9.28.2006

Palma da mão


Acordei com a dupla felicidade de o futuro não estar escrito na palma da mão e de uma simples folha branca e uma caneta terem o poder de o alterar.


É que hoje acordei e lembrei-me
que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é feita de papel
Nela te pinto nua
numa chama minha e tua.

Toranja

9.27.2006

Um cavalo chamado noite

Who's gonna ride your wild horses?
Who's gonna drown in your blue sea?
Who's gonna fall at the foot of thee?

Who's gonna ride your wild horses?
Who's gonna drown in your blue sea?
Who's gonna taste your salt water kisses?

Who's gonna take the place of me?
U2


Puro sangue, negro, a galopar
selvagem, cobre o caminho
de estrelas, sombras, silêncio e luar,
assentando seu manto escuro de linho.

A sua crina arrasta uma brisa fria,
e seus cascos acordam criaturas
numa tranquila melodia
que aproxima Deuses e bravuras.

Montado em ti, cavalo selvagem
sonho e desejo andam de mãos dadas. Tormento.
Sempre em viajem
na busca de infinito e alento.

Também tu tens um cavalo selvagem
que travou cedo, sem afoite.
Em mim, fica a força das águas na barragem
e este cavalo que dá pelo nome de... Noite

9.26.2006

A música das tuas palavras

Hoje não me apetece escrever.
As palavras, velhas companheiras, estão roucas, afónicas.
Não dizem nada. Perderam-se, no teu caminho. Não te tocam.
Poderia escrever, música, talvez.
Mas a clave de sol está também encoberta.
Encoberta pelo teu silêncio.
Deixarei apenas um pássaro, pousado na pauta ou nas linhas.
Tanto faz.
Que voe bem alto e cante.
E ao cantar, te solte uma palavra.

9.25.2006

Neverland

“Some guys see things like they are and say why? I see things that never were and say why not?”


Nunca; Palavra que sempre detestei e fiz questão de abolir do meu dicionário. É derrotista por natureza, asfixia o sonho, "do contra" diria, desmancha prazeres.

Terra; Onde tudo nasce e morre. O nome do planeta, raizes das origens, saudades do que chamamos casa. Sempre gostei de sentir um punhado a escorrer pela mão, ao vento, o seu cheiro intenso, às primeiras gotas de chuva, a fertilidade da semente se vir a transformar num ébano gigante.

Neverland; Lugar desconhecido. Mistério só desvendado por alguns, com dicionários sem a "dita palavra", e para quem a terra é curta e o mar pequeno. Lugar sem idade, onde Homens se misturam com Deuses, fome com fogo, cansaço com jardins de espuma, olhares com universo.

Talvez um dia, também nós, aí cruzemos olhares. Depois de enterrares o nunca com a terra fecunda que sei também em ti existir.

"Never say never again"... at least, in Neverland...

9.24.2006

Corrida no tempo

"Time is a train makes de future the past"

U2


Passei toda a manhã a correr. A ponte, imagina… Como a que pediste para retirar entre nós, para nos dificultar o caminho. Mas não sei se somos caminhantes ou corrente do rio, que tudo percorre e arrasta.

Queria transpirar, libertar pelos poros todo o desejo que habitava no meu corpo, transformar a tua imagem em vapor de água, cansar-me até à exaustão, lutar, esquecer-me de ti. Era esse o meu propósito, não os quilómetros que tinha pela frente.

Coloquei os “phonos”, com música bem alta, e comecei a correr. Apesar da multidão, entrei noutra dimensão, outro mundo, outro tempo. Tenho essa faceta. Abro uma porta e encontro outros locais, ficando como que invisível. Um condor planando no alto, ao sabor do vento, olhando em redor o mundo na perspectiva de não lhe pertencer. Não sei como nem quando isso começou, nem lhe reconheço virtude ou tormento, mas tenho esses momentos.

Corria, e a água espelhada do rio reflectia o céu, e com ele, a nuvem que guardara para ti. Uma nuvem com tanto para contar, para descobrir, para crescer. Uma nuvem com lagos para nos banharmos ao luar. Um novo alfabeto para decifrar. Um mundo nosso, sem regras, resistências, dúvidas ou razões. Pena que o céu esteja mais denso e encoberto.

Apesar da meta da manhã já ter passado, continuarei a correr, pois a vida não é mais que uma corrida contra o tempo. Correrei por este e por outros mundos, só meus, só nossos.

Por que caminhos? Direcções? Não sei…

9.22.2006

Gotas de luar

Se na palma da minha mão está a nossa sina. Que viste tu, mais além, do calor do seu toque no teu peito?


