10.31.2008

Buenos Aires aqui tão perto




Gotan Project, Confianzas


Mais um para marcar na agenda
20 de Dezembro, Campo Pequeno em Lisboa

Manhã lunar contigo na memória

Os meus passos sou eu e eu sou esta manhã lunar. A memória é como uma maldição. Caímos na eternidade e a memória é um peso, continua a prender-nos, em qualquer ponto. Lembro-me de tantas coisas impossíveis. Agora caminho por esta manhã deserta. As pedras do passeio debaixo dos meus passos. Ninguém, nem sequer eu próprio, me pergunta para onde vou. Sou aquele que sonhou com tudo aquilo que é proibido sonhar. A manhã [continua] é ainda lunar.

Frases soltas, (re)escritas extraídas dum texto do José Luis Peixoto

10.30.2008

Assim de repente

Depois do dia de hoje ando cada vez com mais vontade de pegar numa "coisita" destas, encher a mala de livros e uma caixa de bom vinho tinto e usar definitivamente (e sem negociação) as minhas ainda duas semanas de férias em paragens brancas, distantes e, sobretudo, não programadas. Assim de repente, ocorre-me neve, lareira, café forte e ausência de chefe e telemóvel. Nada mais. Nada mais.

10.29.2008

Támu, a leoa sem maldade

Salvei-te da morte, ainda criança, mas foste tu que me salvaste. Sem o saberes. Ensinei-te tudo, mas ensinaste-me o que não se ensina e nunca se esquece. Partias em certas noites, no fecundo chamar da savana. Num cio. Num aproximar dos teus. Mas sempre regressavas. Como da primeira vez. Como todas as vezes.

Tinhas todos os instintos felinos Támu, mas faltava-te a subtil maldade natural da sobrevivência. A maldade com que te quis ver partir, sem realmente o querer. Para teu bem, Támu. Para que a vida te sorrisse por inteiro. Longe de mim.

Chorei um dia inteiro. De sol a sol. Ao ver-te partir para sempre. Assim, abatida por mero recreio dos Homens. Esses sim impregnados de mal. Enterrei-te junto à acasia imponente. Onde o sol continua a bater à hora da sesta. Lembras-te das sestas Támu? Onde os meus olhos sempre se perderam. Onde ainda se perdem, por momentos mais ou menos longos, àquela hora secreta. Onde a planície procura o teu espreguiçar atlético e os dias passam. Sem pressa.

10.28.2008

Silêncios sonoros

Para ouvir sem palavras... o tanto que diz

Bach's Chaconne

Noite

Uma noite por ano uma noite pelo menos
assaltemos o céu e a Lua aprisionemos
Uma noite Uma noite Uma noite pelo menos

David Mourão Ferreira



Os faróis iluminando o denso da noite. Quieta. Despovoada. Calada. Os faróis a perturbar a sua frágil túnica. Funda. De sedosos imobilismos. Protegida no dormir dos corpos. Cansados. Todos tinham partido para nos deixar a sós. Nós dois naquela estrada deserta. Os faróis iluminando cada curva. Destapando as copas das árvores. As criaturas nocturnas. Passando, em relance, formas estranhas. Recordando lugares, objectos, conversas. Perdidas na memória. À escuta. Imagens resguardadas de sentido. Pela falta de luz. De nitidez.

Mais uma estrada silenciosa. Mais uma partida. Mais um destino. Mais uma brisa fria entrando pela janela. O sabor da mão estendida, resistindo à velocidade. Sentindo-a lá fora. Presente. Atenta. Desafiando-a nas curvas. E a estrada sempre vazia. E o vazio do tempo nos lugares. Como sempre foi. Como sempre será. O poder de tudo fazer por entre ela. Despida só para mim. Uma vontade de parar. Por momentos. E apagar as luzes. Ficar por entre o seu escuro. Escutá-la de perto. Acender um cigarro. Por uma música, talvez. Uma música decorando o negro aveludado. Dando-lhe um sentido que não existe. Que nunca existiu. Que nunca existirá.

Mais uma viagem nocturna. Mais uma vontade de partir com ela nas suas longas asas. Que se agitam em vento ténue. Na cara. Partir nos seus segredos. Antigos. Sedutores. Ramo a ramo. Grilo a grilo. Coaxar a coaxar. Fazer-me noite e dar a vez a um novo dia.

10.27.2008

Cultura empresarial (parte 2)

Finalmente penso ter percebido a razão do enigmático apelo (educado, é certo, mas de extremo mau gosto) no WC masculino, do novo piso dos escritórios, alertando para (e passo a citar) “Por favor tenha atenção ao botão” (será uma novidade? ou será que a dúvida reside na natureza do botão? Será que pensam ser o das calças?)

É que hoje cruzei-me com o, já ilustre, sexagenário (que pelos vistos também tem cataratas ou é dos tais que tem dúvidas quanto aos botões) e foi como se tivesse sido medicado por infusão olfactiva. Felizmente tive a sensatez de não ter fechado a porta de imediato e ter conseguido sair a tempo de não desmaiar. Das duas uma:

1. Ou ganhámos finalmente a multinacional farmacêutica com o argumento final de disponibilizar uma cobaia para testar os fármacos (como é que nunca me ocorreu?)

2. Ou as minhas colegas despertaram finalmente para o “problema” e foi uma tentativa de dar cabo do homem.

De qualquer forma já que cheguei à triste conclusão da necessidade do tal apelo, sugiro, no entanto, uma mensagem mais impactante e politicamente menos correcta. Algo do género: “Sim tu! Meu grande porco! Carrega no fdp (atenta que não é a abreviatura de futebol clube do porto, é mesmo isso) do botão depois de fazeres xixi (o termo xixi denota já o arrependimento da expressão fdp anteior). Lá em casa faz como quiseres mas aqui é assim. Ok?

