6.28.2009

Tão Tão... Tatão

Era tão quente, tão quente, tão quente que quando rapou o cabelo lhe começaram a chamar Niki Lauda

Era tão preguiçoso, tão preguiçoso, tão preguiçoso, que quando foi a uma praia de nudistas ficou com calos no cu

Era tão esquecida, tão esquecida, tão esquecida que quando lhe perguntaram a razão de ter a mama de fora ficou em pânico por se ter esquecido do puto no autocarro

Era tão velho, tão velho, tão velho que quando foi fazer um teste de fertilidade lhe detectaram espermatosauros-rex


Pronto confesso, ando a tomar medicamentos :)

6.27.2009

Coisas ocultas

Percorrem-me mil e uma coisas ao mesmo tempo. Surgem, por vezes nas coisas mais banais: Imagens, sons, pensamentos. Por vezes sinto-as presentes [atentas] apenas num afastamento de sombra a fugir, quase indelével. Num arrepio. Outras vezes tocam-me demoradamente com as mãos frias, com dedos finos, esticados. Afagando-me o rosto, encostando lábios molhados, deixando-se ficar, num calor morno. Infinito mas difícil de reconhecer. Algumas delas são voláteis como o seu esquecimento. Moram noutro mundo. Noutro tempo. Lugares estranhos, que não sei se vivi. Coisas que nem chego a perceber, mas que as sinto inexplicavelmente, percorrendo-me como uma dança nebulosa, oscilando sinais para logo partirem para longe. Partem sempre como chegam, avançando sem serem vistos, deixando marcas: ora leves ora intensas. Partem roubando a paz da respiração ou descansando guardadas nas pálpebras.

6.26.2009

Film Directors

Gosto muito de cinema, apesar de ultimamente não ver tanto como gostaria ou fazia noutros tempos. Uso, actualmente, mais o DVD, por manifesta falta de tempo [apesar de plenamente consciente de não ser a mesma coisa]. Tenho alguns filmes que já vi vezes sem conta. Alguns que faço questão de comprar. Outros que vi duas vezes seguidas no cinema.

Aqui há uns tempos, no seguimento de um desafio [impossível] de escolher o filme da minha vida, consegui [com extrema dificuldade] seleccionar quinze, escrevendo um pequeno texto sobre cada um deles. É-me muito difícil escolhe-los, pois gosto de muitos. Muitos me marcaram e continuam a marcar.

Mais fácil é, talvez, a escolha dos realizadores, de quem sou fiel seguidor [apesar de também não conseguir escolher apenas um]. Nomes que me acompanham há largos anos, outros mais recentes, mas que me lançam imediatamente a vontade de ir a correr ver os seus filmes. Nomes de quem admiro a obra, a sua evolução, a sua coerência ou fio condutor [alguns que com muita pena minha já partiram e a quem até já dediquei a minha modesta homenagem de agradecimento]. Assim, sem querer encurtar muito a lista e deixando de fora alguns, lembro-me dos seguintes:

Woody Allen | Pedro Almodóvar | Sidney Pollack | David Lynch | Roman Pollanski | Sam Mendes | Francis Ford Coppola | Sofia Coppola | Wim Wenders | Emir Kusturika | Sean Penn | Clint Eastwood | Alfred Hitchcock | Orson Wells | Tim Burton | David Cronenberg | Akira Kurosawa | Stanley Kubrick | Luc Besson

E os meninos e meninas? Têm algum favorito?

6.25.2009

Poema desnecessário

Este poema é absolutamente desnecessário
pela simples razão de que poderia nunca ser escrito
e ninguém sentiria a sua falta
Esta é a sua liberdade negativa a sua vacuidade dinâmica
e o movimento da sua abolição
a partir do seu vazio inicial
Mas qual é a sua matéria qual o seu horizonte?
Traçará ele uma linha em torno da sua nulidade
e fechar-se-á como uma concha de cabelos ou como um
[útero do nada?
Ou será a possibilidade extrema de uma presença inesperada
que surgiria quando chegasse a essa fronteira branca
que já não separaria o ser do nada e no seu esplendor absoluto
revelaria a integridade do ser antes de todas as imagens
a sua violência inaugural a sua volúvel gestação?


António Ramos Rosa

Só para que conste...

Chamem-me o que quiserem. Não acho piadinha nenhuma a Ferraris.
Para mim, a ser, seria apenas este modelo. Pronto!


6.24.2009

Let there be Love



Oasis, Let There Be Love


[ Who kicked a hole in the sky so the heavens would cry over me?
Who stole the soul from the sun in a world come undone at the seams?
Let there be love
Let there be love ]

Crónicas de um casamento

Isto de ter um casamento em pleno Verão está mal por si só. O facto de ter de usar imperativamente fraque piora substancialmente a coisa [pelo menos sempre se tira do roupeiro uma peça apenas utilizada em duas meras ocasiões].

