5.03.2007

Ekleipô

Pouco se conhece desta história, mas há muito muito tempo, nos primórdios do universo, Sol e Lua viveram uma paixão proibida. Encontravam-se às escondidas, no que foi talvez o primeiro desvio do universo matemático. Todos os astros, estrelas e planetas tinham uma razão puramente racional de existência, milimetricamente traçados pela pena do criador. E só ele sabia seus propósitos inquestionáveis. Mas por razões desconhecidas ou mero acaso cósmico deu-se a imprevisível paixão.

O Sol brilhava e dizia: Lua quero ver-te nua. Ela reflectia e respondia: por mais que me aqueças é melhor que me esqueças. E nisto andavam, num magnetismo inconsolável sem se conseguirem largar. Até que, certo dia, um cometa passageiro, arrastou consigo a notícia.

Foi assim que, ao descobrir, o criador deu um big big bang, dividindo o universo em galáxias, isolando-os do restante universo. Amarrou o Sol ao centro e colocou a Lua a girar em elipses distantes. Mas a paixão, de tão forte, fez o Sol desenvolver chama. Chamando a sua amada para perto de si. E a Lua fez-se espelho de todos os olhares, retribuindo em brilho as suas carícias. Desta troca de luz e calor libertou-se um pó fino e fecundo, semeando vida na Terra, que começou, também, a amar entre os seus e a girar entre os dois progenitores.

Quando se alinham, os três: ora se cobre completamente a Lua do Sol, na sombra da Terra, lembrando o seu amor impossível, ora se consomem em saudade, quando a Lua se interpõe entre o Sol e a Terra, eclipsando o criador nas suas pretensões.
Desta história ficou a palavra ekleipô, grego desvanecer, que não tirou força aos Homens para admirar esse mistério planetário, sem barreiras, sem idade, que dá pelo nome de Amor.

2 comentários:

Lilazdavioleta disse...

Olá.!
O texto é lindo.
Mas quando há Amor nada nem ninguém o eclipsa.

Dry-Martini disse...

Será?

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