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Tinha tido alguma dificuldade em chegar àquele ermo distante, perdido no mapa, no meio do nada. Mas, ao chegar, bastou-lhe uma volta rápida para se apaixonar e decidir ficar.
Os soalhos rangiam, corroídos pelo tempo e as espessas paredes de pedra, transmitiam uma frescura sonora, que se agarrava ao corpo, num eco sedutor. As amplas divisões vazias, sussurravam histórias, sedentas de um ouvinte mais atento. Envolvendo rapidamente o corpo estranho que ocupava parte daquele espaço sagrado, fazendo-nos sentir imediatamente esmagados por algo superior.
Tudo era fluir. Uma corrente magnética que se sentia sem se ver. O que mais o fascinou foi a paisagem, que decorava toda a casa. Inundando-a de uma luz que nunca vira. Embalando o olhar. Sobretudo a de uma divisão onde instalou apenas uma poltrona confortável. Ficando horas, embevecido, absorvendo a simplicidade das coisas, contemplando o ambiente minimalista mas ao mesmo tempo tão vasto.
Lembrava-se frequentemente da palavra japonesa de que tanto gostava – Shibumi, a verdadeira sofisticação das coisas simples – ao contemplar aquela simbiose perfeita de espaço e paisagem, numa dança frágil a perder de vista. Estava pronto para mais uma etapa.
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