1.25.2009

O sal da língua

Que as nossas palavras nunca fechem a porta.
Que permaneçam longas, num sabor de sal



Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.


Eugénio de Andrade

5 comentários:

SF disse...

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

Pepita Chocolate disse...

Bonito, desconhecia!

Dry-Martini disse...

Sónia,

Simplesmente amo as palavras e o meu poeta de eleição. Obrigado por entenderes também o seu mágico sabor. Obrigado pelo poema .)

XinXin

Dry-Martini disse...

Pepita,

Ficas a conhecer. E caso não conheças outros do autor aconselho vivamente .)

XinXin

[Ariana Aragão] disse...

Eugénio conhecia os segredos das palavras.

[O sal, o mel e as tâmras maduras das palavras.]

Assíduos do shaker

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