7.14.2009

Seda

Não tenhas medo, não te mexas, fica em silêncio, ninguém nos verá.

Fica assim, quero olhar para ti, olhei-te muito mas não eras para mim, agora és para mim, não te aproximes, por favor, fica como estás, temos uma noite para nós e eu quero olhar para ti, nunca te vi assim, o teu corpo para mim, a tua pele, fecha os olhos, e acaricia-te, por favor, não abras os olhos se puderes, e acaricia-te, são tão bonitas as tuas mãos, sonhei com elas tantas vezes, agora quero vê-las, gosto de as ver na tua pele, assim, por favor, continua, não abras os olhos, eu estou aqui, ninguém nos pode ver e eu estou ao pé de ti, acaricia-te […], acaricia o teu sexo, peço-te, devagar, é bonita a tua mão no teu sexo, não pares, eu gosto de olhar para ela e de olhar para ti, […], não abras os olhos, ainda não, não tenhas medo, estou perto de ti, sentes-me? Estou aqui, posso aflorar-te, isto é seda, sentes?, é a seda do meu vestido, não abras os olhos e terás a minha pele, terás os meus lábios, quando te tocar pela primeira vez será com os meus lábios, tu não saberás onde, a determinada altura sentirás o calor dos meus lábios, sobre ti, não podes saber onde se não abrires os olhos, não os abras, sentirás a minha boca onde não sabes, de repente, talvez seja nos teus olhos, apoiarei a minha boca nas pálpebras e nas pestanas, sentirás o calor entrar na tua cabeça, e os meus lábios nos teus olhos, dentro, ou talvez seja no teu sexo, apoiarei os meus lábios, lá em baixo, e descerrá-los-ei descendo pouco a pouco, deixarei que o teu sexo entreabra a minha boca, entrando entre os meus lábios e empurrando a minha língua, a minha saliva descerá ao longo da tua pele até à tua mão, o meu beijo e a tua mão, um dentro do outro, no teu sexo, até que finalmente te beijarei o coração, porque te quero, e com o coração entre os meus lábios tu serás meu, de verdade, com a minha boca no coração tu serás meu, para sempre, se não acreditas em mim abre os olhos […] e olha para mim, sou eu, quem poderá alguma vez apagar este instante que acontece, e este meu corpo sem mais seda, as tuas mãos que lhe tocam, os teus olhos que olham para ele. Os teus dedos no meu sexo, a tua língua nos meus lábios, tu a deslizar debaixo de mim, pegas nas minhas ancas, levantas-me, deixas-me deslizar sobre o teu sexo, devagar, quem poderá apagar isto, tu dentro de mim mexendo-te devagar, as tuas mãos no meu rosto, os teus dedos na minha boca, o prazer dos teus olhos, a tua voz, mexes-te devagar mas até me magoar, o meu prazer, a minha voz, o meu corpo sobre o teu, as tuas costas a levantarem-me, os teus braços a segurarem-me, os golpes dentro de mim, é violência doce, vejo os teus olhos procurarem nos meus, querem saber até onde me podem magoar, até onde quiseres, […], não há fim, não acabará, vês? Ninguém poderá apagar este instante que acontece, para sempre atirarás a cabeça para trás, gritando, para sempre fecharei os olhos arrancando as lágrimas das minhas pestanas, a minha voz dentro da tua, a tua violência a manter-me agarrada, já não há tempo para fugir nem força para resistir, tinha de ser este instante, e este instante é, acredita em mim, […], este instante será, de agora em diante, será, até ao fim […]

Alessandro Baricco


Tudo os surpreendeu: em segredo. Quando sentirem saudade do silêncio, regressarão.

3 comentários:

Leonor disse...

Ai esse livro e essa história ...

© disse...

é tão lindo este livro
:)

Dry-Martini disse...

Já o li duas vezes seguidas e acho que vou para a terceira. Adorei! E adorei ainda mais ter-me sido oferecido por quem foi.

XinXin

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