4.30.2007

Violino vermelho

Sempre que era tocado produzia todos os choros do mundo.
Nas suas cordas viviam punhais que cravejavam a pele, bem fundo. E o tempo parava sempre para o ouvir. Incomodado com tal estremecer.

A sua forma tinha as curvas femininas e os penhascos para o fogo dos infernos, numa madeira exótica que apetecia tocar, a medo, como um felino que atrai a presa.
A sua sombra era estranha cobrindo pontos impossíveis de um manto que parecia sussurrar ao ouvido.

Das suas frestas emanava um calor tocante, comestível, com cheiro a castanhas assadas.
Da sua cor amavam-se fogo e sangue, em louca paixão. Nninguém ficava indiferente às suas vibrações vertiginosas de baleia a embater violentamente no mar. Beleza crua e pura assombração.

Nunca se soube a sua origem, dono ou idade. Apenas uma certeza. Aquele violino vermelho continha todos os choros do mundo.

4.28.2007

Devagar

De todos os brilhos de luz
Apenas a lua me seduz
Na sua invisível dança
Que no mar embala ou descansa

Estendendo seus braços marinhos
Para trocarmos carinhos.
Segredos flutuantes
Amantes por instantes

Quem nos ama, mais de nós conhece
Sempre. Não esquece
E eu navego teus traços com o olhar
Até te apagares, no mar. Devagar

4.27.2007

Caçador de sois

Pelo céu as cavalitas,
Escondi nos teus caracois,
A estrela mais bonita, que eu já vi

Eu cresci com um encanto,
De ser caçador de sois,
Eu já corri tanto, tanto para ti

Fui um principe encantado
Montado nos teus joelhos,
Um eterno enamorado, a valer

Lancelot de algibeira,
Mas segui os teus conselhos
Para voltar a tua beira
E ser o que eu quiser

Os teus olhos foram esperança
Os meus olhos girassois
Fomos onde a vista alcança da nossa janela

Já deixei de ser criança e tu dormes á lareira
Ainda sinto a minha estrela nos teus caracóis

Os teus olhos foram esperança
Os meus olhos girassois
Fomos onde a vista alcança da nossa janela


Ala dos namorados

4.26.2007

Cultura

"Quem tem imaginação, mas não tem cultura, possui asas, mas não tem pés"

Joseph Joubert

4.25.2007

Estado de direito

Torto estado, o estado de direito...
Deixando-nos em estado de choque com tal estado de impunidade, prepotência, injustiça. Como pode um país evoluir, atrair riqueza, reter os melhores, ter futuro, com tal nenúfar que nos vai sufocando.

Que ética jurista é esta onde os próprios se refugiam no sistema, sobrevalorizando técnica a conteúdo. Perdendo-se em labirintos processuais. Fazendo Everestes de papel e acorrentando o tempo a um peso, atirando ao mar.

Que corporativismo é este que não olha para países vizinhos, que não se envergonha em ter mais juízes por habitante e mais presos preventivos que toda a Europa. Que dorme descansado com bandos de processos a morrer. Fechados. Que coabita com justos pagando por pecadores impunes.

Que estado é este, sem visão ou ambição. Que não investe no vital e estratégico, que não ousa ou arrisca. Que deixa sair os melhores. Que não legisla, apenas distrai em oratória e retórica, tantas vezes apenas em benefício próprio.

E o povo? Que povo é este que se conforma com uma ignorância atroz para não dizer mais. No Egipto, as bibliotecas eram chamadas “Tesouro dos remédios da alma”.Era nelas que se curava a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras.

Excepções, felizmente existem, cada vez menos, é facto. Mas algumas resistem, contra tudo e contra todos. Bem hajam os destemidos e sonhadores. Que tenham forças para contagiar muitos mais.

Educação e Justiça as grandes enfermidades deste país, torto. Torto estado, o estado de direito que apesar de tudo é livre, para dizer o que nos vai na alma...

4.23.2007

Rio

Hoje sinto-me rio! Tronco azul...
como árvore que parece ter tombado na Terra
com ramos, braços, afluentes...
que trazem em si o sabor da serra....
o sentir das gentes....
o cheiro das flores.


Sinto-me rio na busca dum mar,
azul, gémeo do céu
árvore que não quis tombar
por desistir, mas sim, que se fez rio
para que a cada passo do caminho
possa desaguar em ti...meu sonhar!


M.S.

Escrito em ligadura, gentilmente desenrolada do sarcófago para o mundo

4.22.2007

Personal Jesus




Your own personal jesus
Someone to hear your prayers
Someone who cares
Your own personal jesus
Someone to hear your prayers
Someone whos there

Feeling unknown
And youre all alone
Flesh and bone
By the telephone
Lift up the receiver
Ill make you a believer

Take second best
Put me to the test
Things on your chest
You need to confess
I will deliver
You know Im a forgiver

Reach out and touch faith
Reach out and touch faith

Your own personal jesus...

