8.11.2007

O click metálico



A praia estava deserta. Descansando, do mundo, num calmo ondular que embalava, espaçadamente. A noite estendera-lhe um manto infinito. Repleto de estrelas. Uma oferenda dos Deuses, prendendo o olhar numa dança de brilhos. Distantes, mas tão magnéticos.

O silêncio da noite roubado pelo som metálico do isqueiro, de que tanto gostava. Seguido por um cheiro quente a gasolina, enquanto se mantinha aceso. Indefinidamente, por entre os seus dedos, enquanto contemplava a chama. Como que a marcar, também ela, um ponto no escuro. Instintivamente.

Mais um click metálico, ao fechar da tampa e um travo profundo no deitar a cabeça na areia, para voltar a ser novamente devolvido ao emaranhado de faróis que guiavam o barco dos seus sentidos. A cada brilho um pensamento, uma frase, uma imagem, uma pergunta. Cintilando. Do nada. Sem sentido ou conexão aparente.

Ficava muitas vezes surpreso com o que lhe ocorria. Como que por magia. Tentava ligar os pontos. Estrela a estrela. Pensamento a pensamento. Como que num puzzle ou enigma por decifrar. Num desses pontos estaria, talvez, a chave, a pista. Ou até, quem sabe, outra praia deserta, outra noite tranquila e outro click metálico de chama quente e cheiro a gasolina.

1 comentário:

Lilazdavioleta disse...

Conheço, tão bem, esse click metálico e, tb o cheiro a gasolina.
E gostava ...
Mas numa praia deserta, deve ser, infinitamente, mais perturbador.!

Assíduos do shaker

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