Se eu pudesse roubar
as gotas de luar
que vi brilhar
nos olhos teus

Guardava aquele encanto
para enfeitar meu pranto
na hora do adeus
Sei que muito breve
tu irás me esquecer

Eu sei que vou sofrer
por culpa da minha paixão
eu devia te deixar
mas vou continuar
para castigar
meu pobre coração
Marisa Monte

9.21.2006

Laços e folhos


Laço: do Lat. *laceu por laqueu; s. m. laçada, nó que se desata facilmente, armadilha, traição, aliança, vínculo. Como vês até nas palavras não há verdades e certezas absolutas.


Folhos aos molhos.
Laços, mas escassos.
Olhos nos olhos
Espasmos, abraços.

9.20.2006

Chama

"Os teus olhos são cor de pólvora e o teu cabelo é o rastilho"

Jorge Palma


Chama. Uma chama que chama. Acho que é isso.
Invisível, surge ténue, de soslaio, mas logo inflama quente, incendiando em redor.
De chama a labareda, de incêndio a vulcão é fósforo a riscar o meu olhar.
É inutil resistir. Incandescente não há àgua no mundo para a apagar.
O fogo nao pensa. Consome, devora, sem pressa ou razão. Nada o pode deter.
Antes? Depois? São apenas meras testemunhas da sua passagem.
Como controlar um fenómeno, se quando fechas os olhos, estalam cavacas e se dissipa o braseiro da chama, que também chama por mim.

9.19.2006

Café em Coimbra

"A realidade é a cores mas o preto e branco é mais realista"

Wim Wenders

O dia acordou cedo. E a sede do descobrir reclama um café.
Escuro, forte, amargo ou doce, conforme os dias.
Mas sempre o aroma intenso e o ritual da dança dos dedos sobre as palavras.
Um cigarro que se fuma, pausadamente, entre os pensamentos.
O olhar que se prende a uma fugaz banalidade, na rua ainda despida.
A sua cor é a dos estudantes, mas branco é o veleiro dos seus sonhos.
Saudades e tristezas vêm à tona, de quando em vez, como golfinhos a respirar, no travo de cada gole. Mas logo a gargalhada de criança, voa alto e aquece o companheiro de mesa.
Acabou o café, o jornal, a conversa. Coimbra tem mais encanto na hora da despedida.

Para a Joana nunca dizer que não a conheço.

9.18.2006

Lilás

Não tinha percebido. Mas era, de facto, lilás o teu aroma.
O vermelho fogo estava presente, ardendo ao fechar das pálpebras, mas logo misturado com um azul marinho, fresco, salgado, que afogava num som de espuma a morrer na praia.
Volátil aroma, flutua ao vento, e feliz de quem consiga guarda-lo apenas com a palavra. Lilás.

9.17.2006

A fada

"Seek the wisdom of ages, but look at the world though the eyes of a child". Para a menina que me desviou o olhar e me lembrou os contos de fadas...


Branca.
Descalça.
Pé ante pé tocava o chão
como gotas de orvalho.

E o seu sorriso
de dentes de leite,
ofuscava
de tanta luz.

A sua dança
era como a brisa.
Passava
e fazia festas.

Sardas estreladas
Olhos de infinito
Inocência imaculada
de amendoeiras em flor.

Neve
Lua
Branca
Fada.

9.14.2006

Message in a bottle

Ill send an s.o.s. to the world
I hope that someone gets my
Message in a bottle
Sting


"Desculpa, deixas-me só fazer esta chamada?"

Encurta distâncias mas retira-nos tempo. Para pensar, olhar em redor, escrever, conversar, estar. Tempo para absorver silêncios ou pintar um quadro com sentidos. Dá-nos uma fugaz segurança, tornando-nos sempre visíveis, disponíveis, submissos às vontades alheias. Em qualquer hora, em qualquer local, "onde você estiver está lá". À minima dúvida nunca se pode esperar. Tudo é urgente. Nunca foi tão fácil saciar curiosidades e acrescentar banalidades. Cada vez detesto mais o telefone.

Deixo, claro... Aguarda a minha "message in the bottle"

9.13.2006

Veneza

"Que música serias se não fosses água?"

Eugénio de Andrade



Hoje veio-me à cabeça Veneza na tua voz. Sabias?
Flutuo como uma gôndola com a tua voz, pois é a sonoridade tranquila das águas. Mas na tua voz habita também a corrente mais forte que me faz perder o pé. Ainda bem que aprendi a nadar.

9.12.2006

Dieta


Fiz uma dieta de ti.
Cortei em pensamentos,
recordações,
sonhos, cheiros
e sabores.
Resisti até
às venenosas maldades
adormecidas
à espera de se libertarem.
E sabes que mais?
Em sete dias...
... perdi uma semana.

Bem vinda. Doce tentação!

Home


"Quando Deus quer enlouquecer alguém satisfaz todos os seus desejos". Não acredito em Deus, mas passarei a ouvir melhor os seus conselhos no regresso a casa.

