12.30.2011
Echos
12.27.2011
Nuvem [tocada por um vento de lábios azuis]
Devia morrer-se de outra maneira.Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
à despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
12.23.2011
Boas Festas
12.14.2011
12.12.2011
A arte do reparar [sem pressa]

Entrevista a um dos escritores portugueses contemporâneos que mais admiro desde que se iniciou e não era muito conhecido. Absolutamente envolvente e fascinante.
1.
O fáscínio da letra, do alfabeto. O alfabeto é uma coisa invulgar porque, com muito pouco material, com muito poucas peças nós conseguimos fazer um conjunto de combinações intermináveis <...> quando nós começamos a ler deixamos de ver a letra <...> as letras fazem parte de um mundo completamente abstrato <...> a velocidade da leitura é um mundo que é completamente distinto do mundo normal <...> abrir um livro é muito semelhante a entrar numa igreja, ou seja, nós diminuimos a velocidade, o silêncio aparece, concentramo-nos. Nós quando abrimos um livro de certa maneira temos ali uma máquina de lentidão <...> As “máquinas de lentidão”, o livro, são cada vez mais necessárias, e é ao mesmo tempo uma máquina de reflexão, de pensamento como não há outra. A televisão, o teatro, o cinema, não têm este tempo individual dado ao leitor, que é uma coisa que o livro tem <...> o leitor pode parar numa frase 2 minutos, 30 segundos ou 2 anos, ou seja o ritmo é do leitor e este o ritmo é do pensamento, é o ritmo próprio do pensamento.
2.
O apelo para o quantitativo <...>; “Pediram-me para rezar mas eu só me lembrava da tabuada” <...> vivemos muito pelo signo da tabuada, quando se pede espírito respondem-nos com a tabuada, quando se pede cultura respondem-nos com a tabuada, e cada vez mais, 2x2=4, quando alguém pede piedade responde-se com 2x2=4, quando alguém pede uma sugestão, 2x2=4 <...>; a possibilidade da pessoa reparar nas coisas, provavelmente o que há hoje muito pouco, devido a esta velocidade, é a dificuldade em parar. E reparar não é parar, é parar, e continuar parado, continuar parado diante da mesma coisa. Parar é continuar parado durante muito tempo diante da mesma coisa <...> Nós só reparamos as coisas [de reparar/arranjar] se repararmos nelas <...> o que julgo que falta é lentidão <...> a multiplicação das imagens leva a uma falta de atenção perigosa
3.
Há uma urgência, a cultura do tempo é deixada para trás <...> a ideia de uma obsessão, a obseção da linha recta <...> o Homem não descansou enquanto não transformou a viagem num percurso em linha recta, primeiro com a auto-estrada <...> e o avião foi o máximo disso, já nem sequer se faz o percurso pelo solo, levanta-se, e tenta-se traçar a linha recta, como uma ideia de caminho mais curto. O que é interessante é que a linha recta está muito ligada, até pela palavra, com a rectidão moral <...> o que me interessava no “Caminho para a Índia” era o desvio da linha recta, a viagem do protagonista está constantemente a sair da linha recta, de certa maneira está a desviar-se geométricamente e moralmente, é uma viagem imoral, perversa e de certa maneira contradiz um pouco esta obseção pela pressa, pela de linha recta, que me parece que está instalada.
Entrevista a Gonçalo M. Tavares na integra aqui
12.11.2011
10 X'mas gifts
12.09.2011
Uivos do silêncio

12.08.2011
11.23.2011
11.22.2011
11.19.2011
11.17.2011
11.16.2011
Pollaroid

11.14.2011
Labirinto [ou alguns lugares de amor]

por assim dizer
pois era verão
forrado de agulhas
a cal
rumorosa
do sol dos cardos
sem outras mãos que lentas barcas
vai-se aproximando a água
a nudez do vidro
a luz
a prumo dos mastros
os prados matinais
os pés
verdes quase
o brilho
das magnólias
apertado nos dentes
uma espécie de tumulto
as unhas
tão fatigadas dos dedos
o bosque abre-se beijo a beijo
e é branco
11.13.2011
Envelhecer

11.09.2011
Ecos
Azul sereia
11.08.2011
10.31.2011
Equilibrio
10.27.2011
10.25.2011
Uma menina partiu

10.19.2011
10.18.2011
Porque

Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
10.14.2011
The Devil

10.13.2011
10.12.2011
10.11.2011
Romeu & Julieta [da Baviera]

10.08.2011
10.04.2011
Arquitectura #21





9.29.2011
Coisas que te dou
Sei agora como nasceu a alegria,como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.
É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.
É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.
Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.
9.24.2011
C minor
8.22.2011
Anzol

8.21.2011
8.19.2011
8.18.2011
8.07.2011
8.06.2011
Algures [num só]


7.31.2011
Ébano e marfim

7.15.2011
Andorinha

7.04.2011
Revisited
7.03.2011
7.02.2011
Better Not Stop
6.29.2011
6.26.2011
Transparências do mundo

6.25.2011
6.18.2011
Uma vida e uma palavra
Se não fosses tu quem abriria os espelhos?aconchegando barulho da chuva aos lençois
Se não fosses tu quem inventaria este mar?
de todas as cores, de todas as vontades
Se não fosses tu quem distrairia a noite do seu silêncio?
p'ra ser mão e gemido suspenso na saliva
Se não fosses tu onde assassinaria esta saudade?
Infinita, onde todos os relógios avançam e depois o mundo submerge
Talvez numa vida...
Uma vida e uma palavra
























