8.31.2008

The Hindu Times



I get up when I'm down
I can't swim but my soul won't drown
I do believe I've got flare
I got speed and I walk on air

Cos god give me a soul
In your rock n' roll band
Cos god give me a soul
In your rock n' roll band
I can get so high I just can't feel it
I can get so high I just can't feel it

In and out my brain
Running through my veins
Cos you're my sunshine
You're my rain

I get up when I'm down
I can't swim but my soul won't drown
I do believe I've got flare
I got speed and I walk on air

Cos god give me a soul
In your rock n' roll band
Cos god give me a soul
In your rock n' roll band
I can get so high I just can't feel it
I can get so high I just can't feel it

In and out my brain
Running through my veins
Cos you're my sunshine
You're my rain

I can get so high I just can't feel it
I can get so high I just can't feel it
I can get so high I just can't feel it
I can get so high I just can't feel it

In and out my brain
Running through my veins
Cos you're my sunshine
You're my rain


Oasis, The Hindu Times

8.30.2008

Noites calmas



Calor de luzes pela noite densa. Movimento que se esvai. Aos poucos. Arrefecido na sua eterna e lânguida espera de silêncios. O início fora talvez assim: de silêncios escuros. E era a noite quem melhor o lembrava.

A mesma realidade é infinitamente diferente, chegando a parecer repetida. Como um zoom fotográfico desfocando-se em pontos. Passando a assemelhar-se às células do próprio fotógrafo que lhe cede o dedo e o olhar.

Qualquer olhar já é passado. No tempo que leva à percepção. E não passa dum jogo de luz, que julgamos falsamente nosso.

Gostava desse desprendimento de posse do olhar por si só. De ouvir as artérias da noite sussurrarem-lhe ímanes. Sentir a sua presença aveludada a cada inspirar de ar frio. Tirar algumas fotos. Ténues tentativas de aprisionar essas danças invisíveis. Apenas perceptíveis em algumas noites calmas.

8.29.2008

Mistério de luz

noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras

hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se

onde se pode - num vocabulário reduzido e
obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir

apesar de tudo
continuamos e repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial


Al-Berto

8.28.2008

Valeu?

- “Oi! Estava mesmo à tua espera! É só um tirinho! Valeu?”
Desculpe? “Oi”? “à tua”? “tirinho”? “valeu”? Estarei em Ipanema ou em Copacabana? Não, parece que estou mesmo em Lisboa!
É nestas alturas que (queiram desculpar) assentaria como uma luva o uso de uma arma de fogo (silenciosa, note-se, nada de grandes estardalhaços, que prezo bastante o silêncio) para, depois do referido “tirinho”, poder retribuir convenientemente o cumprimento com um ligeiro baixar de cabeça e um saudoso “à tua”. “Valeu”.


PS: Não tenho nada contra brasileiros mas já me faz um bocadinho de espécie que certos estabelecimentos não tenham nenhuma preocupação na forma de atendimento dos seus clientes. Mas provavelmente é defeito meu.

8.27.2008

Memória

Espremida pela pele polida, pelo tempo, com carícias e afagos de dedos sábios. A memória flui, como um rio. De reflexos quentes. No fundo, o sumo da vida.

8.26.2008

Massagem

Confesso! Fui novamente à massagista.
Dada a minha natureza agnóstica é a maneira mais próxima que encontro de ir aos céus, nas mãos do Diabo, lá está.

8.25.2008

Home



God gave me travelling shoes,
God gave me the wanderer's eye,
God gave me a few gold coins to help me to the other side.
Looked around and said: be careful how small things grow,
God gave me travelling shoes and I
knew that it was time to go.

Sent in the ship at night to take me to the hidden port.
Found me the key at last to open up the prison door.
Brought down the blackbird's wings,
gifted me with beggar's eyes.
Sent in the jackals to tell me I should say bye, bye, bye.

I'm home, home,
Home, home, home
And I'm home, home,
home, home, home
But I'm miles and miles and miles and miles and miles away
Where can I hide?

God gave me one last chance, gave me one last reprieve.
Jah gave me hunger, gave me the air to breathe.
Gave me one suitcase, gave me one last goodbye
Gave me travelling shoes, without them I
would surely die, die, die

Home, home
Home, home, home

Miles and miles and miles and miles and miles away
Where can i go?
Where can I hide?

