11.03.2007

Rasto de luz




A cidade estava vazia. Magicamente vazia. Acordara com uma estranha sensação de silêncio total. Foi à janela e avistou a rua completamente despida. Deserta. Nem carros a circular, nem pessoas, nem mesmo os habituais gatos vadios que costumavam passear junto ao telheiro. Nada. Apenas as luzes e uma espécie de rasto, quase imperceptível, que acenava numa dança ténue e o convidava a descer.

Desceu as escadas e começou a seguir o rasto. Era uma espécie de névoa com brilho musical, que curiosamente desaparecia quando se tocava para voltar a aparecer de seguida.

A cidade, que tão bem conhecia, parecia agora diferente. Sem qualquer sinal de vida ao seu redor. Apenas objectos imóveis, outrora despercebidos, que pareciam querer contar-lhe séculos de existência, aborvidos ao longo do tempo.

Sentia-se o único ser no mundo. Como se todas as formas de vida tivessem escorrido por entre as frestas ressequidas da terra para que algo pudesse ser revelado. Ao passar a ponte, a brisa parou subitamente, sentindo-se ainda mais observado à medida que ia seguindo aquele misterioso rasto. Parecia que conseguia ouvir o barulho das luzes, cada vez mais intensas.

Apesar da situação, uma tranquilidade impossível apoderava-se dos seus sentidos numa enxurrada de pensamentos calmos. Ao fim da estrada, um pequeno vale ocultava um clarão de luz. Percebeu ser o final do rasto. Que segredo lhe estaria reservado?

2 comentários:

lilazdavioleta disse...

Acompanhado por esta magnífica musica e um clarão de luz, o segredo que o esperava, só podia ser a " obrigação " de encarar a realidade, abrindo os olhos.

Dry-Martini disse...

Será?
Aguarde as cenas dos próximos capítulos .)

Assíduos do shaker

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