Uma coisa é certa. Tenho que me manter atento. Medo. Medo. Medo.


PS: Desculpem a natureza degradante do post, mas tinha de desabafar e podem ser ainda efeitos secundários dos fármacos. Aceitam-se visitas ao domicílio de enfermeiras sensuais, com peito firme, lingery provocadora e bata de botões.

The cold light of morning



In the cold light of morning while everyone is yawning,
you’re high
In the cold light of morning the party gets boring,
you're high
As your skin starts a scratchin', wave yesterdays actions goodbye

Forget past indiscretions
And stolen possessions
You’re high
In the cold light

In the cold light of morning while everyone’s yawning
You’re high
In the cold light of morning
You’re drunk sick from whoring and high
Staring back from the mirror's
A face that you don’t recognise
It’s a loser, a sinner, a cock in a dildo’s disguise
In the cold light

Tomorrow
Tomorrow
Tomorrow

As your skin starts a scratchin'
And wave yesterdays action goodbye

Forget past indiscretions
And stolen possessions.
You’re high
In the cold light of day

Tomorrow’s only a kettle
Whistle
Whistle
Whistle
Whistle
Whistle
Whistle
Whistle
Whistle
Away

In the cold light of day


Placebo, In the cold light of morning

Húmida curiosidade

Os novos 7 pecados mortais: Curiosidade


A eterna busca incessante. Interminável. Sempre inacabada. Um passo à frente, outro para o lado. Nunca um recuo. O oco chamamento do desconhecido a corroer como sal. A desafiar a sede mais funda. O magnético abismo por desvendar. Um novelo caído com uma ponta solta. O caminho sinuoso de serpente em movimento. Escuro. Abnegando paradigmas. Abnegando o previsível. O imediatismo fácil.

És um focinho preto. Labrador. Húmido de sentidos colado à pele. Uma lupa viva. Atenta. Sempre desperta. Que cansa de incansável desejo de descoberta. Tubo de ensaio. Alquimista. Que alimenta uma fome de poço sem fundo.

A curiosidade matou o gato mas é farejar, e sabe bem das suas sete vidas.


Os novos pecados mortais: Ignorância em Andrómeda-News

10.26.2008

Vestes da palavra

Sabes

vesti-te de palavras
com o perfume da poesia
só para te despir na leitura

José António Gonçalves

O Quadro

Os teus olhos passarão a visitam-me todas as noites como luas de prata. Falando naquele brilho silencioso do embalar calmo das águas. Que descobrimos morar em nós. Milenar. Roubando as horas ao tempo. À meia luz.

Com eles passeiam mil frases soltas. Descalças. Ligadas numa imagem, num cheiro, num beijo que se prolonga, revelamdo-se apenas aos poucos. Frases e gestos despidos de preconceitos. Duma intimidade cúmplice. Que fere de assombrosa. Preenchendo todos os poros d’alma sem verter uma única palavra.

O toque da tua pele pelas minhas mãos famintas. A firmeza do teu corpo. Os contornos e contrastes. Os sinais que baptizei como estrelas. O teu cheiro venenoso. Os quadros pintados. Guardados na galeria mais funda de mim. Cravados. Iluminando tudo.

Amámo-nos como tinta em papel. E agora estás entranhada na minha pele. No meu respirar. Na minha sede.

Movement Boulevard

“Uma mulher a fugir é sempre mais bela do que uma mulher parada”

