9.04.2007

Devir animal

Àquela hora naquele lugar. Como que num passo de mágica, as pessoas encarnavam o animal escondido nos seus corpos. Já tinha assistido a muitas manifestações desse fenómeno. Num gesto. Numa feição ou reacção. Num olhar. Aqui ou acolá, neste mundo de semelhanças e eternas repetições. Mas assim. Tão notório, tão explicito. Nunca vira. Naquela combinação astral, de hora e local, misturada talvez, numa outra coordenada indecifrável, algo inacreditável tornava-se na mais pura das evidencias. Indiscutível. Irrefutável. Por breves momentos, um regresso à inocência. Onde a mais vil crueldade humana se dissipava no vento. A mais urgente das pressas estalava em cacos ao sol e um aroma adocicado, de loucura colectiva, pairava algures na folhagem. Por breves momentos, eliminavam-se distâncias e o mundo tornava-se melhor.


Inspirado num quadro de Paula Rêgo

1 comentário:

lilazdavioleta disse...

É... o que sinto em relação à obra de Paula Rêgo e mesmo à própria pintora,é a existência de uma certa dose de " loucura ", que nos transporta ao primitivo,ao genuíno ao verdadeiramente humano.
Talvez,por isso, a sua obra provoque gostar muito ou nada. Indiferença é que não.

Assíduos do shaker

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