer and illustrator started the site to help cure her laziness. The Reminders photo series depicts everyday scenarios with various gentle suggestions spelled out in fun multicolored letters. How could you not want to “Call Your Folks” or “Eat More Fiber” after viewing these?

Mr. cab driver





... any place, far away

5.01.2012

Sayid, o pardal libanês


Atira-te Sayid porque o mundo é pequeno demais para quem já percorreu os céus. Esgota-se depressa nas palavras repetidas que se despem como pétalas às imagens vividas e a luz começa-lhes a desvanecer, mais pesada, assentando fria nas pedras antigas. Tu Sayid cujo canto já pouco embala o vento que conheces como irmão. Foste o que quiseste, nada mais. Fizeste os dias curtos e os anos pequenos às luas redondas das noites quentes. Seguiste o teu trilho, os teus lugares, os telhados e janelas de quem quiseste espreitar. Nada pediste. E agora Sayid sentes-te preso numa gaiola, eu sei. Soube no teu olhar ter chegado a tua hora. Resta-me agradecer-te as visitas e a despedida desprendida. Adeus amigo Sayid. Atira-te, mas não te deixes cair.

Assíduos do shaker

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