8.29.2008

Mistério de luz

noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras

hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se

onde se pode - num vocabulário reduzido e
obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir

apesar de tudo
continuamos e repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial


Al-Berto

4 comentários:

Noiva Judia disse...

Um dos meus poetas preferidos, ilustrado com uma foto fantástica...

Martini Man disse...

Carissimo,

Poderá haver dois Martinis na mesma blogosfera?

Se cabem numa mesa ao fim da tarde, tambem devem poder.

xinxin!

Dry-Martini disse...

MM

Perhaps! I still have Gin and I'm just a drink. Stirred but definitely not shaken.

XinXin

Dry-Martini disse...

Noiva

Também é um dos meus favoritos. Mas tenho muitos .)

Assíduos do shaker

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