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11.24.2009

Devagar

o estomago ganha peso e afunda-se. vejo-te dobrado sobre esse caos de pedra, órgão sensível a angústia. observo-te como a um duplo lado a lado no mesmo auto-retrato. não comeste nada desde a manhã, cruzas os climas entre o jejum e a náusea. conforto-te sem que me ouças: uma vida longa para quem nunca se descobre. como uma maldição que se cumpre devagar.


Tiago Araújo

10.11.2008

O inquilino III

Quer-me parecer que és Árabe. Senti-o no teu olhar fixo e desconcertante. Negro. Profundo. Como uma lâmina brilhante. Intransponível. Pronta a cortar. Um eclipse que não permite olhar muito tempo. Sem danos. Sem marcas.

Voltas-te. Invisível, como sempre. Para te revelares repentinamente. Quando menos se espera. Belo. Altivo. Com passos estudados. Duma firmeza milimétrica.

A cada tua visita, batalhas inflamam. Despertadas talvez dos tempos Persas. Soltando pontas dum emaranhado indecifrável. Frases que boião à deriva, envoltas numa música estranha. Quase imperceptível. Distante mas ao mesmo tempo tão próxima. Onde uma mensagem murmura. Dança, descalça. Saltando de uma palavra para uma nota. De um tom improvável para um parágrafo indesejado. Revelando apenas pequenos fragmentos, soltos, do seu segredo. Como um incenso que perdura, na memória, muito para além de apagado.

Que me queres tu? Que me observas imóvel, sem nada dizer... Para, quando me apercebo da tua presença, partires. Sem tempo para questões ou respostas, apenas deixando este mar revolto. Imenso. Intraquilo. Inquieto.

9.02.2008

O Fim

Ontem julguei ter visto a luz
Nas horas brancas conduzi o despertar
E fui subindo a escada
Que me separava do meu fim

Abandonei quem já passou
Fechei os olhos e previ o que encontrei
E foi nesta viagem
Que percebi que não estou só


Jorge Palma



Gostava de poder lembrar o embate. Em que momento ocorrera? Esse pequeno fragmento de pó. Invisível a olhos nus. Que estalara, para sempre, esse seu vidro de mundo. Ecoando uma sede de doença. Que lhe ancorara raízes profundas. Gretando o fundo de seu lago interior. Atraiçoando peixes coloridos e anémonas tranquilas. Fragmentos soltos de algo outrora seu ou talvez nunca alcançado. Tornando o ar irrespirável. Frágil. Etéreo.

Caminhava pelo abismo a galope. Sentia-o no apagar das luzes. Desprendendo-se de tudo ao redor. Ouvia o som do vidro em riscos de instáveis direcções. Serpentes vivas. Famintas. Gretando gemidos de gelo. Pesar? Chamamento? Não sabia, ao certo, mas o caminho parecia chegar ao fim. Finalmente ao fim.

11.30.2007

O inquilino II

Ali estava diante de mim. Imponente. Altivo. Marcando a sua distância volátil numa imobilidade de estátua. Apenas marcava a sua presença no seu respirar ofegante daquele final de tarde fria.

Parecia calmo. Mostrando-se numa espécie de lago gelado. Reflectindo-se de tudo. Protegendo a sua aparição. Frágil. Pronto a quebrar a qualquer momento.

Fitava-me com os seus olhos enormes de noite sem fundo. Infinita. Absorvente. Misteriosa. Guardiões de outros mundos. Observámo-nos mutuamente numa claridade venenosa de desconfiança e respeito. Numa aproximação ténue a testar terreno.

Desapareceu num raio de luz nunca visto. Intenso. Deixando a percepção da fuga no voar dos pássaros e num trovão de relincho cortante que perdurou até ao cair da noite. Choveu e em cada gota espessa senti a sua presença.

8.09.2007

In my shire

Que queres de mim? Quem és que me olhas camuflado? Na densa floresta de meu ser. Pressinto-te por entre a folhagem. No estalar de um ramo ou folha seca. Num súbito parar do vento. Num arrefecer nocturno. Repentino. Naquele silêncio impossível. Como que a observar. Estático. Sombra imponente a pairar. Não sei quem és, nem porque partes. Veloz, sem uma palavra.

2.11.2007

O inquilino

“Protect me from what I want... Protect me protect me”

Placebo



Algo mora em mim. Não sei quando nasceu, como apareceu ou o que deseja, mas instalou-se e ficou. Não conheço o meu inquilino pessoalmente. Não sei se é homem ou animal, masculino ou feminino, anjo ou demónio. Se o conhecesse não sei se lhe apertaria a mão ou colocaria as duas à volta do seu pescoço.

Não consegui ainda perceber o que é ou em que parte habita. Para ser sincero, só muito recentemente tive a certeza da sua existência. Podia ser uma miragem, um sonho, uma impressão no ouvido ou arrepio na pele. Mas quase apanhei o malvado um destes dias. Devia estar mais sonolento, quem sabe.

O meu inquilino é um cavalo alado, de cor branca invisível. É terrível e não dá descanso. É capaz do mais belo ao aterrador. Tem o prazer maquiavélico de dar ideias e comandar meus ímpetos. Faz olhar o insignificante pormenor, sentir o que nunca existiu, sonhar acordado num viajar constante. Habitua a desejar impossíveis ou a absorver pequenos nadas com que se alimenta.

O meu inquilino surge em relâmpago para sair a galope. Não tem sela, dorme pouco e não paga renda.

12.20.2006

Walk on

Walk on, walk on
What you got, they can't steal it
No, they can't even feel it
Walk on, walk on
Stay safe tonight
U2


Não sei para onde caminho mas o que me persegue é um nevoeiro sinistro, que tem tanto de mágico como vertigem. Não é deste mundo nem sei quando desaguou. Certo é que ficou.

9.27.2006

Um cavalo chamado noite

Who's gonna ride your wild horses?
Who's gonna drown in your blue sea?
Who's gonna fall at the foot of thee?

Who's gonna ride your wild horses?
Who's gonna drown in your blue sea?
Who's gonna taste your salt water kisses?

Who's gonna take the place of me?
U2


Puro sangue, negro, a galopar
selvagem, cobre o caminho
de estrelas, sombras, silêncio e luar,
assentando seu manto escuro de linho.

A sua crina arrasta uma brisa fria,
e seus cascos acordam criaturas
numa tranquila melodia
que aproxima Deuses e bravuras.

Montado em ti, cavalo selvagem
sonho e desejo andam de mãos dadas. Tormento.
Sempre em viajem
na busca de infinito e alento.

Também tu tens um cavalo selvagem
que travou cedo, sem afoite.
Em mim, fica a força das águas na barragem
e este cavalo que dá pelo nome de... Noite

Assíduos do shaker

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