7.31.2012

Há dentro de nós um poço


Há dentro de nós um poço. No fundo dele é que estamos, porque está o que é mais nós, o que nos individualiza, a fonte do que nos enriquece no em que somos humanos. E a vida exterior, o assalto do que nos rodeia, o que visa é esse íntimo de nós para o ocupar, o preencher, o esvaziar do que nos pertence e nos faz ser homens. Jamais como hoje esse assalto foi tão violento, jamais como hoje fomos invadidos do que não é nós. É lá nesse fundo que se gera a espiritualidade, a gravidade do sermos, o encantamento da arte. E a nossa luta é terrível, para nos defendermos no último recesso da nossa intimidade. Porque tudo nos expulsa de lá Quando essa intimidade for preenchida pelo exterior, quando a materialidade se nos for depositando dentro, o homem definitivamente terá em nós morrido. Já há exemplos disso. Um dos mais perfeitos chama-se robot. É invencível pensarmos o que será o homem amanhã. E nenhuma outra imagem se nos impõe com mais força. Mas o que desse visionar mais nos enriquece a alma é que o homem então será possivelmente feliz. Porque ser homem não é ter felicidade mas apenas ser humano. Não há grandeza nenhuma feliz e é decerto por isso que se diz que os felizes não têm história. A única felicidade compatível com a grandeza é a que já não tem esse nome, mesmo que o tenha. Chamemos-lhe apenas compreensão ou aceitação.

Virgílio Ferreira

7.20.2012

Serviço Nacional de Saúde


Alguém me consegue dizer porque raio o blog está a arfar?
A gerência agradece e paga as taxas moderadoras.
XinXin

7.18.2012

De este cuerpecito mío... que se ha convertío en río

Writen in my blood


Não escrevo há muito tempo, e no entanto a escrita permanece-me, constante. Destapa os ouvidos ao calar da noite, e ali fica como um búzio alado, soprando na cara baixinho, lambendo as feridas ou puxando a mão para um campo de searas, onde passeiam ao vento imagens, frases, sons. Mesmo sem caneta ou aparente alento ei-la ali, especada, como um cão fiel ao seu dono, olhando-o imóvel, à espera de um assobio ou afago. 

Não escrevo há tanto tempo, talvez por respeito a esse pesar ou chamamento, a essa maré que sempre me regressa e me busca, ora desenrolando novelos indeléveis e quase indecifráveis, ora atirando pedras que estilhaçam abruptas nas janelas e ecoam por muito tempo. 

Não escrevo há tão pouco tempo e no entanto parece tanto... Quando assim acontece é como acordar de um sono que nunca se chegou verdadeiramente a dormir ou a recordar ofegante uma vida que não se chegou verdadeiramente a correr, como quem recebe uma estranha parte de nós que esteve ausente por parte incerta mas sempre nos pertenceu e sempre nos pertencerá.

Assíduos do shaker

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