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10.26.2010

Sinto muito

O telefone móvel imobilizado, na senhorinha, vibrando preso ao silêncio do quarto, piscando no escuro sem conseguir libertar as vozes sentidas do que nunca se espera, aconchegando na sua mudez mensagens aflitas de nada saberem dizer pela palavra. A mãe de Júlia morreu e a noite foi mais lenta e mais fria.

[um abraço muito forte e um pequeno beijo na testa]

6.21.2010

Ternura amarrotada

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira

5.24.2010

Take them to Bruges

Sempre me apaixonarei por sonhos impossíveis à distância de uma vontade, por histórias de amor, por pessoas bonitas mesmo sem as conhecer, com carisma, energia contagiante e coração do tamanho do mundo. Sempre me apaixonarei por pessoas com sorrisos fáceis mesmo nas horas de aflição, com sentido de humor "negro" mas emoções à flor da pele. Sempre me apaixonarei por histórias bonitas, justas. Merecidas.


Força nas canetas, Himalaias de sorte e Evarest contigo [mesmo que seja em Bruges].

Já reservei o meu livro! Ide ide façam já também a vossa reserva Aqui e divulguem

5.12.2010

Entrelinhas

Somos virtudes mas também defeitos. Somos memórias, vontades, ecos e silêncios. Somos Eus nem sempre nossos, construídos às vezes, a pulso, no tempo. Somos valores e desilusões. Somos surpresas, abraços, lágrimas e sorrisos. Somos diferentes. Somos iguais. Somos viagens, livros e conversas. Somos descobertas, dejasvus e coisas que nunca mudam. Somos poucos amigos mas valiosos. Somos amor, paixão e entrega, ombros e palavras. Somos dar e receber. Somos sensibilidade e desertos. Somos murros no estômago e agitar de asas de borboleta. Somos pouco sábios e Babilónias. Somos estúpidos vezes de mais. Somos crentes e precipícios. Somos dois e somos um só. Somos laços e estranhas curiosidades. Somos tempo dedicado, somos barcos e lugares. Somos ilhas e pontes, bocas e ouvidos. Somos mar. Somos anjos, sim, às vezes somos anjos.

5.02.2010

Para a minha mãe*

Um pedaço de pele
seboso e encarquilhado.
Um crânio a latejar
rosado, sem cabelo.
Sobretudo uma boca
a ânsia de beber
o teu mamilo inchado
oferto, todo meu.
Sobretudo o desejo
do teu vulto inclinado
carregado de aromas
carregado de espanto
a inventar
no meu olhar aguardo
uma réstea de mar
uma nesga de céu.

Como pudeste amar-me
despótica que eu era
apática neurótica
a exigir-te o corpo
os rins o seio o sono
a exigir-te a voz
o tempo as mãos a boca.

Como pudeste amar-me
a pesar-te no ventre
a dar-te pontapés
a pedir o teu sangue
a fazer-te gritar.
Como pudeste amar
conceber-me insurrecta
a parir-me poeta
ao fim de tanta dor.

Minha amante secreta
Meu barco na memória
razão da minha história
o meu primeiro amor.

Rosa Lobato Faria

* o meu primeiro amor

4.23.2010

João

João. Chamo-me João. Podem chamar-me assim, se quiserem. Não me importo. A maioria de voz não me conhece nem nunca me conhecerá para além do meu nome. Mas o que mostra um nome? Quase nada! Uma sonoridade, talvez, ou um simples mover de lábios que nos dirige o olhar, mas que não deixa de ser absurdo pelo que nada diz, e que, no entanto, se sente não poder ser outro, por hábito ou afeição. João, o nome que me calhou, que me esconde e me revela. Um nome sempre esconde e revela uma pessoa, é uma espécie de cartão de visita e livro fechado ao mesmo tempo, um atalho que só se descobre verdadeiramente sem pressa e com anos de caminho. O mundo ficou estranho e apressado, os nomes também. Tenho-me perguntado porquê. Lembro-me de tantas coisas, de tantos nomes. Nomes lentos que conheci verdadeiramente, onde nadei despido e onde depositei na mão a chave do meu próprio nome. João. Chego a lembrar-me de coisas que me esqueci. Coisas e nomes, que de repente, deixamos de ver. João, é o meu nome. Um nome que nada diz. Enquanto estiver por aqui podem chamar-me assim. Se eu soubesse o fim do meu nome, poderia contar-vos a história toda. Assim é apenas um nome. Mas um nome nunca é apenas um nome, pois não? Já não sei! Nunca percebi muito de nomes e agora apetece-me apenas fechar os olhos, assim, com muita força. Há nomes com muita força, mas isso também não interessa nada. Agora já sabem, chamo-me João. Apenas João.


