8.21.2007

Locura e outras demências

Diz-me que distância é essa
Que levas no teu olhar
Que ânsia e que pressa
Que queres alcançar

António Variações in "Sempre Ausente"


Enlouquecia aos poucos. Estava cada vez mais certo disso.
Não sabendo o porquê, limitava-se a constatar um processo irreversível.
Um comboio antigo, em andamento por entre um fumo denso. Dissipando-se em formas mágicas. Em viagem. Ganhando velocidade. Para onde? Não sabia. Mas não se importava. Nada. Há muito que este mundo enlouquecera também e se afastara de sua pessoa como um barco à deriva. Ou ele do mundo real. Também disso não tinha certezas. Quem se desligara de quem. Sabia apenas ter um encontro marcado com a loucura. Sentia o seu respirar ofegante. O seu canto de sereia. Os seus lábios molhados, numa crescente embriaguez sedutora.
Aparecia cada vez mais regularmente numa espécie de livro de imagens que se folheia dando movimento aos objectos inanimados. Abrindo portas escondidas para locais fascinantes. Estendendo mãos. Avançando ou recuando os ponteiros dos relógios que se faziam setas de infinito.
Quem o chamaria assim? Estava prestes a descobrir...

(to be continued)


3 comentários:

Anónimo disse...

Desligamo-nos às vezes. Voltamos sempre a (re)ligar-nos. "Intermitente" é a palavra que melhor define a mente humana. Digo eu, que não percebo nada destas coisas.
Bj

Andrómeda disse...

A protagonista dessa sua história sou eu lol

Dry-Martini disse...

Sempre gostei de intermitências e de meia luz :)

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