3.31.2009

O meu amor existe

O meu amor tem lábios de silêncio
e mãos de bailarina
e voa como o vento
e abraça-me onde a solidão termina

O meu amor tem trinta mil cavalos
a galopar no peito
e um sorriso só dela
que nasce quando a seu lado eu me deito

O meu amor ensinou-me a chegar
sedento de ternura
sarou as minhas feridas
e pôs-me a salvo para além da loucura

O meu amor ensinou-me a partir
nalguma noite triste
mas antes, ensinou-me
a não esquecer que o meu amor existe


Jorge Palma

Tainted Love #4



Pierre Doutreleau, França (1938 - ...)


Um movimento desfocado. Que puxa e arrasta, como um veleiro. Embalado num mar de sentidos. Um movimento sonoro ou uma profunda paz silenciosa. Ambos, replectos de uma nitidez oculta e delicada. Uma nitidez molhada. Que ofusca numa luz ondulante. Sempre em movimento. Sempre acenando aos olhos curiosos. Sussurrando cores esbatidas e texturadas.


Movimento-me pela tua ondulação, encontrando sempre nitidezes profundas na luz esbatida dos teus traços.

3.30.2009

Top | Inside

Encosta-te a mim e não me olhes, por agora. Sabes? Há coisas que os olhos não podem captar. Deixa-te estar, assim, apenas amparada no meu peito. Como uma folha ao vento. Aqui, neste cume do mundo. A esta hora mágica. Deixa-me abrir-te os braços, assim. Pegando-te nas mãos. Fecha os olhos e sente o mais fundo calor dos rostos, contrastando com o ar frio, a bater-nos na cara. Somos o centro do mundo. Aqui. Agora. Neste cume. À nossa volta, a vista mais perfeita pode esperar. Sente a suavidade morna a dissipar-se na pele e não digas nada. Nada. Respira apenas este silêncio próximo. Este momento de paz. Esta sonoridade escondida, que une as pulsações. Quando abrires os olhos terá passado. Quando abrires os olhos, apenas te quero beijar.

3.29.2009

Diz-me o teu nome

Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão

com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,

como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o

nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.

Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.



Maria do Rosário Pedreira

Same time

White Lies, To Loose My Life



[ Let's grow old together,
And die at the same time.
Let's grow old together,
And die at the same time ]

3.28.2009

Selecção Nacional

A minha selecção nacional (também com alguns brasileiros naturalizados), enquanto comandada por este xôprofessor, demasiado educadinho, brandinho, bloqueadinho e sentadinho no banquinho passa a ser formada pelos seguintes 16 convocados:

Al Berto
António Lobo Antunes
António Ramos Rosa
Carlos Drumond de Andrade
Cecília Meireles
David Mourão Ferreira
Eugénia Tabosa
Eugénio de Andrade
Fernando Pessoa
Herberto Hélder
Maria Teresa Horta
Mário Cesariny
Mário Quintana
Miguel Torga
Pedro Paixão
Sophia de Mello Breyner Andersen


É que com estes, não só não perco o meu tempo, como garantimos um jogo fluido, poético, e dificilmente nos batem.
Tenho dito.

Despistado

Era um tipo tão despistado, tão despistado, tão despistado, que,
neste fim-de-semana perdeu uma hora.

3.27.2009

Tainted Love #3



Jack Vettriano, Escócia (1951 - ...)


“O mais comercial dos pintores vivos”, para alguns, ou “vulgar, sem imaginação”, para outros, não te agoirariam nada de bom. Mas conheci-te antes de o saber e, sabes? nunca me guiei ou verguei aos críticos. Cativaste-me ao primeiro olhar, nos teus retratos simples, de estranhas perfeições. Algures, entre um retro charmoso e um subtil travo de banda desenhada. Momentos guardados, aprisionando calor e sensualidade, no teu traço inigualavelmente simples, incomodativamente tão certo. Onde apetece entrar. Onde tudo faz sentido.

Abençoada namorada que te ofereceu essa simples caixa de aguarelas, onde tudo começou.

O nosso amor é clandestino

Deolinda, Clandestino


[ A noite vinha fria
negras sombras a rondavam
era meia-noite
e o meu amor tardava ]

3.26.2009

Pena

Ninguém é obrigado a dar uma esmola, mas incomoda-me profundamente quem satiriza a situação frágil de quem o faz ou humilha, na sua prepotência de pedestal e superioridade. Há gente muito estúpida. Ha gente que, essa sim, mete pena.