Pedro Paixão

10.25.2008

My advertisings #19


Johnnie Walker
Keep Walking

Dentro e sobre os homens

Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo. Como sangue, somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, as esperanças e o desencanto.
Depois das nuvens no último lugar do mundo, ficamos onde não chegam as vozes. Os nossos olhares estendem-se aos cantos mais esquecidos das casas, ao fundo do mar, aos lugares que só os cegos vêem, às rochas cobertas por folhas na floresta, às ruas de todas as cidades. Os nossos olhares tocam os lugares iluminados e tocam os lugares negros. Ninguém e nada nos pode fugir. À noite, estendemos os braços para entregar uma bala, ou um frasco de veneno, ou uma lâmina, ou uma corda. À noite tocamos em rostos. E sorrimos. O som de um tiro. O fogo dentro de um frasco de veneno. Sangue a secar na linha de uma lâmina. Uma corda esticada na noite. Morte fogo sangue morte. E sorrimos. Longe da lua, depois das nuvens, o nosso rosto é uma ferida aberta no céu da noite. O mundo diante de nós. Podemos tocar-te agora. Com o movimento mais pequeno de um dedo, podemos destruir aquilo que te parece mais seguro. Estás diante de nós. Se quisermos, podemos tocar-te. Se quisermos, podemos destruir-te.
Dentro e sobre os homens, somos o medo. São as nossas mãos que determinam a fúria das águas, que fazem marchar exércitos, que plantam cardos debaixo da pele. Sabemos que nos conheces. Em algum instante da tua vida, enchemos-te e envolvemos-te com a imagem da nossa voz, a imagem do nosso significado, o silêncio e as palavras. Num instante que escolhermos podemos voltar a encher-te e a cobrir-te. Sabemos que conheces o frio e a solidão à margem das estradas quando a noite é tão escura, quando a lua morreu, quando existe um deserto de negro à margem das estradas. Olha para dentro de ti e encontrar-nos-ás. Olha para o céu, depois das nuvens, e encontrar-nos-ás. Nunca poderás esconder-te de nós. Esse é o preço por caminhares sobre a terra onde, um dia, entrarás para sempre. As últimas pás de terra a cobrirem-te serão as nossas pálpebras a fecharem-se. Só então poderás descansar.
Somos o medo. Conhecemos tantas histórias. Todos os amantes que olham pela janela e imaginam que perderam para sempre. Todos os homens que, num quarto de hospital, abraçam os filhos. Todos os afogados que, pela última vez, levantam a cabeça fora de água. Todos os homens que escondem segredos. E tu? Escondes algum segredo? Não precisas responder. Conhecemos a tua história. Vimos-te mesmo quando não nos vias. Vemos-te agora. Escondes algum segredo? Responde quando te olhares ao espelho. O teu rosto duplicado: o teu rosto e o teu rosto. Quando vires os teus olhos a verem-te, quando não souberes se tu és tu ou se o teu reflexo no espelho és tu, quando não conseguires distinguir-te de ti, olha para o fundo dessa pessoa que és e imagina o que aconteceria se todos soubesse aquilo que só tu sabes sobre ti. Nesse momento, estaremos contigo. Envolver-te-emos e estarás sozinho.
Depois das nuvens, sobre os homens, debaixo da pele, dentro dos homens, esperamos por ti. Estamos a ver-te agora, enquanto lês. Estaremos a ver-te quando deixares de pensar nestas palavras. Dentro e sobre o teu rosto, sabemos os teus segredos. Sabemos aquilo que escondes até de ti próprio. Não nos podes fugir. Na palma das nossas mãos seguramos o teu coração. Se quisermos, podemos aperta-lo agora. Se quisermos, podemos esmagá-lo. Não podes fazer nada para nos impedir. O nosso olhar está parado sobre cada um dos teus gestos e sobre cada uma das tuas palavras. Diz uma palavra agora. Faz um gesto. Sorrimos perante as tuas palavras, como sorrimos perante o teu silêncio. Ninguém poderá proteger-te. Ninguém pode proteger-te agora. És ainda menos do que imaginas. Nós assistimos a mil gerações de homens como tu. Para nosso prazer, deixámo-los caminhar pelas linhas das nossas mãos. Para nosso prazer, tirámos-lhe tudo. Guiámos gerações inteiras de homens por túneis que construímos em direcção a nada. E, quando chegaram ao vazio, sorrimos. És igual a todos eles. Esperamos por ti dentro e sobre o teu rosto. Continua o teu caminho. Segue por essa linha da nossa mão. Nós sabemos onde termina esse túnel por onde caminhas. Continua a caminhar. Nós esperamos por ti. Sorrimos ao ver-te. Depois das nuvens, somos o medo. Debaixo da pele, somo o medo.



José Luís Peixoto



Porque há dias maus em que nos sentimos assim. Dias maus, para nos lembrar dos dias bons. Para nos darem força. Força para sempre os buscarmos.

10.24.2008

Escrevi um texto teu

Escrevi um texto teu. Daqueles que amo. De inicio ao fim. E me cortam a respiração. Escrevi-o com a lentidão da tua imagem invadindo o meu corpo. A tua imagem num mar interior. Batendo, com a tua voz de menina que tão bem me fez ouvir. Dentro de mim.

Escrevi um texto teu. Daqueles que são minha carne ou meu sangue. Escrevi-o para sentir o teu dedilhar de alma. Sem desvios. Sem enganos. Já que guardas as palavras. O poema do movimento das tuas mãos. Como se estivesse ao piano e me mostrasses o caminho dessa música magnética. Nota a nota. Passo a passo. Letra a letra. Revelando o teu percurso. Por onde passaste um dia.

Escrevi um texto teu. Daqueles que nunca me canso de ler. Mas que precisa do toque, do ritmo, para te aprisionar mais junto a mim. Pois a leitura já não chega. Perde parte da tua essência. E o mar da tua imagem sempre presente. Numa dança de palmas cardiacas. O teu cheiro impregnado na pele. A frescura dos teus lábios sussurando nevoeiros. Tudo isso no percorrer das teclas por onde passaste uma noite mágica.

Escrevi um texto teu. Daqueles que fiz meu. Daqueles que aproximaram de ti. Daqueles que nunca esquecerei. Daqueles que me assustam de tanto me dizerem. De tanto me tocarem. De tanto me chamarem.

Toma as minhas mãos e escreve com elas outro texto. Um texto teu. Um texto nosso. Estão abertas. Não vês?

You are the storm

Sonhei com uma tempestade no mar alto. Revolto
Amando-se na fome sôfrega de lábios de sal
Lutando. Quase violentos, pelo desejo de se tocarem
A tempestade eras tu e o mar, o mar sempre te trará de volta

10.23.2008

Cultura Empresarial

Mudei muito recentemente de piso de escritório, para passar a usufruir desse fantástico conceito que dá pelo nome de “open space”. Não sendo, em si próprio, uma novidade pessoal, passei a partilhar intimidades e vivências com mais uma empresa do Grupo e um conjunto alargado de novas pessoas e "espécies" dessa coisa fantástica que é a flora empresarial.

Entre o “galinheiro” inimaginável de meninas, palavras das minhas colegas (as mulheres são mesmo terríveis), que andam em êxtase por se matarem a trabalhar e verem as outras “criaturas” a ver se o tempo passa, calhou-me um “aparente” pacato vizinho.

Com idade para estar já reformado mas (ao que parece por vontade própria, ou talvez esquecimento) permanece na empresa, normalmente a ler o jornal ou a contar à sua colega os resultados dos seus exames médicos, o que almoçou ou outros temas tão ou mais interessantes. Poupo-vos a pormenores.