God gave me travelling shoes,
God gave me the wanderer's eye,
God gave few gold coins to help me to the other side.
He turned around and said - be careful how the small things grow,
God gives me travelling shoes,
And I know that it is time to go.
Home,
Home,
Home.

Simply Minds

9.10.2006

As palavras


Obedecem-ne agora muito menos,
as palavras. A propósito
de nada resmungam, não fazem
caso do que lhes digo,
não respeitam a minha idade.
Provavelmente fartaram-se da rédea,
não me perdoam
a mão rigorosa, a indiferença
pelo fogo-de-artifício.
Eu gosto delas, nunca tive outra
paixão, e elas durante muitos anos
também gostaram de mim: dançavam
à minha roda quando as encontrava.
Com elas fazia o lume,
sustentava os meus dias, mas agora
estão ariscas, escapam-se por entre
as mãos, arreganham os dentes
se tento retê-las. Ou será que
já só procuro as mais encabritadas?


Eugénio de Andrade

Grandes momentos


Afinal os Romanos eram como eu: amavam os lugares onde a grandeza e a solidão andam de mãos dadas.

Eugénio de Andrade


A grandeza dos grandes momentos sempre me trouxeram alguma solidão. É nela que bebo o sabor da memória e respiro os aromas das novas viagens.

9.08.2006

Viver

"No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida".
Eugénio de Andrade



Vivo entre dois mundos,
onde a realidade
se esbate com a imaginação.

Os sentidos
entrelaçam-se a lugares,
e prendem-se a memórias ou sonhos
sem tempo,
sem espaço.

Como num filme
sou actor ou espectador
tendo música e poesia
como fiés companheiras.

São mundos curiosos.
Por vezes simétricos,
outras
sem fronteiras.

Não controlo os seus
chamamentos e
perco-me facilmente
nos seus caminhos.

Não tolero o real
e puxo o lençol
da imaginação
para refrescar
a calorosa caminhada
a que chamamos
viver.

A vida continua...

9.05.2006

Fogo e noite

“A única verdadeira tristeza está na ausência do desejo”

Charles Ramuz

Aconteceu...
por me teres feito cego
recordo o sabor da tua pele
e o calor de uma tela
que pintámos sem pensar.
Ninguém perdeu,
enquanto o ar foi cego
despidos de passados
talvez de lados errados
conseguiste me encontrar.

Foi dança
foram corpos de aço
entre trastes de guitarras
que esqueceram amarras
e se amaram sem mostrar.
Foi fogo
que nos encontrou sozinhos
queimou a noite em volta
presos entre chama à solta
presos feitos para soltar...

Estava escrito
e o mundo só quis virar
a página que um dia se fez pesada

E o suor
que escorria no ar
no calor dos teus lábios
inocentes mas sábios...
no segredo do luar.
Não vai acabar
vamos ser sempre paixão
vamos ter sempre o olhar
onde não há ninguém.
Dei-te mais...! Valeu a pena voar...

Estava escrito
e a noite veio acordar
a guerra de sentidos travada num céu.

Nem por um segundo largo a mão
da perfeição do teu desenho
e do teu gesto no meu...
Foi como um sopro
estranho......
e aconteceu...

És fogo em mim,
És noite em mim.
És fogo em mim.
Toranja

9.04.2006

Ponto final

“My end is my beginning”
T. S. Elliot

Como colocar um ponto final
se dois pontos unidos são uma recta?
Assim seja.
Façamos um ponto final,
mas não o parágrafo.
Ficará em aberto
a mais curta distância,
sempre tua...
para junto de mim,
sempre...
em linha recta.

9.03.2006

Inspirado mas encalhado


“A melhor coisa que se pode fazer por uma pessoa é inspirá-la”
Bob Dylan

Imagina, imagina
Hoje à noite
A gente se perder
Imagina, imagina
Hoje à noite
A lua se apagar

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Chico Buarque

9.02.2006

Everythings not lost

Despedimo-nos ao som desta música, mas tu nem notaste em mais um sinal...


If you ever think all is lost,
Ill be counting up my demons,
Hoping everythings not lost,
Everythings not lost,
When Im counting up my demons.
Theres always one for everyday,
With the good ones on my shoulder,
I drove the other ones away.

Everythings not lost...

Coldplay

Quero ver-te nua

"O Tu é mais antigo do que o Eu" e a minha curiosidade mata...


Amo o teu riso prateado
Como se a lua fosse tua
Vou pendurar-me nos teus laços
Vou rasgar o teu vestido
Eu quero ver-te nua
Jorge Palma

9.01.2006

Número 3

"Tudo o que acontece uma vez pode nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas, acontecerá certamente uma terceira”.
Provérbio árabe

Ao número três, onde quero voltar para dançar ou morrer...

Assíduos do shaker

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