As pessoas querem chegar sempre mais depressa. E correm. E ficam presas nas filas. E usam relógio. E "já te ligo que estou atrasada".
As pessoas querem telemóveis último modelo, carros desportivos, roupa de marca.
As pessoas querem grandes repastos. Barbecues no jardim. Se possível sem sujar as mãos. Sem muito trabalho. E depois fazer dieta. Ir ao ginásio.
As pessoas querem ganhar mais dinheiro. Subir na carreira. Mesmo que fiquem sem tempo para o gastar.
As pessoas querem relações duradouras. Imbeliscáveis e perfeitas. Para toda a vida.
As pessoas querem apenas a felicidade extrema. Num comprimido milagroso. Nada mais.
As pessoas querem que tudo lhes seja servido numa bandeja de prata.
As pessoas querem que lhes digam o que fazer. Respostas fáceis. Receitas para tudo.
As pessoas querem que as ouçam sempre mas escutam tão pouco.
As pessoas querem ser urbanas e ultramodernas. Rejeitam o campo, acham saloio a terra e as origens.
As pessoas querem acreditar apenas no que faz sentido. E no que lhes chega aos ouvidos. No que é notícia e como tal paradigma. Sem investigar fontes ou procurar o contraditório. Opiniões já mastigadas. Prontas a usar.
As pessoas querem férias na praia. Destinos de ócio sem história ou descoberta.
As pessoas querem ser como as estrelas de cinema ou top models mas são cada vez mais iguais.
As pessoas vibram com o Cristiano Ronaldo, suspiram pelo Brad Pitt e comovem-se com a Lady Di e passa-lhes, muitas vezes, ao lado o Dolstoievsky, o Fellini, a Maria Callas ou a Madame Curie.
As pessoas querem planos futuros traçados ao milímetro. Sem paragens. Sem desvios. Linhas rectas profundamente cinzentas. Investindo tempo e energia em futilidades que nada acrescentam. Tão menores ao pé do saber dum carvalho secular.