Feeling unknown
And youre all alone
Flesh and bone
By the telephone
Lift up the receiver
Ill make you a believer

I will deliver
You know Im a forgiver

Reach out and touch faith
Your own personal jesus
Reach out and touch faith


Depeche Mode

4.21.2007

The scientist



"Há uma coisa que é essencial a uma grande experiência: Uma natureza experimentadora"


Walter Bageot

4.20.2007

Vestígios

Há coisas que não se percebem.
Não se explicam. Não se entendem.
Não têm lógica ou sentido.
Não se definem no desconhecido.

Não mostram passado nem futuro.
Não se revelam no escuro.
Não se percebem. Apenas se sentem.
Tão intensamente, que não mentem.

Sempre admirei seu subtil florir
Respeitando seus dilemas por descobrir.
Nascem numa árvore milenar
Soltando vestígios ao olhar.

Não as negue com a razão.
Para que serve o coração?

4.19.2007

Vela que se apaga na escuridão

Morrendo aos poucos. Deitado. Consciente. Sentia o peso do corpo como nunca sentira. Imóvel de tão pesado. Como que moldado ao chão num encaixe perfeito.
Esvaziando lentamente, como um aquário, vertendo água. Revelando a alma, lá no fundo. Outrora mais resguardada. Quase escondida. Agora, na crescente leveza, sentia-se numa nitidez nunca almejada.
Sem frio. Sem calor. Até à ausência de sentir do corpo. Dissipando o cansaço em redor.
Estivera tanto tempo preso neste corpo. Pensava. E agora, ao elevar-se como um balão de ar quente, sentia uma paz libertadora que não imaginara possível.
Não sabia o destino da sua derradeira viagem. Ele que as programara ao mais ínfimo detalhe em vida. Mas tal não o assustava. Apenas o preocupava o esquecimento. O perder a memória de momentos, pessoas, lugares que guardara ao longo do tempo, e que faziam parte de si.
Não sabia o que o esperava. Apenas contava com a chama das velas que perdiam, também, lentamente a cera, na escuridão.

4.17.2007

Mandamentos mas impedimentos

1. Oferecer uma viagem e estadia completa, em hotel de charme, à Patagónia durante pelo menos dois meses ao meu inquilino vitalício. Só ida.

2. Participar na America’s Cup e sentir o tempo a voar de forma diferente

3. Trocar o virtuosismo político nacional pelo pior dos defeitos do Churchill

4. Conseguir terminar um livro do Saramago antes de o ouvir falar mal de Portugal

5. Convencer-me que o facto de estarmos 10 anos atrasados em relação à Europa é excelente. Podemos fazer tudo o que os outros fizeram bem melhor.

6. Descobrir um Consultor disposto a ser remunerado apenas pelo resultado das suas ideias

7. Conseguir falar tudo apenas com música e olhar

8. Sermos finalmente invadidos pelos Marcianos

9. Falar com os Deuses Gregos e explicar que com apenas um não nos safamos

10. Trocar o telemóvel por um pombo correio.

4.16.2007

Azul céu



O que é o bem? O que é o mal?
O certo? O errado?
O justo e o injusto?
O preto e o branco?

Nada é linear e são tão ténues, por vezes, as fronteiras.
As perspectivas mudam.
Do indivíduo para o colectivo.
No tempo. No espaço.

Nunca conheci um azul que definisse o céu
Mas sempre o preferi ao cinzento da certeza absoluta

4.14.2007

Lilith

Criada ao por do sol, cedo deixaste os dias para seres lua soberana da noite. Partiste em vento indomado, deixando um Adão sem costela, sem sono, sem maçã.

Com uma Eva tão diferente de ti como seria este mundo masculino se tivesses ficado? Melhor, em igualdade, em falsos pudores, em parece que é mas não é.

Feita de sangue e saliva, teu pecado foi seres directa e implacável. Demónio sensual, coruja nocturna, serpente do fruto proibido, na tua misteriosa fatalidade acompanhas-nos sempre, discreta, no lado negro da lua.


4.13.2007

Dahdahwat

Quem és tu que espreitas escondido na folhagem, camuflado na razão, para te mostrares nas místicas formas de animal? Que te prende a este mundo? Que outros queres revelar e não te deixam? Nas tuas viagens fica sempre esse olhar e uma pequena pegada para mostrar que não foi um simples sonho.


4.12.2007

Inverno





Era tarde, a noite já dormia no sedoso lençol do silêncio, que tanto distapa aos dias agitados. Da janela não se avistava vivalma: automóveis, pessoas ou mesmo gatos pardos não figuravam no quadro de Van Gogh das estrelas reflectidas no rio que nunca dorme.
Uma metereologia de pensamentos faziam questão de o visitar, ora em lufandas quentes, ora em chuva miudinha, caindo lentamente como folhas. Das quatro estações, no entanto, era o inverno que mais sentia no sabor da sua bebida.