Tal facto não seria de todo relevante (até pela minha elevada capacidade de abstracção) não fosse o facto, desta semana, o dito sexagenário ter começado a fazer contactos telefónicos com dois pequenos detalhes, que combinados, se tornam no mínimo irritantes:

1. Ser surdo que nem uma porta, levando-o, não só, a berrar por toda a sala, como também (ao que aparenta) conseguir ficar a falar sozinho largos minutos sem o perceber.

2. Usar termos, tempos verbais e expressões hilariantes (que já ninguém utiliza) aliados a uma entoação algures entre o barroco medieval e um auto do Gil Vicente (desculpem mas não consigo qualificar por palavras).

Já pedi delicadamente se não se importava de tentar (reforço o termo delicado) falar um pouco mais baixo, alertando para o facto de existirem outras pessoas na sala e também efectuarem recorrentemente telefonemas, mas parece que não está a resultar (será que ele ouviu?)

Acho que as minhas colegas (a julgar pelo ar mais calmo e lancinante dos olhares) estão já a ultimar os detalhes da contratação de um serial killer que extermine definitivamente as “moçoilas vegetativas” do lado mas, dada a sua fixação entre elas, temo ainda não terem notado no “outro problema" e não o terem incluído no pacote. Aceitam-se sugestões.


Antecipadamente grato,
A gerência


10.22.2008

Incoerências Gourmet

Quer-me parecer que estou viciado nas sopas da Sucre e no
bolo de chocolate e manga da Portela Cafés.
Lá se vai a minha (já pouca) coerência.

Saber que me lês

É bom saber que me lês.
Nos dois sentidos: nas palavras e nos gestos
Mesmo que, às vezes, distantes ou retraídos

Não existirá nunca uma imagem para o pintar
Nenhuma, melhor que a tua, guardada
Dormindo junto a mim

Usei um simples pirilampo da memória
para lembrar ao escuro que toda a luz é supérflua
quando juntos.

No conforto fecundo, íntimo
tão próximo
do simples saber que me lês

Smile

"A smile is a curve that sets everything straight...."


Tomada emprestada no Flickr

10.21.2008

O primeiro dia

Um dia ainda nos vamos encontrar aqui.
Algures, entre o suspirar dos olhos
e um calor de raio de sol.
Aguardo esse dia como o primeiro.
O primeiro dia em que te vi

That's not your name


Para prolongar por todo o dia o teu sorriso. Um sorriso perfeito.
Pois sem ele não és verdadeiramente tu. That's not your name...



Four letter word just to get me along
It's a difficulty and I'm biting on my tongue and I
I keep stalling, keeping me together
People around gotta find something to say now

Holding back, everyday the same
Don't wanna be a loner
Listen to me, oh no
I never say anything at all
But with nothing to consider
They forget my name (ame, ame, ame)

They call me 'hell'
They call me 'Stacey'
They call me 'her'
They call me 'Jane'
That's not my name
That's not my name
That's not my name
That's not my name

They call me 'quiet girl'
But I'm a riot
Maybe 'Joleisa'
Always the same
That's not my name
That's not my name
That's not my name
That's not my name

I miss the catch if they through me the ball
I'm the last kid standing up against the wall
Keep up, falling, these heels they keep me boring
Getting glammed up and sitting on the fence now

So alone all the time at night
Lock myself away
Listen to me, I'm not
Although I'm dressed up, out and all with
Everything considered
They forget my name (ame, ame, ame)

They call me 'hell'
They call me 'Stacey'
They call me 'her'
They call me 'Jane'
That's not my name
That's not my name
That's not my name
That's not my name

They call me 'quiet girl'
But i'm a riot
Maybe 'Joleisa'
Always the same
That's not my name
That's not my name
That's not my name
That's not my name

Are you calling me darling?
Are you calling me bird?
Are you calling me darling?
Are you calling me bird?

The Ting Tings, That's not my name

10.20.2008

Flores

Nunca te deixarei flores
Buscarei antes
as raízes mais fundas do nós.
Para que as possas
conservar na essência
No cheiro dos dias


Cansaço

Estava cansado. Muito cansado. Cansado ao ponto de se perder. Talvez nunca se tivesse realmente encontrado. Talvez preferisse ter sido apenas descoberto. Talvez tivesse cansado dos próprios encontros e desencontros. Talvez já nem se lembra-se, ao certo, dos porquês.

Estava cansado. De tudo. De si. Devia ser isso. Cansado ao ponto de se entregar ao chão. Sem forças. Sentindo-o absorvê-lo no frio raiado do mármore branco. O frio a apoderar-se dos seus ossos como uma neve lenta. Num nevoeiro asfixiante. Adiando, o golpe final, apenas com o calor da bebida.

A transparência do líquido a desaparecer na garrafa numa alucinação dormente. E a tua voz. Rouca. Dançando distante mas na pele. Pincelando o tal branco com laivos de sol.

Ficava com ela como uma chama frágil, pronta a apagar a qualquer momento. A garrafa já vazia. A casa despida. Abandonada. E o espaço infinito a crescer. A crescer como uma trepadeira. O cansaço a esbater-se no sono. E a esvair-se sem sangue. Sem nada. Sem mais nada. Viajando algures entre dois mundos.


10.19.2008

Incerteza

A incerteza cai com a tarde
no limite da praia. Um pássaro
apanhou-a, como se fosse
um peixe, e sobrevoa as dunas
levando-a no bico. O
seu desenho é nítido, sem
as sombras da dúvida ou
as manchas indecisas da
angústia. Termina com a
interrogação, os traços do fim,
o recorte branco de ondas
na maré baixa. Subo a estrofe
até apanhar esse pássaro
com o verso, prendo-o à frase,
para que as suas asas deixem
de bater e o bico se abra. Então,
a incerteza cai-me na página, e
arrasta-se pelo poema, até
me escorrer pelos dedos para
dentro da própria alma.