Simple Minds, Home

8.16.2008

Férias

Não muito tempo. O suficiente. Descanso. Abstracção de tudo. Sede de leitura. Cinco livros novos, acabadinhos de comprar [que andavam a piscar-me os olhos há tempo], dois para reler [para não criar ciúmes e para fazer festas], ipod esvaziado e renovado [como uma maré] de álbuns completos, para garantir um fio condutor. Óculos de sol. Protector solar. Roupa fresca e descontraída. Ausência total de relógios. Caipirinha e Gothan Project no bar castiço da praia [a lembrar algo híbrido, entre Havana e Buenos Aires]. Dias quentes. Longos. Mar salgado. Reflexos de prata que perduram como beijos. Finais de tarde embevecendo o olhar no mágico ondular daquela hora, naquele local. Noites profundas com cheiro a café. Férias. Não muito tempo. O suficiente...

8.14.2008

Perfect served

A Coca-Cola procura mostrar com o seu novo anúncio que o seu sabor único e refrescante pode ser ainda melhor quando acompanhado por gelo e limão. Não sou grande fã da bebida mais famosa do mundo e não creio ser o gelo e o limão os seus salvadores (talvez uma Cuba Libre bem preparada com um Rum genuíno). No entanto, estamos de acordo com uma coisa, fica consideravelmente melhor com a Luísa Beirão.

8.13.2008

Ir andando, que se faz tarde

Faz-me um pouco espécie (para não dizer muita) e considero sintomático (do grau de afecto real) que ao rever alguns colegas de faculdade, a quem chamo de “amigos” e não via há anos, que a primeira coisa que me perguntem seja a fatídica questão do “onde estás a trabalhar, agora”, logo seguida dum chorrilho de perguntas de onde está este e aquela. E de comentários como “está muito bem” ou “mudou daqui para ali”. Pode parecer uma estupidez, ou sensibilidade excessiva da minha parte, mas, para além de não me interessar minimamente, soa-me quase sempre a “comparativos”, “invejas” ou "exacerbados auto-elogios" sem qualquer razão de ser (a meu ver, lá está). Até coabito bastante bem com namoros, casamentos e filhos, mas esta pergunta, assim a seco, é castradora de qualquer vontade de conversa. Onde estou? Aqui, à tua frente! E, curiosamente, já com vontade de ir andando, que se faz tarde.


8.12.2008

Oito

Por mais que gostasse das palavras a vida é feita de números. Apercebera-se, com o passar dos anos, dessa matemática fatalista das coisas, subtilmente camuflada, mas sempre presente.

Foi difícil aceita-lo mas sabia-o agora, bem. Indubitavelmente bem. Como que uma força do destino. Imparável. A que nada podia fazer frente.

Estava diante da linguagem mais poderosa e universal. Precisa. Milimétrica. Que não permitia trocas, fonéticas ou interpretações. A crua e fria linguagem dos números. Sempre presentes. Sempre escondidos. No mais banal dos acontecimentos.

Decidiu então que teria um número. Sim, um número. Porque não? Assim como quem tem um poema ou uma palavra favorita. Teria um número.

Chegara à conclusão que (estatisticamente, lá está) todos têm um número. Que se sucede mais vezes, por razão aparentemente desconhecida (ou talvez não) nesse misterioso alfabeto vivo dos dez algarismos.

O seu número era o oito. Curvo. Simétrico. De círculos perfeitos, unindo seus corpos num só. Talvez pela sua forma feminina, ou de ampulheta. Talvez por, tombado, tender para infinito.

8.11.2008

Aquela voz

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.


António Ramos Rosa

8.10.2008

Oceania



One breath away from mother Oceanía
Your nimble feet make prints in my sands
You have done good for yourselves
Since you left my wet embrace
And crawled ashore
Every boy, is a snake is a lily
Every pearl is a lynx, is a girl
Sweet like harmony made into flesh
You dance by my side
Children sublime
You show me continents
I see the islands
You count the centuries
I blink my eyes
Hawks and sparrows race in my waters
Stingrays are floating
Across the sky
Little ones, my sons and my daughters
Your sweat is salty
I am why
I am why
I am why
Your sweat is salty
I am why
I am why
I am why

Bjork, Oceania

Because today I felt somewere in Oceania...

8.09.2008

A arte de ler

O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até à presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.