4.10.2007

Análise

"Aquele que se analisou a si mesmo, está deveras adiantado no conhecimento dos outros"

Denis Diderot

4.09.2007

A sua vida dava um filme

Consta que nasceu em cinema mudo, pela surpresa causada em seus pais. O que fora um simples “kiss is just a kiss” acabara por se transformar num “mulheres à beira de um ataque de nervos” entre a mãe jovem e avó preocupada, naquela pobre Polónia rural. Mas logo encontrou argumentos para ser tornar na “vida é bela” de toda a família.

Cresceu cedo, com a tragédia da guerra, que lhe contou o “era uma vez na América” e o fez ir viver com um tio. Era o terror das professoras pois fugia pela “janela indiscreta” para passar as tardes no “cinema paraíso”. Vivia numa acção permanente, sempre em suspense, não fossem as boas notas piorarem, deixando o seu tio descobrir a trama. Como não era nenhum “ilusionista” foi descoberto, claro está, ganhando um óscar para a melhor sova. No entanto, rapidamente “tudo o vento levou” e o tio foi forçado a perceber que não existiam “balas sobre a Broadway” que travassem tal “crash” pela sétima arte.

Conheceu várias “poderosas afrodites” ao longo da sua vida e passou por várias “guerras das rosas” entre “quatro casamentos e funerais”. Mas foi precisamente “o nome da rosa” que mais o fez voar “sob as asas do desejo”.

Ao longo da sua vida de “lua de mel, lua de fel” sempre soubera introduzir as legendas mais correctas para todas as cenas. Sempre fora “paciente inglês” e usara “sensibilidade e bom senso”. Sempre buscara força no “clube dos poetas mortos” e tivera na “comédia divina” o seu maior dom e desafio. “Feios, porcos e maus” nunca o impediram de lhes conquistar um sorriso.

Apreciou todos os momentos como um “Dracula” envolto em “morangos silvestres”: intensos, saborosos, cheios de “perfume”, ora actor, ora encenador, envelhecendo o “mundo a seus pés”, num desdobrar de DNA gravado em filme de 5mm.


4.08.2007

Phone call

Naquela chamada troquei a voz pela tua. Percorri as feições do teu corpo, a textura da porta fechada, o vazio do silêncio, destapado pela tua respiração.
Percorri a cama, os livros espalhados, a cadeira de palha com vista para o mar. O calor do sol a bater pela janela, o cheiro a café ao acordar. Percorri também o brilho dos nossos risos, o quadro do Munch, o cantar das cigarras pela noite dentro, a brisa na cara ao acender um cigarro.
Percorri tudo isso, no escuro da distância, tacteando território familiar como um marinheiro experiente perdido no mar.
Naquela chamada parti para sempre e percorri tudo. Apenas mais uma vez.

4.06.2007

Perfume de mulher

Mulher-Poesia
que deixa no meu corpo bocados de
poema

Mulher-Criança
que desce à minha infância
e me traz adulta

Mulher-Inteira
repartida no meu ser

Mulher-Absoluta
Fonte da minha origem


Manuela Amaral


4.05.2007

Where is my mind





Ooooooh - stop
With your feet in the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
But there's nothing in it
And you'll ask yourself

Where is my mind [3x]

Way out in the water
See it swimmin'

I was swimmin' in the Carribean
Animals were hiding behind the rocks
Except the little fish
But they told me, he swears
Tryin' to talk to me to me to me

Where is my mind [3x]

Way out in the water
See it swimmin'

With your feet in the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
If there's nothing in it
And you'll ask yourself

Where is my mind [3x]

Ooooh
With your feet in the air and your head on the ground
Ooooh
Try this trick and spin it, yeah
Ooooh
Ooooh


Pixies

4.04.2007

Ondas

Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro


Sophia de Mello Breyner Andersen


4.03.2007

O buraco da lua


"Espero que a saída seja alegre e nunca mais voltar"

Frida Kalo


Quando eu morrer
vou escapar deste mundo
pelo buraco da lua
Despedindo-me a olhar o mar
como nas televisões antigas
Numa pequena bola branca
Num apagar de botão

4.02.2007

À beira mar

Que o mar se deite a teu lado
afagando as ondas do teu cabelo
sussurrando em búzio
um adeus

Que te envolva o corpo
macio de concha polida
deixando em sal
fragmentos de memória

Que te traga a paz
das profundezas recônditas
afastando a força
das algas que nos uniram

Que te arrepie a pele
só mais uma vez
num suspiro
agora seco pelo sol

Que te traga tudo isso
mas não leve
na maré
essa imagem à beira mar

Assíduos do shaker

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