Pergunta pertinente II

Sabem o que é que o Steve Jobs perguntou à assistente ao ouvir o “Yes, I Can” no discurso do Obama?

I Pod”?

3.25.2009

A barca de cinzas

O silêncio estranho de certos lugares desprovidos de ti. Como que um eco distante. A beleza delicada da caligrafia [a que poucos reparam], que me desenha os teus gestos inimitáveis, devagar. Redondos. Esguios. Movimento a movimento. Pausa a pausa.

Um gesto mais demorado, remexendo a memória. A tua imagem numa dança clássica. Em pontas, elevando-se, lentamente, numa beleza insuportável. Insuportável, ao ponto de levar a fechar os olhos com força. Cerrados, para te dissipar para um lugar mais distante.

Um pestanejar feito de pedra no charco. Agitando esse lago espelhado do teu ser, que conheço de cor: corpo, alma, envoltos num lume lento até te fazer cinza. Afastando-te na ondulação. Sabendo que voltas como uma maré. Sabendo que permanece o desejo. Sabendo que não mais te quero ver.

Pergunta pertinente

Pois sim Xôtor, tomo toda a medicação à risca, mas posso tomar
à mesma o Martini se substituir a azeitona pelo comprimido, não posso?

Tainted Love #2



Michael Parkes, EUA (1944-...)


Mago de lendas e sonhos vivos vertidos num líquido sedoso. Ondulando aos olhares. Uma realidade oculta. Paralela, não sei se próxima se distante. Um balançar de mistério e ambiguidade. A pureza frágil da imaginação, ganhando asas mitológicas. Anjos e demónios descendo, numa espécie de noite clara, iluminando em formas polidas. Pedras quentes, sedutoras. Onde apetece tocar ou perdermo-nos. Onde apetece mergulhar na viajem.

Ilustras o irreal, que me, por vezes, mais próximo que a realidade.

3.24.2009

Pelos teus ramos

Tenho cores esquecidas para te mostrar
Surpresas, suspensas como brisas
Que te quero confiar pela mão quente
Percorrendo, o teu rosto lento

Tenho ramos altos com frutos exóticos
Que te deixo colher, na ansiedade dos lábios.
Beberei neles a frescura das palavras
Que levitam em ti, mesmo antes de as dizeres

3.22.2009

Tainted Love #1



Edward Hopper, EUA (1882 – 1967)



A solidão contemporânea, urbana. O mistério e realismo de mãos dadas. Calados, num olhar reservado, que se propaga sem pressa, sem tempo, num sussurro sem fala. O vazio dos lugares. Iluminados, por uma luz tépida, estranha, envolta dum silêncio perturbador.

Pintas a solidão e o realismo e tocas-me em alguns pontos desses lugares.

Nasca, o colibri siamês

Conheci-te num dia quente de Primavera: longe de tudo, longe de todos, longe de mim. Longe. Que longe estava de ti.

Apareceste no meu percurso no teu pequeno porte subtil, de aparência inofensiva. E numa rapidez ágil, vinda do nada, mudaste tudo. Tomaste-me, de assalto, o olhar.

Quando o percebi, já era tarde Nasca. Tarde demais. Sem nada poder dizer ou fazer apoderaste-te de mim, na tua delicadeza estranha. Próxima, gémea, siamesa. Colada demais aos meus olhos para te poder arrancar.

Uma imobilidade estática que partiu para dentro de mim. Quente, colorida, de aromas florais.

Passas-te a povoar-me com o néctar dos teus beijos, que alastravam como um incêndio incontrolável. Que polinizavam um mistério na pele queimada, pelo desejo de te ter, entranhando-te no sangue, misturado em mim. Aumentando a pulsação ao limite de ter de te deixar.

Fazia-me mal o tanto que me sabias bem Nasca. Sugaste-me tudo. Tudo, menos esse desejo doentio. Beijei muitos depois de ti, mas nunca senti essa cor estranha e familiar, algures entre o toque e o olfacto. Entre o mar e o céu. Essas linhas de Nasca que me prenderam a ti. Que me amarraram.

