5.16.2011

A vida

A vida é um suceder de acidentes, uns atrás dos outros. sem os controlares. e tu não percebes nada. tu nunca percebes nada. mas também ninguém disse que a vida é para ser percebida. é apenas para ser vivida, assim. sentida, mordida, respirada ou chorada até às entranhas, mesmo sem a perceber. uma vida apenas é manifestamente insuficiente para a poder perceber. e tu nunca percebes nada. tu nunca percebes nada. chegas, tantas vezes, a evitar um abismo sem sequer o vislumbrar ou a tocar no destino como se ele estivesse ali, escrito, a estender-te a mão. e tu dando-lhe a tua, sem perceber nada. tu sem nunca perceber nada de nada. e quando, avançando na idade, te achas quase quase capaz de a perceber um pouco melhor, estás talvez apenas conformado sem o admitir. até que, finalmente, um acidente te colha de frente. mesmo em cheio. toma! pum! e com ele, se a tiveres vivido bem, num rebobinar de longos segundos brancos, essa sensação estranha de ter valido a pena chumbar no exame sem nunca a ter copiado pelo colega do lado.

5.03.2011

A palavra mais simples

A água quente cai com o mesmo barulho que a água fria e a sombra de todas as cores esconde-se num mesmo eco trémulo e vagaroso, que afugenta a matéria do olhar dando-lhe voz. Diluí dos objectos uma certa ferrugem macia, invisível talvez de improvável. Quase impossível, de tão distante do toque mas de passos tão chegados.

Os sussurros da noite são sempre um mistério indesvendável, assim como as tuas mãos que resgatam o calor do sol, aquecendo mais a alma do que a própria pele. Não sei nada para além do que sinto. Será muito ou pouco? Não sei. As crianças é que têm sempre a razão, até porque ela só nasceu adulta para tudo estragar.

Ando tantas vezes, assim, entretido à conversa com o silêncio, fazendo nascer palavras no ventre, que gatinham pelo seu próprio pé até à boca, até não se poderem mais suster. Até perderem o pé no meu corpo e nadarem, livres, para ti. Deixo-te, desta vez uma, colada na saliva de um beijo, ao ouvido. A que tu já sabes de tanto ta dizer de tantas formas. A palavra mais simples mas que apenas a ti te pertence.

5.02.2011

Memória

Sê dono apenas do que podes transportar contigo;
Conhece línguas, conhece países, conhece pessoas.
Deixa que a tua memória seja o teu saco de viagem.


Alexander Soljenitsyn

Assíduos do shaker

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