Nuno Júdice

Agendado

Depeche Mode, Happinest girl


Mesmo a meses de distância, mesmo já os tendo visto, mesmo com novo album (que só sai em Abril mas já com nome de digressão - Tour the Universe), mesmo sendo no Porto, mesmo que esgote (vai esgotar), mesmo mil e uma coisas que entretanto possam acontecer, já cá canta o bilhete para estes senhores. Dia 11 de Julho no Estádio do Bessa. Agendado!

10.18.2008

As palavras por inventar


Plantei a ausência das tuas palavras
no deserto do meu corpo sem ti
reguei-o com a sede azulada da chama
que sei ainda morar no teu sangue

Nasceu então não planta, cacto ou flor
mas a noite mais antiga que os dias
Expessa. Crua. Aluada.
Uivando silêncios fecundos

Subi pelos seus ramos desnudados
Com a loucura dum veneno inflamável
Para te beijar do alto. No cume
Em mil palavras ainda por inventar

10.17.2008

A dança das certezas

Passei uma reunião inteira a ouvir frases feitas providas de um dogmatismo oco. Imediato. Certezas irrefutáveis: “É isto”. “É aquilo”. “Não há dúvida que é assim”. “Não espero que seja assado, frito ou cozido”. Quaisquer dos pequenos reparos ou alertas lançados, a possíveis diferentes hipóteses, perspectivas ou meras necessidades de acautelamento até aprofundar o tema foram sempre peremptoriamente rejeitadas (imediatamente e levianamente). Apesar de não ser religioso juro que se fez uma luz com a frase bíblica “Seja feita à sua vontade, assim na terra como no céu” passando a permanecer calado (mas com ar bastante tranquilo e bem disposto pelo fervilhar de certezas verificado na sala). Confesso que me apeteceu apenas uma de duas coisas: pedir a chave do Euromilhões (já que é sexta-feira) ou lançar para o debate o tema da pseudo-masculinidade do tipo que vestia roupa interior feminina e coçava os genitais. Consegui conter-me. Tenho uma certeza: Sou uma pessoa mais feliz.


Electrical storm

Massive Attack com phones e três livros do Pedro Paixão [um é manifestamente pouco e sempre preferi a solidária certeza dos números ímpares aos pares]. Café forte na manhã fria [espreguiçando-se, ainda, aos primeiros raios de sol à espreita]. Um cigarro há muito adiado [apenas um, como se fosse o último ou o primeiro] aceso por um isqueiro emprestado por mãos femininas [de click metálico e cheiro a gasolina]. O ligeiro ondular da água do rio contrastando com o cardume apressado para os trabalhos. Fechar os olhos, por breves segundos, sentindo a limpidez do tempo descalço. A passar, sempre indiferente a tudo e todos. Imagem cuidada por fora [fato escuro italiano e uma gravata de seda lisa, sem motivos para distrações e uns óculos escuros não para resguardar do sol mas para proteger o olhar sensível ao mundo], um desarranjo interior imperceptível, sem aparente razão de ser, e a vontade de ali ficar [por tempo indeterminado em busca de algo que se pressente vir]. Telemóvel em silêncio, piscando em tons azulados da cor do céu, fazendo reparar nas nuvens [É tão bom olhar as nuvens, curiosamente melhor quando tanto temos para fazer]. Mil pensamentos advindos de lugares ocultos [no mágico toque das imagens que se colam a nós como o calor de um chá muito quente que passa na garganta para se alojar, confortavelmente, até ao final do dia]. Não fui trabalhar toda a manhã. Porque há dias assim. Estranhos, talvez. Mas profundos. Bebidos de um trago. Corridos, sem parágrafos ou espaços vazios. Como este texto. Dias necessários. Necessários, para seguir em frente em todos os outros dias. Certos dias inexplicavelmente difíceis.

10.16.2008

Interessante

- “És interessante!”

Correndo o risco de parecer um pouco pretensioso, várias pessoas já me disseram isso. É curioso ouvirmos adjectivar a nossa pessoa nessa simples palavra - tão nua, tão só, tão isolada - mas que tanto agrega – o “interessante”.

Mas o que quererá dizer realmente? E que conforto traz isso, o de ser interessante? Torna-nos mais tranquilos? Mais felizes? Em pessoas melhores? Questiono-me no que poderá tocar em alguém a minha pessoa, por vezes tão distante, ausente ou reservada?

O meu interesse reside, talvez, na atenção às pequenas coisas simples? Na curiosidade extrema? No eterno questionar? Nas dúvidas tormentosas? Ou em algumas certezas (poucas)? No humor como arma para arreliar os Deuses? Na escrita como mágica libertação (de algo fundo e oculto que não sei explicar)? Nos silêncios da noite e nos banhos de Lua? No simples amor ao próximo? No desejo avassalador de paixão ou de impossível? No discurso do mar? Ou então, apenas e tão só, no que escondo no sangue?

Sim, acho que isso é mais forte que tudo. O meu interesse reside, porventura, naquilo que oculto (escondido de mim próprio). Quando tudo se revela estrangula-se irremediavelmente o interesse. Esvai-se o calor sensual da descoberta. O mistério morre frio. No esquecimento.

Agradeço o termo (carinhoso e muito sensual) mas, quer-me parecer, que nada tenho de interessante que não gostasse de me libertar. Mas gostos, como interesses, não se discutem. Logo fico-me por aqui.

