10.11.2008

O inquilino III

Quer-me parecer que és Árabe. Senti-o no teu olhar fixo e desconcertante. Negro. Profundo. Como uma lâmina brilhante. Intransponível. Pronta a cortar. Um eclipse que não permite olhar muito tempo. Sem danos. Sem marcas.

Voltas-te. Invisível, como sempre. Para te revelares repentinamente. Quando menos se espera. Belo. Altivo. Com passos estudados. Duma firmeza milimétrica.

A cada tua visita, batalhas inflamam. Despertadas talvez dos tempos Persas. Soltando pontas dum emaranhado indecifrável. Frases que boião à deriva, envoltas numa música estranha. Quase imperceptível. Distante mas ao mesmo tempo tão próxima. Onde uma mensagem murmura. Dança, descalça. Saltando de uma palavra para uma nota. De um tom improvável para um parágrafo indesejado. Revelando apenas pequenos fragmentos, soltos, do seu segredo. Como um incenso que perdura, na memória, muito para além de apagado.

Que me queres tu? Que me observas imóvel, sem nada dizer... Para, quando me apercebo da tua presença, partires. Sem tempo para questões ou respostas, apenas deixando este mar revolto. Imenso. Intraquilo. Inquieto.

2 comentários:

Andrómeda disse...

É curioso. Nesse preciso dia sentia um cavalo dentro de mim a resfolegar e a querer sair disparado a galope ... muito curioso quando vim aqui ver este texto ...

Dry-Martini disse...

Minha cara,

Oferecia-lhe o meu inquilino, não fosse gostar tanto de si .)

XinXin

Assíduos do shaker

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