Texto elaborado a partir de algumas frases
dum texto de Pedro Paixão [assinaladas a italico]
Dedicado ao meu avô, também ele João.
Alguém de quem nunca esqueci o nome.

4.22.2010

Desiderata

Segue tranquilamente entre a inquietude e a pressa,
lembrando-te de que há sempre paz no silêncio.
Tanto quanto possível, sem te humilhares,
vive em harmonia com todos os que te rodeiam.
Fala a tua verdade calma e claramente e ouve a dos outros,
mesmo a dos insensatos e ignorantes,
eles também têm sua própria história.
Evita as pessoas agressivas e transtornadas.
Elas afligem o nosso espírito.
Se te comparares com os outros,
podes tornar-te presunçoso e magoado,
pois haverá sempre alguém inferior, e alguém superior a ti.
Vive intensamente o que já podes realizar.
Mantém-te interessado no trabalho,
ainda que humilde, Ele é o que de real existe
ao longo de todo o tempo.
Sê cauteloso nos negócios,
porque o mundo está cheio de astúcias,
mas não deixes que isso te faça desacreditar, a virtude existirá sempre.
Muita gente luta por altos ideais
e em toda a parte a vida está cheia de heroísmo.
Sê tu mesmo,
Principalmente, não simules afectos,
nem sejas descrente do amor,
porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto
ele é tão perene quanto a relva.
Aceita com carinho o conselho dos anos,
mas também sê compreensivo
aos impulsos inovadores da juventude.
Alimenta a força do espírito
que te protegerá no infortúnio inesperado,
mas não desesperes com perigos imaginários.
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão,
e a despeito de uma disciplina rigorosa,
Sê gentil para contigo mesmo.
Tu és filho do Universo,
tal como as estrelas e árvores.
Tu mereces estar aqui.
E embora não seja claro para ti, o universo está a desenrolar-se naturalmente.
Portanto, procura estar em paz com Deus
como quer que tu o concebas.
E quaisquer que sejam teus trabalhos e as aspirações,
na fatigante jornada pela vida,
mantém-te em paz com a tua própria alma,
Acima da falsidade, dos desencantos e arduras,
O mundo ainda é bonito.
Sê prudente e faz tudo para ser feliz!

Max Ehrmann


Obrigado M., ás vezes precisamos de ouvir estas coisas.

4.12.2010

Músicas perfeitas


The Cinematic Orchestra, To Build a Home


Gosto de músicas que me causam arrepios, que dançam por dentro, mesmo que quietos por fora, que nos olham fixas, no fundo, ou nos fecham as pálpebras com a lentidão de um beijo. Músicas que nos iluminam com o sol de mil sorrisos e nos oferendam todas as rugas, cantos e covinhas. Músicas que nos estendem a mão, que nos abraçam, forte e demorado, músicas que nos tocam e descansam junto a nós. Músicas que perduram, músicas perfeitas.

3.08.2010

Perfume de mulher *

Uma reedição para dar os parabéns a todas as mulheres. Com um pequeno agradecimento, por fazerem o mundo melhor.

XinXin

* reeditado

2.19.2010

Lições de vida, para meditar

  1. Quando estiveres em dúvida, dá o próximo passo
  2. Há duas coisas que denotam fraqueza: o calar-se quando é preciso falar e o falar quando é preciso estar calado
  3. Não te armes em vítima e não te comportes como um salvador
  4. Um homem correcto exige tudo de si próprio, um medíocre espera tudo dos outros
  5. Faz a paz com o teu passado, para que ele não estrague o teu presente
  6. Deixa-te guiar pela intuição pessoal em vez de agires sempre sob a pressão do medo
  7. A passagem do tempo deve ser uma conquista, não uma perda

Seleccionadas de um mail recebido, que, de tão correcto, me fez querer partilha-las.
Obrigado M.C.