Blue Moon stay with me


“E depois chegámos à lua só para matar um pouco a poesia”

Pedro Paixão


Blue moon
You saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own
Blue moon
You know just what I was there for
You heard me saying a prayer for
Someone I really could care for

Elvis Presley, Blue Moon

10.15.2008

Apresentação hilariante

- Esta é a Soraia. Mas não é de Chaves. Quando veio para cá era magra, mas agora como temos refeitório, e é à descrição, está neste estado.

Apesar da boa disposição da Soraia e da minha tentativa de minimizar os estragos, da indelicadeza, meteu-me um bocadito de espécie como é que certas pessoas se permitem a tais tratamentos.

Reinventar a Democracia

Vivemos numa sociedade profundamente sectária, individualista, cada vez menos educada e tolerante, sem valores ou ideais, preconceituosa, mesquinha, xenófoba, amorfa, gorda, de meras aparências, medíocre, invejosa, demagoga, com muitas opiniões e pouco fundamento, com escassas responsabilidades e deveres. Tudo sob a capa da pretensa democracia. Quer-me parecer, no entanto, que também ela entrou em rota de colisão, tendendo para um possível colapso e para a necessidade, dela própria, se repensar.


Convido, a título de desafio, algumas das minhas ilustres leitoras, abaixo indicadas, a formar um governo (provisório e totalmente feminino) e a elaborar um escrito (mais sério ou irónico) sobre um novo regime político. Fica a sugestão das seguintes pastas, mas têm total liberdade para as mudar e para proporem qualquer outra ideia ou organização. O convite é extenso a qualquer participante que se queira aventurar mas alerta-se que não existem mais "tachos" e as pastas estão por certo muito bem entregues...

M&M e Mlee (Ministras da Justiça e Reintegração Social);
Andrómeda e Rosa (Ministras da Tecnologia, Ciência e Inovação);
Sofia Dias Assim e Lilaz (Ministras da Educação, Humanismo e Conhecimento);
Ariana Luna e Joaninha ou Libelinha (Ministras da Cultura);
Nikky e Lover (Ministras da Equidade e Solidariedade Social);
Noiva Judia (Super-Ministra da Economia e Finanças);
Diabo no Corpo e Doce Veneno (Ministras da Saúde);
Pearl e SF (Ministras do ambiente e recursos naturais)


E agora deixo-vos em paz. Ide. Ide trabalhar :)

Inscrição sobre as ondas

Mal fora iniciada a secreta viagem,
um deus me segredou que eu não iria só...

Por isso a cada vulto os sentidos reagem,
supondo ser a luz que o deus me segredou...

David Mourão-Ferreira

10.14.2008

Prémio Dardos

Fico contente por te lembrares de mim, do meu “espaço”, ou dos caminhos que medeiam esses dois locais, por vezes próximos (outras distantes) e pelos quais te cruzaste. É esse o meu prémio. O único e desprendido.

Não creio ser merecedor de tais louvores: culturais, éticos, literários, pessoais ou criativos. Pensamentos vivos, talvez, pois escrever é, para mim, uma necessidade viva (como sabes), mas nada de louvar. Corre-me apenas como o sangue, nada mais.

Aceito o carinho. Todo. Vou guardá-lo num cantinho só teu (como o das viagens) mas o prémio deixo-o na gaveta (Desculpa. Pode ser?) aberta, para poderes sempre entrar, sair e voltar a entrar, quando quiseres. Já tenho o teu dardo há muito tempo – o teu sorriso que tem o condão de sempre trazer o meu pela mão .)

XinXin

Minhas. Tuas. Nossas

Guardarei todas as minhas palavras, tuas.
Que me moram e demoram
para os nossos olhos no escuro.
E saberei esperar.

Little differences



I’m the next act
Waiting in the wings
I’m an animal
Trapped in your hot car
I am all the days that you choose to ignore

You’re all I need
You’re all I need
I’m in the middle of your picture
Lying in the breeze

I am a moth
Who justs wants to share your light
I’m just an insect
Trying to get out of the dark
I will stick with you, because there are no others

You’re all I need
You’re all I need
I’m in the middle of your picture
Lying in the breeze

It’s all wrong
It’s all right
It’s all wrong
It’s all right
It’s all wrong
It’s all right
It’s all wrong
It’s all right
It’s all wrong
It’s all right


Radiohead, All I need

10.13.2008

Rainy day

On rainy days, we'd go swimming out
On rainy days, swimming in the sound , [U2]


A janela ficara entreaberta para o dia chuvoso entrar no quarto silencioso. Sempre gostara de ficar a ouvir o barulho da chuva horas a fio. O seu ritmo tão próprio no telhado. Num eco molhado. Diferente de tudo. Mas tão chegado de cheiros, pensamentos e viagens.

Apesar da chuva tinha arrefecido imenso e acordara estremecida. Gelada, sentindo a tua falta a meu lado. A lareira à distância de um braço mas uma vontade imóvel castradora de qualquer movimento. Fazendo-me permanecer na cama destapada. Despida. Sentindo o frio a alastrar nos ossos e a chuva a escorrer nos ouvidos atentos. Permanecendo ali. À espera dos teus passos.

Foi então que entraste, finalmente. Como um sol perdido. Despiste a roupa encharcada, a olhar para o meu corpo, e abraçaste-me com a pele mais quente que algum dia me tocará. Beijaste-me lentamente e perguntaste-me “Como se encontra uma lágrima à chuva?” Fechei-te os lábios com o dedo esticado e encostámos a testa e o nariz por momentos, libertando-nos com outro beijo. Nada mais dissemos. Dormimos agarrados. E a chuva parou.

10.12.2008

Arquitectura #4

A pedra envelhecida pelo tempo. Repleta de histórias adormecidas. Esperguiçando-se ao som da luz matinal. Espelhada em calor, por toda a tábua corrida, sob olhar atento dos quadros de fotografias a preto e branco.