Mário Quintana

8.08.2008

O silêncio dos sentidos


Tanto ruído no interior deste silêncio: são as vozes dos outros a falarem de mim, pessoas de quem gostei, pessoas que perdi, gente que tenho ainda.

António Lobo Antunes



Basta-me o silêncio dos sentidos.
Nada mais.
Tudo o resto é supérfluo. Dispensável.
Basta-me o silêncio invisível aos olhos abertos.
Esse rio de mãos frias que perdura como lâmina ou raio de sol.
E onde dançam imaculadas transparências e densos nevoeiros.
Que sempre nos levam, algures, aos seus jardins secretos.
Onde nem todos conseguem entrar.
Que fale sempre alto esse silêncio.
E nunca se cale.
Esse silêncio que diz.
Esse silêncio sentido
Esse silêncio dos sentidos.



8.07.2008

Vestígios

Estendida no quente areal. Adormecia a pele em tons de chá. No tépido calor daquela praia. Deserta. Perdida no tempo. Algures, entre a inércia e um espreguiçar. O sublime conforto da entrega do corpo àquela réptil hibernação. Soltara as velas aos pensamentos para os abandonar para sempre. Apenas um corpo. Despido. Uma oferenda aos Deuses Incas. E aquele calor, dissipando-se. Inundando a alma. Embalando no ondular do mar coberto por um céu infinito.

Adormeceu com a brisa a fazer-lhe festas nos cabelos. Sentiu texturas de ouriços, algas e anémonas. Viu cores inimagináveis. Ouviu cânticos de sereias. Aveludadas inocências e espirais de abismo. Em alternância. Os extremos também se tocam. Lembrava-se de o ter pensado, e de se ter sentido tocada, exactamente aí. Naquele extremar de sentidos e sensações. Algures. Em parte incerta. Naquele calor hieroglífico de Rá.

Regressou finalmente em peixe, ancorando em coral. Acordou extremecida com o beijo mais fresco e salgado que algum dia existirá em terra firme. Na pele quente e bronzeada com vestígios daquela viagem. Entre o sonho e a realidade. Entre o segredo e o delírio. Por entre vestígios dum deitar fecundo no estenso areal.

8.06.2008

Confiança

A confiança é um acto de fé, e esta dispensa raciocínio

Carlos Drumond de Andrade

8.05.2008

Avareza em fumo negro

A aranha trepa meticulosamente a frágil teia da tua alma. Só ela conhece os teus meandros fechados a sete chaves. Porque ficou lá desde que os fechaste. Nunca mais viu a luz do dia. Cheiras a mofo e a escuridão, aí dentro. Há muito que o sol deixou de te querer beijar a pele. És pálido e as tuas olheiras sentem-se em quem de ti se aproxima. Tens as extremidades mirradas do pouco uso que lhes dás. Os lábios secos de nunca beijarem. As pontas dos dedos comidas de nunca se darem. Os pés encolhidos de nunca irem ao encontro de ninguém.

A antítese do prazer é o teu único prazer. O ter. Melhor, a simples hipótese de ter. Sem nunca o concretizar. O ter em teu ser. Espalhando este negro viscoso que te cobre e apaga qualquer necessidade. Um crude espesso que sufoca qualquer vontade. Onde nada respira. Pensas a fundo cada passo. Cada acção. Tudo achas um desperdício. Gostas do som do dinheiro. Do seu tilintar.
Do seu brilho que te ofusca o negro indiferenciado do teu ser. Escondes-te. Arrastas-te no mundo. Amorfo. Negro. Sou AVAREZA, e estou em ti.



Capítulo Quarto: Avareza, escrito em parceria com Andromeda-News

8.04.2008

Sleep



In the middle of the night
Head on my pillow
Looking like a littleghost
Seems like all of the things that you gave me mother
Have all gone up in smoke

In the middle of the night
You don't know what I'm thinking
But still the stars just sparkle and shine
Seems like all the time our boat was slowly sinking
You didn't even seem to mind

Now all I want to do is sleep
Now all I want to do is sleep
Now all I want to do, is sleep

Garbage, Sleep

8.03.2008

Close your eyes



Green line, Seven Eleven
You stop in
For a pack of cigarettes
You don't smoke
Don't even want to
Hey now check you change
Dressed up like a car crash
The wheels are turning
But you're upside down
You say when he hits you
You don't mind
Because when he hurts you
You feel alive
Is that what it is?

