10.01.2008

Inside





Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

David Mourão-Ferreira

4 comentários:

Leonor disse...

Lindooooooooo!
Acho que ela já o interiorizou ou ele deixou-se interiorizar, não sei, mas é bom com certeza.

"Só por dentro de ti há corredores
" ... aaaaaiiiiiii, coisa mai linda!

Beijinhos

Andrómeda disse...

Só dentro de ti é que eu existo - parece-me que é esta a ideia :)

[Ariana Aragão] disse...

O poema, irrepreensível e único.
A música, uma fuga aos meus anos irresponsáveis e sonhadores.

Mas confesso-te Dry Martini que (embora ambos francamente interessantes) não combinam. São gostos.

Dry-Martini disse...

Ariana,

Respeito logicamente os teus gostos mas a ligação prende-se apenas com o facto da sonoridade desta música (talvez por a ligar ao filme Lost Highway) me remeter aos caminhos sinuosos e à descoberta dos corredores misteriosos e fascinantes referidos no poema

Está dada a explicação .)

XinXin

Assíduos do shaker

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