De manhã são de terra
as palavras que trago sobre a língua.
Sabem a trigo
ao sangue dos morangos
ao caule das papoilas.
Dizem coisas morenas e germinam.
São de terra. As palavras.
À tarde são de vento
e flutuam na seda das bandeiras
e deslizam na solidão das águias
e adejam ao limiar dos plátanos.
Desabridas desatam véus e medos
e porque são de vento
constroem catedrais e tecem barcos.
Fazem bater janelas do lado do poente
por onde espreita
a ponta de marfim da lua nova.
Depois são música nos teus cabelos de harpa
e desfloram lilazes.
Mas à noite são água.
As palavras são água.
Rosa Lobato Faria
3 comentários:
[corre fluida e veloz que nem damos por ela...]
gostei do Blogue... seguindo :)
...porque, por vezes, a água, teimosa, escorre pela face... de noite, sempre de noite. quando estamos sós, com nós mesmos.
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