8.22.2009

Magnum Photos

"To take a photograph is to align the head, the eye and the heart. It's a way of life."


Henri Cartier-Bresson


Obrigado maninha! Simplesmente delicioso. Daqui

5.29.2009

"Gosto-te"

Gosto-te por aquelas proximidades que não interessam saber explicar. Pela curiosidade da descoberta recíproca. Pelo interesse dos pequenos detalhes. Pelas conversas aveludadas. Musicais.

Gosto-te pelo sorriso e pelo sotaque. Pela fluidez dos gestos e das palavras. Soltas. Leves. Perdurando como o sabor de um vinho suave descobrindo os lábios.

Gosto-te porque existes num passado que não chegou a existir, mas que ambos sentimos tactuado. Algures, numa passagem dum poema. Numa nota de rodapé, num canto de um livro.

Gosto-te na decoração dum prato cuidadosamente elaborado. Pelo passar do tempo que nos foge sem se notar. Pelas imagens que surgem e pelos silêncios que não incomodam.

Gosto-te pelas cartas que não te escrevi. Por uma intimidade estranha. Por uma provocação.

Gosto-te pela sedução e pela inocência. Gosto-te porque me fazes pensar. Gosto-te por não saber o verdadeiro porquê. Gosto-te porque sim.

5.22.2009

For K. with Love

Não via a K há muito tempo. K, chamemos-lhe assim. Não via a K ao tempo de já não pensar, ou me lembrar da K. Para aí desde os meus 18 anos, ou seja, há quase esse número de anos. A vida pode dar muitas voltas em 18 anos.

A K foi minha vizinha, anos a fio. Vizinha, e amiga de infância. Amiga de brincadeiras intermináveis. Amiga à distância de um hall de entrada, ora em minha casa, ora em sua casa. Amiga de aniversários. Amiga de ver crescer. Amiga de ficar cheio de mazelas por andar ao supapo para a defender. Amiga.

Ainda me lembro da tara da K em querer ser cabeleireira e de me querer cortar os meus cabelos, cheios de caracóis, à força, e eu a arranjar sempre artimanhas para escapar ileso. Ainda me lembro da mãe da K dizer que seria a minha namorada e eu dizer que éramos só amigos, por já gostar daquela que viria ser a minha primeira namorada no jardim escola. Ainda me lembro do luxo de jogar, mais tarde, PacMan em casa dela, no tempo em que ninguém tinha videojogos, e que o pai da K trazia de Paris. Ainda me lembro das longas noites de Pictionary ou de King com os pais da K, ou das audições de ballet, onde ficava com uma leveza linda, ou das tardes no picadeiro quando começou a participar nas provas de equitação.

A K sempre teve tudo. Tudo a um estalar de dedos, mas sempre fora uma miuda perdida e muito influenciável. Ouve um dia em que os pais decidiram mudar de casa. Mudar de terra, por causa do negócio próspero do pai, e foi assim que me afastei da K. E que fomos perdendo gradualmente o contacto.

Soube, muito mais tarde, que voltara. Mais tarde ainda que o negócio do pai tinha ido à falência. Que os pais se tinham separado. Vi umas duas vezes a mãe da K com os olhos baixos, incomodados, tristes e envergonhados, e o pai como uma sombra vegetal. Um fantasma irrecuperável.

Fui sabendo, de tempos a tempos, coisas tristes da K. Que tinha graves problemas de dependência de drogas. Que passava os dias na rua com muito más companhias e vivia com a mãe. Que custava olhar para ela. Que estivera num tratamento em Espanha e engordara imenso. Que engravidara dum pai desconhecido. Que abortara. Coisas terríveis, mas nunca mais vira pessoalmente a K.