Nunca mais te vi. Nunca mais te quis ver. Nunca mais voltaste. Nunca mais. E apesar de viver, todos os dias, sem te ver, sempre serás um mistério. E apesar de viver todos os dias, todas as flores morreram para sempre. Irrecuperavelmente. Para sempre, depois do teu beijo.

3.21.2009

Dia mundial da Poesia

No prato da balança um verso basta para pesar no outro a minha vida


Eugénio de Andrade


Reeditado porque nunca cansa declamar este Senhor


3.18.2009

35

Pois é, parece que atingi o pico da curva. Foi boa a viagem. Rápida, é certo, mas sempre intensa e com muitas surpresas. Sempre a escalar, a subir, até aqui. Sem pensar nisso, cá estou, em cima, no ponto de inflexão. De braços abertos e olhos fechados. Sentindo o momento, o ar frio na cara e os raios de sol a aquecer-me a alma bronzeada. À espera do impulso para me fazer começar a descer.

Tem sido bom andar por cá. Tem sido bom cruzar-me com tantas pessoas fantásticas. Tem sido bom saborear muitos momentos. Como se fossem os últimos ou os primeiros. A vista é boa, olhando para trás.

Vou agora iniciar outra fase. O percurso descendente. Sem dramas, saudosismos ou melancolias. Apenas com o mesmo espirito de viajante. Com o sabor maduro da idade. Mais calmamente, espero, não demasiado. Náo perdendo nunca a jovialidade da descoberta, a criança, o sonho e a loucura dos impossíveis, o humor, os sorrisos, a intensidade e a surpresa que sempre quererei que me acompanhem até ao fim. Seja ele quando for.

Espero que a viagem continue a ser boa. Espero chegar ao fim da curva sem pensar muito nela, assim de repente, quanto tiver de ser, e continuar, até lá, a ter boas vistas como esta, daqui. Fantástica, no cume da curva. No cume da idade.

3.17.2009

Os teus passos

Há qualquer coisa magnética no aproximar dos teus passos. Os meus olhos confortavelmente sentados, fitando os teus. Ambos ligados, nesse lento aproximar.

Estico o braço, apenas para pôr música e apagar a luz. Os teus passos agora envoltos numa sonoridade morna. Dançando, com o nosso olhar e as luzes da cidade, reflectidas na janela. Os teus passos próximos.

Qualquer palavra é proibida, intredita. Os teus passos embriagando os corpos. Suplicando-lhes nudez. Exigindo beijos e torpor.

Tudo isso, nos teus passos a chegar.

Linda (de ti)

Eras linda. Sobretudo naquela foto, de que tanto gostava, e que sempre me apaziguava a desfeita de não te ter conhecido nesses tempos antigos. Um tempo impossível, em que nem eu ainda existia.

Eras Linda. Assombrosamente linda. Duma beleza que não cansava de olhar. De olhar com os dedos. De olhar e pensar que podias ter tido tudo. Que podias ter ido onde quisesses. Que podias ter sido mil e uma coisas. Sempre. A qualquer momento. Apenas à curta distância, do teu querer. Eras brilhante e ofuscavas quase tudo em teu redor, mas acho que só ambicionaste mesmo uma vida simples e recatada.

Foste traída, talvez, pelo destino, ou, mais certo, pelo teu jeito de não o querer contrariar. Na tua natureza meiga de dares ao mundo sempre o teu melhor. Deixando-te, tantas vezes, para trás. Outras, calada, numa dor que um dia te visitou, e veio para ficar.

És a pessoa mais culta e sensível que conheci. Demonstrando-o, nas mais pequenas coisas, com uma facilidade sobrenatural que chega quase a incomodar.

O dia em que quiseste abandonar este mundo, e em que te tive, nos braços entre a vida e a morte, aflito, foi o dia mais triste da minha vida. Um dia que me roubou algo para sempre. Que separou algo entre nós. Uma revolta, cresceu em mim. De te deixares afundar assim, sem nada fazer, sem resistires.

Dei-te vezes demais a minha opinião. Tantas, até me cansar e deitar os braços no silêncio. Atento, é certo, mas no silêncio. Não me cansei de ti. Nunca, tal acontecerá. Cansei-me apenas dessa tua fraqueza estúpida, quase profana, de não quereres mudar, podendo ter tudo, tão facilmente.

