Vou confessar-vos um pequeno segredo. Detesto telemóveis. Chego mesmo a abominá-los, o que me faz muitas vezes esquece-los (mais ou menos prepositadamente) em variadíssimos locais. Considero-os um gadjet totalmente dispensável, uma verdadeira praga, que nos afasta, tantas vezes, do contacto directo ou conduz à extinção do lento prazer de escrever uma carta.
Estou seguro que conviveria muito bem sem telemóvel. Juro-vos, a sério. Acho que é utilizado, a maioria das vezes, desnecessariamente e, tantas vezes, meramente para importunar, fazendo-nos estar naquele estádo maçador de disponibilidade permanente (apesar de usar bastante o botão de off).
Apesar da minha pretensa “alergia”, parece que tenho o dom magnético de atrair pessoas (entenda-se cromos), para junto da minha reservada pessoa, partilhando os seus toques horriveis e irritantes e as suas intimidades mais recônditas, sem eu estar minimamente interessado. Juro-vos que até me tento afastar ou abstrair. A sério, mas, castigo ou vontade divina, é manifestamente impossível.
Desta forma, presencio frequentemente autênticas pérolas: Ele é tenores de ópera que, em vez de falar, gritam sonoramente, para toda a multidão atenta, ele é, outras criaturas mais elaboradas, que complementam esses dotes vocais com gestos e caretas inimagináveis e até (olhem o entusiasmo), seres que nos fazem sentir adivinhos de todos os finais de frase pelos repetitivos "c******” ou "f***-**" com que nos brindam (dando uma fonética deveras poética à conversa já por si fastidiosa) e permitindo o fabuloso jogo do máximo de palavrões por frase (até agora só batido por um taxista do Porto em jogo do FCP).
Nada disto seria novidade (estou em crer) e, como tal digno deste desabafo, mas partilho algo de novo, que ainda não tinha tido o prazer de presenciar (que mais me irá acontecer?) e que reforça a minha vincada vontade de irradiação de tal objecto. Passo a transcrever na integra o presenciado (devendo ouvir-se com voz rouca Coheniana, trocando apenas o timbre sexy por um tom alabregado-abagaçado):
“Mariaaantóoonia? Mariaaantóoonia? (+12 vezes) Mariaaantóoonia? Estás-me a ouvir-me Mariaaantóoonia? (ligeiramente pró ensurdecedor, mesmo dando o desconto da pretensa surdez crónica da D. Maria Antónia) Mariaaantóoonia? (Respiração funda) Mariaaantóoonia (pausa) “f***-**”, não sei para que é que tu queres esta “m*****” se não sabes carregar nos botões" (respiração rápida e descontrolada de quem acabou de explodir)"
Ora ai está! Está a ver como é dispensável? Estás a insistir e a irritares-te e mais valia, (digo eu), tomares um Xanaxzito, respirares fundo, e esperares, um bocadinho. Melhor, mandares antes um SMS. Humm? Que me dizes?. Vais ver que, apesar de surda, ela responde, a não ser que também tenha falta de vista ou esteja a fazer de propósito.
1 comentário:
ai o fcp....
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