Red light, grey morning
You stumble
Out of a hole in the ground
A vampire or a victim
It depends on who's around
You used to stay in
To watch the adverts
You could lip synch
To the talk shows
And if you look
You look through me
And when you talk
It's not to me
And when I touch you
You don't feel a thing

If I could stay
Then the night would give you up
Stay
Then the day would keep its trust
Stay and the night would be enough
Faraway, so close
Up with the static and the radio
With satellite television
You can go anywhere
Miami, New Orleans
London, Belfast and Berlin
And if you listen
I can't call
And if you jump
You just might fall
And if you shout
I'll only hear you


If I could stay
Then the night would give you up
Stay
Then the day would keep its trust
Stay
With the demons you drowned
Stay
With the spirits I found
Stay
And the night would be enough

Three o'clock in the morning
It's quiet and there's no one around
Just the bang and the clatter
As an angel runs to ground
Just the bang and the clatter
As an angel hits to ground


U2, Stay

Sir Hellington, o cavalo marinho

Enrolaste-te na minha respiração com a tua lentidão vertical. Como que levitando uma tranquilidade inatingível. Só possível com a experiência da idade. Que aos poucos se apoderava de mim num eco interior. Aos poucos, a tua presença espreguiçava no ritual clássico do inspirar e expirar.

Foste outrora o espião perfeito. Belo e delicado. Enviado pelo Rei dos mares numa sombra mutante. Camuflando, talvez, a tua beleza fulminante. Protegendo-a dos olhares indefesos. Vestido dessa farda híbrida. Absíntica. Delicoespinhosa. Inventei essas palavras Hellington. Perdoa-me. Mas não há palavras possíveis para descreverem essa tua forma fugaz. Uma presença que se sente sem se ver.

Vimo-nos estáticos como medusas petrificadas. Apenas com o movimento do olhar. Como quem se estuda ao milímetro, num respeito silencioso. Agitando histórias ensurdecedoras, de não reveladas. A tua cauda enrolada, Hellington, é o meu dedo no queixo. Tentando perceber toda a sabedoria contida no teu olhar.

8.02.2008

Amante


Paris - Referência: 666 (F)


Requisitos:

Não fazer perguntas sabendo antes ler as respostas
Preferir gestos e silêncios
Olhar nos olhos. Perder-se por lá
Preferir coração à razão
Acreditar em magias e acasos
Ter asas e abismo
Possuir revolta e tranquilidade de mar
Amar pequenos momentos
Reconhecer aqueles segundos que se espreguiçam no tempo
Coleccionar músicas e usa-las para ver o mundo com banda sonora
Ser veneno e antídoto
Ter o encanto do deserto espalhado na pele
E a frescura dos frutos nos lábios
Não ser perfeita. Ter muitos defeitos para descobrir
Recusar promessas e não as fazer também
Ser lareira, chuva e vapor
Ter a sabedoria delicada dum vinho
E histórias antigas, por detrás das orelhas
Nada esperar mas sonhar
Amar a beleza das coisas belas
Ser o pecado a cada encontro
E um uivo que perdura nos luares
Ser seda e sede
Ter a subtileza da surpresa
Poder mudar tudo o exposto



Por razões de confidencialidade o anunciante é omisso. As candidaturas podem ser enviadas para este apartado, preferencialmente manuscritas a aparo, lacradas e com fotografia a sépia, contendo uma parte do corpo que considerem de elevada sensualidade. Serão contactadas nesta ou numa próxima encarnação. Mesmo não sendo a eleita, informa-se, que teremos a delicadeza de enviar um pombo correio ou um sinal de fumo. No caso do pombo, apenas se solicita que, a ser confeccionado, lhe dediquem a merecida atenção não esquecendo a apresentação do prato e o acompanhamento por um vinho de qualidade (de preferência nacional). No caso do sinal de fumo nada se solicita, com excepção das possíveis Pocahontas (às quais se apresentam as desculpas por meio tão banal) ou às fumadoras compulsivas, às quais se sugere apenas que não inspirem sob pena de inviabilizarem futuras comunicações (os pombos correios são cada vez mais raros).

Com os melhores cumprimentos,
Michael Page International

8.01.2008

A perfect hug


Toma o meu ombro despido de tudo e este abraço quente. Não digas nada. Não é preciso.

Porque há momentos em que um simples abraço vale muito mais que toda ou qualquer palavra.

Assíduos do shaker

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