8.25.2009

Apeteceu-lhe chorar

Quando ficava triste gostava de se isolar num local movimentado. Sentava-se, invisível, a ver pessoas passar. E ali ficava, simplesmente, observando-lhes os rostos e movimentos, imaginando-lhes histórias, sonhos, felicidades e desilusões.

Havia alturas, em que o mundo, a essa distância camuflada, lhe parecia um mero jogo de criança mimada, cujos dados gastavam uma poeira de formigas incansáveis ou de cigarras deleitosas, resistindo ao derrube, oscilando, oscilando: - “toma lá uma doença”, “apaixona-te lá, um bocadinho”, “agora sofre, de morte”, “entretém-te com esta novela que te dou”, “sorri, porque ficas bem”, “não gosto de ti”, “irritaste-me, agora”.

Quando ficava triste, olhava muitas vezes o céu: o silêncio no topo dos edifícios, a liberdade dos pássaros. Por vezes via uma formiga que queria ser pássaro e saltava, estatelando-se no chão, impiedoso. Outras vezes, via cigarras que se julgavam donas dos prédios, do mundo, não se apercebendo do poder dos dados birrentos, que lhes traçavam o destino num movimento.

Quando ficava triste, havia alturas, em que o que mais lhe custava não era ver o que via. Era constatar que não se via a si. Ali, naquela lágrima invisível.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá,
Parabéns pelo Blog....gostaria de convidá-lo a visitar o nosso....minervapop.blogspot.com
Valeu!
Anselmo - SP

Nirvana disse...

Não acontece tantas vezes? O que mais custa não é o que se vê, é o que se quer ver e não se vê...
XinXins

Assíduos do shaker

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