[Casa antiga recuperada, Lisboa]

Suspensa

Encostar-te a uma parede e deixar-te assim. Suspensa. Entre o frio da matéria e o calor do meu corpo. Beijar o teu pescoço. As tuas costas. Esticando os teus braços nus como ramos etéreos. Percorrer-te por inteiro. Todas as curvas com as mãos. O avesso de ti com olhos fechados. Afastar suavemente as tuas pernas. E ter-te. Assim. Ali. Numa demência adiada da tua ausência.

10.11.2008

Mar de Setembro

Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
Fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves, só
alma e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto,
puríssimo, doirado.


Eugénio de Andrade

O inquilino III

Quer-me parecer que és Árabe. Senti-o no teu olhar fixo e desconcertante. Negro. Profundo. Como uma lâmina brilhante. Intransponível. Pronta a cortar. Um eclipse que não permite olhar muito tempo. Sem danos. Sem marcas.

Voltas-te. Invisível, como sempre. Para te revelares repentinamente. Quando menos se espera. Belo. Altivo. Com passos estudados. Duma firmeza milimétrica.

A cada tua visita, batalhas inflamam. Despertadas talvez dos tempos Persas. Soltando pontas dum emaranhado indecifrável. Frases que boião à deriva, envoltas numa música estranha. Quase imperceptível. Distante mas ao mesmo tempo tão próxima. Onde uma mensagem murmura. Dança, descalça. Saltando de uma palavra para uma nota. De um tom improvável para um parágrafo indesejado. Revelando apenas pequenos fragmentos, soltos, do seu segredo. Como um incenso que perdura, na memória, muito para além de apagado.

Que me queres tu? Que me observas imóvel, sem nada dizer... Para, quando me apercebo da tua presença, partires. Sem tempo para questões ou respostas, apenas deixando este mar revolto. Imenso. Intraquilo. Inquieto.

10.10.2008

Questionar

Não questiones o que sentes
Questionas a chuva? ou a tempestade?

Gays, Lésbicas e contos de fadas

Sabem o que tem 2 maminhas 14 tomatinhos e anda pela floresta?
A branca de neve e os 7 anões.

E o que é que tem uma neve espessa e preconceituosa, não tem tomatinhos e apresenta um conceito de justiça completamente anã?
Os líderes parlamentares dos principais partidos nacionais.


Se não é dada liberdade de voto individual aos deputados para a (quanto a mim justa) possibilidade de casamento entre homosexuais (independentemente de poder ser aprovada ou chumbada) porque razão serão precisos tantos deputados? Alguém me responde?

10.09.2008

inBlue

Gosto da tua maneira de, nunca fazendo perguntas, me dares sempre vontade de te contar tudo

Matinal

O meu barbear é tão antigo
como as tuas mãos.
Frias, quando distantes.
Cortando como lâminas ensonadas
Permanecendo quentes
na memória que me acompanha
no calor do sangue.

10.08.2008

A verdade da mentira

Cada vez mais questionava a utilidade de certas verdades. A sua inócua e imbeliscável aura sagrada. O seu prepósito ou missão por vezes tão desnecessários. Insensíveis até. Justificáveis apenas por essa palavra fundamentalista que tanto esconde afinal – a verdade. [Que coisa horrível de dizer ou mesmo pensar, à primeira vista].

Sempre fora seu seguidor. Adiando, quanto muito, algumas vezes (poucas) o seu frágil rebentar de bolha de sabão com o devido cuidado para não salpicar os olhos, sedentos de verdade. Não que gostasse da mentira: maldosa, mesquinha, intriguista. Nada disso. Mas a verdade tem muito de mentira em si mesma. Não existe, tantas vezes, no estado bruto. Absoluto. É volátil. Mutável. Por vezes, profundamente injusta. Má até. Por vezes apenas tranquilizante interior. Nem sempre para outrém, tantas vezes para ouvir o que se quer ouvir.

Cada vez mais questionava o momento e a esperança de vida de certas verdades. E ficava atento ao seu resguardo, quase carinhoso, que chegava a encarar como uma virtude. Para não ferir alguém, para não melindrar. Para não preocupar. Que atire a primeira pedra quem nunca guardou uma mentira.

São poucas as coisas que dispensam a verdade ou a mentira. Que simplesmente acontecem, crescem, existem e morrem. E ficam perfeitas assim. Nesse estado híbrido e tão tranquilo. Sem essa necessidade qualificativa do certo ou do errado. No inexplicável mistério de certas certezas universais, que dispensam a verdade ou a mentira. É talvez essa a pequena verdade presente na mentira. A verdade da mentira.

10.07.2008

Letting the cables sleep



You in the dark
You in the pain
You on the run
Living a hell
Living your ghost
Living your end
Never seem to get in the place that I belong
Dont wanna lose the time
Lose the time to come

Whatever you say its alright
Whatever you do its all good
Whatever you say its alright
Silence is not the way
We need to talk about it
If heaven is on the way
If heaven is on the way

You in the sea
On a decline
Breaking the waves
Watching the lights go down
Letting the cables sleep

Whatever you say its alright
Whatever you do its all good
Whatever you say its alright
Silence is not the way
We need to talk about it
If heaven is on the way
Well wrap the world around it
If heaven is on the way
If heaven is on the way

Im a stranger in this town
Im a stranger in this town

If heaven is on the way
If heaven is on the way
Im a stranger in this town
Im a stranger in this town



Bush, Letting the cables sleep


Apesar de tua, tomei-a emprestada para dormir. E, no acordar, ganhei de novo a vontade da escrita...

10.06.2008

Algures...


