“Eu quis amar mas tive medo,E quis salvar o meu coração,
Mas o amor sabe o segredo,
O medo pode matar o coração”
Vinicius de Morais
De todos os medos é, talvez, o que mais me custa a compreender.
Suprema força que me atrai
Sempre me habituei a ouvir. Escutar, questionar, observar, fazem parte de mim. A realidade nunca é plana e precisa, possui sempre relevo, inclinações. Nunca é directa nem estática. Escorrega-nos, por vezes no denso nevoeiro das aparências imediatistas e conclusões precipitadas. De tantas curvas, tomamos quantas vezes, atalhos fáceis, não subindo ao cume, à mínima vertigem. Quem não quer ouvir ou se recusa falar não pode ambicionar toda verdade, pois a dualidade de perspectiva é a miragem mais certa de todas as incertezas.
"Palavras leva-as o vento"
Por mais palavras que coleccionasse não se conseguia explicar. Por mais que existissem, que se inventassem eram manifestamente insuficientes.
As palavras padecem desta fraqueza, por mais precisas, minuciosas, poderosas, milimétricas, como que por uma maldição, não são fiéis, embaciam o espelho da alma do criador, reflectem a luz, não a deixando penetrar na profundeza desejada, evaporam sem molhar a pele. Traiem quem tanto as acarinha.
As palavras são, por vezes, prisioneiras de resposta, retidas. Outras, passeiam em pés descalços sobre conchas brancas, silenciosas, arrefecendo na espuma sem serem notadas. Arremeçadas violentamente, por vezes, ferem de morte quem as enviou com a melhor das intenções.
As palavras são meras articulações da linguagem, que na sua mais pura essencia é universal, transparente, musical aquando da presença um simples olhar.
Por tudo isso, há alturas onde aquece mais o vento na cara a uma fria palavra cara. Palavra!
"A verdade é muitas vezes a melhor camuflagem. Ninguém acredita nela"
"O beijo é um artifício criado pela natureza para acabar com o discurso quando as palavras já não existem"
Mesa do costume.
Voou de repente, sem nada o fazer prever. Com uma alegria de criança a correr na praia misturada com o dissipar de uma dor espessa, rochosa, que se agarrara à sua alma veranil como um mexilhão, tornando-a inverno.
No enssurdecedor movimento da cidade era invisivel, mas intenso, o barulho que ouvia.
Vou fazer-te uma confidência, talvez tenha já começado a envelhecer o desejo, esse cão, ladra-me agora menos à porta.Eugénio de Andrade
"Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós"
Tu que acreditas em doze dimensões
"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses" Sócrates
A sede do saber é insaciável.
Para tudo queremos repostas.
Simples, rápidas, directas. Tranquilizadoras.
Sobrevivo bem nas interrogações de certos mistérios.
E nunca me conheço, suficientemente bem.
Na grande confusão
deste medo
deste não querer saber
na falta de coragem
ou na coragem
de me perder me afundar
perto de ti tão longe
tão nu
tão evidente
tão pobre como tu
oh diz-me quem sou eu
quem és tu?
António Ramos Rosa
Dureza da pedra, a gretar.
"O tempo é aquilo que dele fazemos"
Amo a palavra. Sempre a amei.
"Cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém...
Era uma vez uma arquitecta. Não uma arquitecta qualquer.