Sabes, apenas fico um pouco triste, certos dias, ao olhar para a foto. A tal, linda. É que me faz sempre pensar no quanto podias ter sido mais feliz. No quanto ainda podias. Hoje mesmo, se não quisesses ser assim. Assim, distante da foto mais linda de ti.


Para uma pessoa muito especial

3.16.2009

As aves


Afluem às margens, jogam
como se a água lhes pertencesse,
pousam no meio dos arbustos
como se tivessem todo o tempo! No
entanto, sabem que as nuvens
vão encher o céu; e que o norte
irá enviar o vento frio que as
há-de arrastar para sul, deixando
atrás de si o silêncio
nos campos. Mas pouco lhes importa
isso, quando se juntam, e
cantam a efemeridade do
instante.

Nuno Júdice

Presentes

Para quem quizer oferecer... É só escolher... Não sou esquisito .)


Opção 1: Relógio Dunhill "Citytamer"ou Montblanc "Timewalker"



Opção 2: Sofá Phillipe Stark ou Colunas B&O



Opção 3: Gravata Wesley ou Labrador



Opção 4: "Poesia Reunida" da Maria Teresa Horta ou "A Photographer's Life: 1990-2005" da Annie Leibovitz

Pronto, têm pouco tempo, mas já sabem .)

XinXin

3.15.2009

Don't Go

Nouvelle Vague, Don't Go

[ Can't stop now don't you know
I ain't never gonna let you go
Don't go ]

Tinhas razão, há covers melhores que os originais .)

Noite despida

As lanternas dissipando uma luz de velas. Oscilando, em sons de metal antigo, por entre a leveza da brisa inconstante. Sem padrão. Imprecisa. Acenando à lua cheia, prisioneira de todos os olhares.

A noite calada. Cúmplice. Numa tranquilidade atenta. Parada, como uma fotografia, nítida de algo ainda não revelado mas que se sentia próximo. A noite despida de tudo. Despida para si.

No velho varandim de madeira, sentara-se na cadeira de baloiço, acompanhada apenas de um maço de cigarros, quase vazio, e uma garrafa. Acompanhada simplesmente pelo movimento das mãos. Inspirando e libertando o fumo. Bebendo e pousando o copo. Num processo quase automático, como se não fosse seu, tão presa que estava naquele outro mundo.

Observavam-se mutuamente. Esperando algo inevitável. Num silêncio perverso. Como que à espera de um primeiro sinal, sabido certo. Quem cederia? Quem daria o primeiro passo?

O seu corpo partido em pedaços dispersos, unidos apenas pela manta escocesa, apertada com força. Segurando-lhe a alma aos ossos. Pronta a partir ao menor descuido. A paisagem esvaziada por aquele magnético crescendo. Aumentando a pulsação. Puxando-lhe o olhar. Abrindo uma espécie de pista assinalada pelas estrelas alinhadas. Unindo os seus caminhos.

Foi nesse momento que a noite lhe sussurrou ao ouvido, num breve toque mais frio, contornando-lhe o rosto e descendo, até à sua mão.

- Porque é que me amas tanto? Perguntou.
Deixou cair o cigarro instintivamente e respondeu como se sempre soubesse a resposta, no mais sobrenatural levantar de pássaros:
- Porque não precisas de mim. E só a mim cais desta forma para me levares nas tuas asas.


Escrito também a algum tempo atrás. Numa noite linda.

3.14.2009

Búzio

Nada. Ninguém. A sala despida de tudo. A TV desligada. Esquecida pela vontade de nada saber. De nada querer. Ausência de som. De movimento. Apenas um leve oscilar do cortinado. Uma dança imprevista. A textura polida dos objectos percorrida pela lenta passagem do olhar. Único viajante do corpo estendido. Entregue ao longo sofá. Cor de noite. Cor de manto denso.

Uma estranha solidão nadando nua no lago vasto da multidão. Dando à margem. Descansado. No búzio da minha escuta. Nada quero. Ninguém preciso. Nada. Ninguém. Ecos interiores assentando numa neve frágil. Difícil de agarrar. Derretendo rápido demais. Fazendo-se notar apenas num leve arrepio. Que teima em ficar.