[Handel, Sarabande]

Sinto-me, algures, assim ...
com demasiada vida e morte interior
Algures...
Nestes sons
Nestes tons
Nestes mares e desertos
Algures...
Num jardim secreto
Desconhecido e reservado
e, não sabendo até quando
lá vou estar
não me apetece escrever

10.05.2008

Os teus sentidos em mim

Nós temos cinco sentidos: são dois pares e meio de asas.
- Como quereis o equilíbrio?

David Mourão-Ferreira



O sabor dos teus lábios? Ópio absíntico
O cheiro da tua pele? um insenso fecundo. Antigo
O teu som? Mar. Revolto
O teu toque? Asas de serpente curvilínea
O teu olhar? um quadro vivo
Onde tudo mora
Onde tudo acaba

10.04.2008

Dúvida... Certeza

Terror de te querer tanto ou de nunca te vir a conhecer...


Algures, numa barragem onde libertei uma música de água.
Aprisionada em mim. Onde sempre estivera. Sem nunca o saber.

10.03.2008

The Jazmin River



Don't be afraid
Open your mouth and say
Say what your soul sings to you

Your mind can never change
Unless you ask it to
Lovingly re-arrange
The thoughts that make you blue
The things that bring you down
Only do harm to you
And so make your choice joy
The joy belongs to you

And when you do
You'll find the one you love is you
You'll find you
Love you

Don't be ashamed no
To open your heart and pray
Say what your soul sings to you

So no longer pretend
That you can't feel it near
That tickle on your hand
That tingle in your ear
Oh ask it anything
Because it loves you dear
It's your most precious king
If only you could hear

And when you do
You'll find the one you need is you
You'll find you
Love you

Massive Attack, What your soul sings

10.02.2008

Mulheres em 20 questões

Assinale com verdadeiro e falso as seguintes questões.


1. É verdade que se as mulheres fossem à tropa as botas passariam a ser Pablo Fuster e teriam de existir acessórios a condizer.

2. É mentira que a razão de existirem 7 mulheres para 1 homem seja os 6 terem ido comprar tabaco ou passear o cão e o que fica seja descendente do Ghandi ou vendedor da Clinic.

3. É verdade que, actualmente, a história da Cinderela seria um completo flop: nenhuma mulher estaria na disposição de abdicar de um sapato, acredita minimamente em príncipes ou aceitaria recolher a casa antes das 0h00.

4. É mentira que as mulheres se atrasem. São apenas coerentes.

5. É verdade que as mulheres não estão a aderir aos carros sem chave. É que perde toda a piada prescindir do único conhecimento mecânico quando têm de o levar à oficina.

6. É mentira que Mulheres “à beira” de um ataque de nervos seja um filme Nortenho.

7. É verdade que uma das poucas razões para que o vibrador ainda não substitua a classe masculina é ainda não despejar o lixo.

8. É mentira que as mulheres sejam friorentas. Brrrrrrrr Avança lá rápido para o próximo ponto e não puxes a “mantinha” que já estou com os pés gelados.

9. É verdade que todas as mulheres da minha geração se recordem do Top Gun, tenham lido a Bravo, tido um crush pelo Bon Jovi ou dançado com as músicas do Flash Dance ou Dirty Dancing.

10. É mentira que quando Deus criou a mulher a cobra se tenha pirado com receio de virar Kelly Bag.

11. É verdade que para as mulheres o dinheiro não traz felicidade. Tal é manifestamente comprovado pela necessidade de ir às compras para o gastar de imediato.

12. É mentira que uma mulher consiga estar 2 horas ao telefone com uma amiga e tenha de voltar a ligar-lhe por se ter esquecido do que queria perguntar. Também existem os SMS’s.

13. É verdade que para as mulheres, melhor que um banho quente de imersãoé um banho quente de imersão com espuma. E melhor que ambos é um banho quente de imersão com espuma e com um “telefonezito” nas redondezas. O patinho amarelo é um opcional.

14. É mentira que a maior tentação feminina seja o chocolate. Também existem os bombons, as trufas, o bolo de chocolate, os brigadeiros, o gelado de chocolate, os M&M’s e as smarties. E por certo mais...

15. É verdade que a moda só foi inventada para as mulheres repararem umas nas outras, se andassem nuas teriam apenas de se contentar em reparar nos penteados, o que é manifestamente insuficiente.

16. É mentira que “não existem mulheres feias mas sim homens sem imaginação”. Qualquer homem sem imaginação estaria simplesmente lixado e não teria tempo para tais questões filosóficas.

17. É verdade que para as mulheres o anticontraceptivo mais fiável é, de longe, a enxaqueca.

18. É mentira que os anjos não tenham sexo por Deus Nosso Senhor ter querido evitar a licença de parto e foi a forma politicamente correcta que encontrou para o fazer.

19. É verdade, que o top de vendas para as mulheres na Divanni & Divanni, seja o sofá com pack manta, chocolate e filme do George Cloney.

20. É mentira que não possamos viver sem as mulheres. Mas seria sem dúvida uma vivência muito mais cinzenta e sem sal.

Os resultados da prova serão enviados oportunamente. Boa sorte.

PS: Não foi de todo intenção dos autores da prova ferir quaiquer susceptibilidades ou tecer quaisquer comentários pseudo-machistas, pelo que se apresentam as desculpas se tal se verificar (este parágrafo justifica-se, ou não estivessemos a falar de Mulheres) :)

10.01.2008

Inside





Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

David Mourão-Ferreira

Arquitectura #3

Luz invadido os poros do respirar arejado do espaço.
Simplicidade branca e o calor dum pequeno apontamento.


[Loft em Miami]

Assíduos do shaker

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