5.02.2010

Para a minha mãe*

Um pedaço de pele
seboso e encarquilhado.
Um crânio a latejar
rosado, sem cabelo.
Sobretudo uma boca
a ânsia de beber
o teu mamilo inchado
oferto, todo meu.
Sobretudo o desejo
do teu vulto inclinado
carregado de aromas
carregado de espanto
a inventar
no meu olhar aguardo
uma réstea de mar
uma nesga de céu.

Como pudeste amar-me
despótica que eu era
apática neurótica
a exigir-te o corpo
os rins o seio o sono
a exigir-te a voz
o tempo as mãos a boca.

Como pudeste amar-me
a pesar-te no ventre
a dar-te pontapés
a pedir o teu sangue
a fazer-te gritar.
Como pudeste amar
conceber-me insurrecta
a parir-me poeta
ao fim de tanta dor.

Minha amante secreta
Meu barco na memória
razão da minha história
o meu primeiro amor.

Rosa Lobato Faria

* o meu primeiro amor

2 comentários:

Maria disse...

Cada vez que leio o "Meu Primeiro Amor" não consigo evitar a emoção, pela minha mãe que Adoro e pela mãe que não fui...

Dry-Martini disse...

Maria: Corrijo, pela mãe que não fui... ainda .)

XinXin

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