Não saber o que quero. Não saber já nem o que não quero. Questionar. Não saber o que questionar. Vontade de adormecer ou partir. Mais um dia que passou. Tanto para fazer. Tanto para continuar. Descobrir a vontade no escuro. O telemóvel a tocar. Lembrando o mundo. Deixá-lo tocar até se esvair, também, no silêncio deste refúgio. Desta concha. Onde poucos entraram.

Todos parecem saber o que é suposto. Todos prescrevem receitas. Todos fazem demasiadas perguntas. Todos têm demasiadas certezas. Poucos percebem estas ausências. Poucos tocam com aquele simples abraço ou olhar. Morrer na noite anterior sem nada acusar na autópsia.

Músicas. Imagens. Memórias e pecados futuros. Todos em roda. De mãos dadas. Não sei se em sonho se realidade. Os teus olhos também. E a tua mão na minha perna. Contigo ao meu lado. Uma mão quente. Tão quente. Por todo o meu corpo.

Tempestades de lâminas afastam-te de repente. Não por minha vontade. Vindas do nada. Sem nexo. Sem fio condutor. Uma espécie de sol e chuva numa alternância aleatória. Sentir o choro de todos sem uma lágrima. Desastre. Acidente. Próximos. Tão próximos. Uma garrafa despercebida. Arrumada no bar. Desfocando dúvidas e certezas que passam no ar. Pairando ao redor. Preciso de espaço. Preciso de tempo. Preciso de ti.


Escrito há algum tempo atrás na pele de outra pessoa.

Timeless

Alguns de vós já, provavelmente, repararam na estranha mania de publicar alguns posts mais adiantados no tempo do que a data actual. Não, não é ansiedade, falta de orientação, complexo em publicar mais do que dois posts diários ou tentativa de aferir bugs do blogger ou de tentar por em prática a teoria da relatividade de Einstein. É apenas, e tão só, a minha subtil maneira de mostrar ao Tempo que aqui ainda mando Eu.


Pronto, está satisfeita a curiosidade F .)

3.13.2009

Rail away

Evaporamos ?

13 Projectos mais ou menos urgentes


1. Deixar de escrever por manifesta insuficiência de palavras

2. Começar antes a fotografar, só a preto e branco (curso de fotografia incluido)

3. Descobrir permanentemente novos grupos musicais fantásticos como este (que só descobri há muito pouco tempo)

4. Tirar brevemente outro curso de cozinha. Estou a pensar em "Fusion" ou "Wok" (mas aceita-se sugestões e companhia)

5. Despedir-me ainda antes deste Verão

6. Continuar a ver frequentemente ao vivo quadros que adoro como os deste senhor

7. Voltar, mais frequentemente, a certos locais que me dizem sempre muito

8. Ser mais selectivo com o tempo e com as pessoas

9. Surpreender sempre quem gosto e colecionar-lhes os sorrisos

10. Não deixar para amanhã o que me apetece fazer hoje, por nada deste mundo

11. Escrever algumas cartas para quem não existe (enviar até, porque não, uma ou duas pelo correio)

12. Escrever um livro, (como despedida do ponto 1.) e deixá-lo abandonado (e sem cópia) prepositadamente num local movimentado

13. Organizar a mini biblioteca, há muito adiada, depositando (apenas temporariamente) algumas das minhas maiores preciosidades, antes de as começar a oferecer, uma a uma, meticulosamente às pessoas que me são mais queridas

3.12.2009

Mudar é...



Forever Young

Youth Group, Forever Young


[ Lets dance in style, lets dance for a while
Heaven can wait were only watching the skies
Hoping for the best but expecting the worst
Are you going to drop the bomb or not? ]

Uma cover melhor que a original, não me constuma acontecer

3.11.2009

Fly away

Planamos ?

A autista incomunicável

Vou confessar-vos um pequeno segredo. Detesto telemóveis. Chego mesmo a abominá-los, o que me faz muitas vezes esquece-los (mais ou menos prepositadamente) em variadíssimos locais. Considero-os um gadjet totalmente dispensável, uma verdadeira praga, que nos afasta, tantas vezes, do contacto directo ou conduz à extinção do lento prazer de escrever uma carta.

Estou seguro que conviveria muito bem sem telemóvel. Juro-vos, a sério. Acho que é utilizado, a maioria das vezes, desnecessariamente e, tantas vezes, meramente para importunar, fazendo-nos estar naquele estádo maçador de disponibilidade permanente (apesar de usar bastante o botão de off).