Há pouco tempo, quando regressava a casa cruzei-me com uma rapariga pálida mas morena. Frágil, disforme, que me chamou pelo nome. Só conheci a K após longos segundos. Segundos, que me pareceram horas, até encontrar uns olhos familiares a dançar ballet. Dei-lhe dois ternos beijos, comovido, quase não querendo acreditar no que via e perguntei “Que é feito de ti”. Começou a chorar. Perguntou com uma voz rouca e arrastada: “ainda te lembras de mim? Lembras-te…? Sabes? Não imaginas há quanto tempo não me davam dois beijos e perguntavam por mim”…

5.16.2009

Two more years

Bloc Party, Two more years

[ Two more years, there's only two more years
Two more years, there's only two more years
Two more years so hold on ]

Para uma menina que gosto de ler, porque já passou. Porque há-de passar. Porque tudo passa .)

5.08.2009

Holst



Gustav Holst, The Planets - Vénus


O meu é Neptuno. Na tua dúvida, o teu passa a ser Vénus. Pelo menos por hoje .)

5.06.2009

4.21.2009

A ver vamos...

Este espaço já recebeu alguns prémios. Sempre os guardei e agradeci, sentidamente, mas nunca os publiquei. Não sou muito de prémios, sabem? Gosto de os receber, não pelo "prémio" em si ou pelo "pseudo orgulho" (que, sinceramente, não despoleta minimamente em mim) mas pelo que possivelmente representaram em quem os envia. 

A curiosidade de saber que, de alguma forma, algo meu as tocou. Isso é para mim o verdadeiro prémio. Que algo foi importante ao ponto de levar a uma acção. Por mais pequena. Um ténue sinal de afecto. Um pequeno calor. É esse o milagre da comunicação. É esse um dos prazeres da partilha, do que aqui se publica. 

Confesso, que sempre me surpreendo, por simplesmente nunca os esperar. Confesso que, na maioria das vezes, até me sinto um pouco incomodado (no bom sentido), por achar, na larga maioria das vezes, não o merecer. 

Escrevo simplesmente e somente o que sou. O que me diz algo. O que sinto. O que me transporta. E, estou em crer nada haver a permear no que é, tão somente, natural. Escrevo para mim (pelo menos assim comecei),  mas cada vez mais, estou em crer, também, que escrevemos sempre para alguém (mesmo que subconscientemente). Alguém que por vezes nem existe. 

Escrevo porque me dá prazer. Escrevo coisas reflectidas e outras puramente instintivas, às vezes sem pretenso sentido. Parvas até. Escrevo, muitas vezes, por mera necessidade. Por urgência do corpo. Porque tem de ser. O tem de ser tem (de facto) muita força. Sabem? Estou em crer que sim. Que o sabem muito melhor que eu. Que tantas vezes nada sei. 

Obrigado pelos vosso prémios carinhosos. Não levem a mal não os publicar. Blog que é blog tem que ter prémios, já me disseram. Vou fazer uma coisa. Pelo menos tentar. Oferecer uns quantos. A ver vamos...

4.11.2009

O (teu) nome é legião

"As minhas amizades foram sempre instantâneas.
A gente conhece uma pessoa e fica amigo de infância. É curioso."

"As pessoas de quem gostamos e que já cá não estão
vão mudando dentro de nós"

"O amor das coisas belas"



António Lobo Antunes


Idêntifico-me com estas frases, assim como mil outras, de um dos meus escritores favoritos. Que admiro pela obra e como homem. Pela sua presença. Pela sua sabedoria reservada. Brilhante. Difícil de igualar. Vejo, de quando em vez, a sua entrevista (obrigado Gi, foi no teu blog que a revi) aquando do lançamento de um dos seus últimos livros. Uma entrevista notável (apesar de não gostar particularmente do entrevistador), pela sua humildade, pela sua sensibilidade, pela sua inteligência. Gosto muito do António (permite-me que te trate assim). Também me habituei, como referes, a não ter dificuldade, medo ou timidez de o dizer abertamente. Também me sinto teu amigo de infância. Sabes? À distância próxima de um livro, ou destas sábias palavras.

Obrigado António. Por seres simplesmente como és.

Assíduos do shaker

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