2.20.2008

Mal entendido

Depois, e sempre mais, foi crescendo entre nós o mal-entendido. Não há nada pior que o mal-entendido. Há uma lei que prescreve que o mal-entendido, qualquer verdadeiro mal-entendido, tem uma tendência para crescer, alastrar, tornar-se cada vez mais insuperável, sobretudo, sim sobretudo quando se pretende superá-lo.
O que eu sei, agora que é tarde demais, é que nós não devíamos ter falado. Devíamos ter ficado calados. Devíamos ter feito o que tínhamos a fazer, cada um a sua coisa e os dois o que se pode fazer a dois – e há – mas sempre em silêncio, usando só pequenos gestos de mãos e aprendendo com todo o cuidado a ler nas expressões da cara o que mostra a alma. Também, de verdade, não há muito a dizer que não se possa dizer assim sem palavras.

Uma palavra pede outra palavra e uma frase outra frase e, aliás, nem há palavras, há só uma conversa que alguém começou há muito tempo e foi continuando sem acabar, sem nunca poder acabar porque, simplesmente, não devia ter começado. Vem no Livro que tudo isto começou com uma palavra, uma palavra, quem sabe, mal entendida.


Pedro Paixão

1 comentário:

lilazdavioleta disse...

Para os mal entendidos, não há como o silêncio e o decorrer da vida.
Tenho funcionado assim, e ñ me tenho dado mal.)

Assíduos do shaker

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