Apesar da minha pretensa “alergia”, parece que tenho o dom magnético de atrair pessoas (entenda-se cromos), para junto da minha reservada pessoa, partilhando os seus toques horriveis e irritantes e as suas intimidades mais recônditas, sem eu estar minimamente interessado. Juro-vos que até me tento afastar ou abstrair. A sério, mas, castigo ou vontade divina, é manifestamente impossível.

Desta forma, presencio frequentemente autênticas pérolas: Ele é tenores de ópera que, em vez de falar, gritam sonoramente, para toda a multidão atenta, ele é, outras criaturas mais elaboradas, que complementam esses dotes vocais com gestos e caretas inimagináveis e até (olhem o entusiasmo), seres que nos fazem sentir adivinhos de todos os finais de frase pelos repetitivos "c******” ou "f***-**" com que nos brindam (dando uma fonética deveras poética à conversa já por si fastidiosa) e permitindo o fabuloso jogo do máximo de palavrões por frase (até agora só batido por um taxista do Porto em jogo do FCP).

Nada disto seria novidade (estou em crer) e, como tal digno deste desabafo, mas partilho algo de novo, que ainda não tinha tido o prazer de presenciar (que mais me irá acontecer?) e que reforça a minha vincada vontade de irradiação de tal objecto. Passo a transcrever na integra o presenciado (devendo ouvir-se com voz rouca Coheniana, trocando apenas o timbre sexy por um tom alabregado-abagaçado):

“Mariaaantóoonia? Mariaaantóoonia? (+12 vezes) Mariaaantóoonia? Estás-me a ouvir-me Mariaaantóoonia? (ligeiramente pró ensurdecedor, mesmo dando o desconto da pretensa surdez crónica da D. Maria Antónia) Mariaaantóoonia? (Respiração funda) Mariaaantóoonia (pausa) “f***-**”, não sei para que é que tu queres esta “m*****” se não sabes carregar nos botões" (respiração rápida e descontrolada de quem acabou de explodir)"

Ora ai está! Está a ver como é dispensável? Estás a insistir e a irritares-te e mais valia, (digo eu), tomares um Xanaxzito, respirares fundo, e esperares, um bocadinho. Melhor, mandares antes um SMS. Humm? Que me dizes?. Vais ver que, apesar de surda, ela responde, a não ser que também tenha falta de vista ou esteja a fazer de propósito.

3.10.2009

Drive away

Arrancamos ?

Piropos

Tomando por base este post e como forma de cumprir a promessa feita à sua autora e desafiar as minhas ilustres e iluminadas leitoras fica o seguinte desafio:

1. Revelarem o melhor piropo que alguma vez vos proferiram, que, pela sua graça, subtil inteligência ou requinte de malvadez descarada, vos ficou na memória;

2. Produzir um (da vossa inteira autoria) para um(a) blogger, à vossa escolha, e publicitá-lo também (apenas se exige alguma ousadia e criatividade);

3. Passar o desafio a 6 pessoas (tantas quanto as letras da palavra “Piropo”)

E pronto, podem soltar a vossa veia de trabalhadoras das obras ou de Benny Hill's alucinadas. Fica à vossa inteira responsabilidade.

Passo a batata quente à: Buttafly , Mlee , Miss Glitering, Nikky , Polo Norte e Pepita

Logicamente está também aberto a quem se queira aventurar, até porque me é sempre muito dificil fazer este tipo de selecções

3.09.2009

Bico de Lacre

Recordar-se-ia, para sempre, do seu aroma quente e delicado de romã. Exótica, com uma suavidade madura e sumarenta. Que permanecia no sangue e alucinava. Guardá-la-ia no chilrear subtil dos despertares sonolentos. Demorados. Num nome de pássaro simples. Numa bicada funda, lacrando, na memória, as asas do desejo.

Green World

Gorillaz, O Green World

[ O green world
Don't deserve me now
I'm made of you and you of me
But where are we? ]

3.08.2009

Sail away

Embarcamos ?

Cores

As tintas sujam as mãos e vivemos hoje no imaculado tempo electrónico que não deixa qualquer rasto na memória.

Pedro Paixão


Gosto de percorrer as tuas cores com as mãos. Gosto do teu rasto, entranhado na minha memória

3.07.2009

Som d'água


Não sou o meu nome
Não sou a minha idade
Não sou a minha voz
Não sou até, por vezes, o reflexo do espelho
Não sou um único lugar
Não sou passado ou futuro
Não sou partida nem chegada
Não sou transparente
Não sou, puramente, clássico nem moderno
Não sou um retrato aprisionado
Não sou o verso vorazmente consumido
Não sou a palavra despida, fugaz
Não sou o que tenho nem o que terei
Não sou de ninguém, às vezes, nem de mim próprio
Sou, talvez, um simples som de água
De água a correr, num final de tarde

A vida não para

Lenine, Paciência

[ Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para, a vida não para não ]

3.06.2009

On your mark... Get set... Go!

De volta ao jogging após prolongada paragem. Velhinho Discman (por falta de paciência para actualizar o iPod). CD B-Sides & Rarities do Nick Cave & the Bad Seeds num final de tarde bastante tardio. Um mundo novo que sempre se abre quando corro, envolto em música. Como que apurando os sentidos. Despertando-os para coisas simples, despercebidas ou perdidas, no ruido quotidiano do mundo. Como uma história viva libertando novelos com pés de lã. Pensamentos brotam. Imagens intensas, ofuscam, em catadupa. Vindas de longe, do nada. Gosto da sensação.

Um arrepio repentino surge no rio, como uma mão invisível passando calmamente por um veludo escuro. Acompanho o seu afastar até o perder de vista. Adoro o rio. A sua ondulação ténue de brilhos de lua. A noite a cobri-lo, lentamente, naquela hora mágica, adormecendo a cidade cansada de mais um dia. A simetria das luzes, que apenas ganham a nobreza de um quadro, na distância. Na outra margem. Linda, a luz da cidade. Distante. Os barcos calados, ondulando destinos ainda por traçar. Por descobrir. As palmeiras lutando com o vento forte, a quererem libertar-se das amarras. Da estaticidade dos objectos.

Acabo cansado mas com a liberdade revigorante de uma viagem. Sempre uma descoberta de ideias, frases, pensamentos, que vão crescendo no dia seguinte. Que passam a acompanhar-me por alguns momentos. Outros, perdurando mais. Que vem até mim, não sei muito bem como ou porquê. Sem pressa. Sem percurso. Sem partida ou chegada. On your mark... Get set... Go!

Inspirar... Expirar

Inspiro-te
Percorres-me
Decanto-te
Envolves-me
Dissipas-te
Preenches-me
Absorvo-te
Habitas-me
Expiro-te

... Numa carícia lenta de mãos
... Num hiato de tempo, indefinído
... Filtrada. Misturada de mim.

3.05.2009

Anakin, a águia intermitente

Pareceu-me ver-te, à janela, ao acordar. Ou seria um sonho Anakin? Conheço-te á muito mais tempo que o momento em que te vi. Ou que acho que te vi. É que, por vezes, tenho esta estranheza Anakin. A estranheza de nunca te ter realmente conhecido mas de sempre estares presente. Lá no alto. Guardião dos céus. Planando numa sombra e desaparecendo num relâmpago, a pique, num piscar de olhos mais distraído. Estarás mesmo lá Anakin? Ou sou apenas eu que te sinto?

Lembro-me sempre de ti junto às pontes. É curioso Anakin. Essas mágicas passagens, que também ligam os seres, para além dos passos. Mesmo os seres que talvez não existam, ou nunca cheguem a existir. Como tu Anakin.

És a ponte. Ponte entre dois mundos. Soube disso quando me vi à beira do abismo. A um pequeno passo. Tão próximo. E lá estavas tu, no teu som, curto e estridente, a ecoar para além do momento. No teu bater de asas, planando em mim, salvando-me do salto. Fazendo a ponte para um prado verdejante. O mais verde que alguma vez vou conseguir imaginar. Um verde infinito, envolto de um sol quente. Âmbar. Profundo. Como os teus olhos Anakin.

Acho que nunca te vi realmente. És, talvez, uma espécie de espírito, que me segue ou acompanha. Mas sei que existes. Fizeste o favor de me deixar esta tua pena real, para o perceber. De águia real. Da qual fiz esta caneta com que te escrevo. Da qual fiz esta chave, da ponte que nos liga. Sem nunca nos termos visto Anakin e, ainda assim, nos vermos tanto.

Assíduos do shaker

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