O convite [leia-se, exigência irrefutável sob ameaças de morte] para fazer um discurso solene [quando só apetece dizer disparates] não agoura nada de bom [mesmo achando ser uma pessoa desenrascada e dominar na perfeição os ensinamentos "Bóbóbianos" (pensavam que era só o Aniki Bóbó era?)]. Adiante...

Mas será que se o pessoal faz mesmo questão de casar não poderia começar a organizar umas cerimónias Havaianas, ou algo mais descontraído, assim lá mais para o inicio da noite? Enfim, vamos lá esperar pelas cenas dos próximos capítulos.

6.23.2009

Escrever-te na pele

Apetecia-me escrever-te a pele bronzeada com o toque subtil de lábios de mar. Escorridos. Demorados. Num tom de tinta da china e embalos aquáticos. Libertando-os num eco colado. Numa sonoridade táctil, revolta.

Apetecia-me guardar-te num cintilar de sépia. Aprisionada no olhar. Despida, por mãos de sol.

A estrela brilhante

Somos arrastados por marés invisíveis. Correntes, imperceptíveis, que nos conduzem desprovidos de consciência. De vontades ou raciocínios. Baralhando-nos os olhos, julgados atentos, mas turvados pela azáfama dos dias que passam sem os conseguirmos agarrar. Levando-nos, arrastando-nos, sem que nos apercebamos.

Acordamos às vezes no mar alto. Sem pé. Como quem desperta de um pesadelo e se vê num local estranho. Não desejado. Num poço sem fundo. Às vezes, desprovidos de forças para regressarmos.

O mar está tão calmo hoje. Apetece abrir os braços e limitar-me a boiar, oscilar na sua leveza, nos seus sussurros. É de noite. O silêncio invade todos os sentidos de uma tranquilidade sublime. De todas as estrelas há uma que puxei para mim. Para sempre me acompanhar e orientar. Para sempre brilhar de uma forma diferente. Para brilhar mesmo com os olhos fechados.

6.22.2009

Fixamente

cai neve no cérebro vivo do imaculado - dizem
que estes milagres só são possíveis com rosas e
enganos - precisamente no segundo em que a insónia
transmuda os metais diurnos em estrume do coração

dizem também
que um duende dança na erecção do enforcado - o fulgor
dos sémenes venenosos alastra no brilho dos olhos e
um sussurro de tinta preta aflora os lábios
fere a mão de gelo que se aproxima da boca

o vómito da luz ergue-se
das palavras ditas em surdina

a seguir vem o sono
e o miraculado entra no voo dos cisnes
o dia cansa-se
na brutalidade com que a voz se atira contra as paredes
abrindo fendas
em toda a extensão das veias e dos tendões

quando desperta com o crepúsculo
o miraculado olha-nos fixamente e sorri
dá-nos uma rosa em forma de estilete - fechamos os olhos
sabendo que este é o maior engano
da eternidade

Al Berto

6.21.2009

Desesperante vazio

"- Do desesperante vazio?
- Muita gente apercebe-se do vazio, mas é preciso muita coragem para ver o desespero.


Saber o que se tem... Saber do que se precisa... Saber do que não se pode prescindir ..."


Gosto de filmes que me fazem pensar.

Os anjos que conheço são de erva e de silêncio

Os anjos que conheço são de erva e de silêncio
nalgum jardim de tarde. Mas quais os mais ardentes?
Feitos de mar e sol, elevam-se nas ondas,
entre as mulheres de coxas tão fortes como touros

O meu luto é de mesas e de bandeiras sem paz
É estar sem corpo à espera, inconsolada boca,
o fogo ateia o peito, a cabeça perde a fronte,
o vazio rodopia, é o celeste inferno.

Desço ainda um degrau com o anjo infernal,
um turbilhão de ervas, um redemoinho de sangue
Quem me vale agora se perdi o meu cavalo?


António Ramos Rosa

6.20.2009

Aprovado e recomenda-se

Cozinhar tem, em mim, um efeito sempre relaxante. Quase terapêutico. Gosto particularmente de o fazer com a lentidão do tempo, ao som de música, e entre uma garrafa de vinho. Sobretudo na tranquilidade do fim-de-semana. Do desafio da descoberta. Dos pequenos detalhes. Das experiências da conjugação dos sabores. Dos mais leves aos exóticos.

O almocinho de hoje foram uns wraps de peito de frango grelhado com queijo feta e papaia acompanhados de uma fabulosa sopa fria de meloa com hortelã. Aprovado e recomenda-se.

Algures, por aqui

Shubert, Death and the Maiden



Hoje andei algures por aqui nos pensamentos, depois de uma breve chamada que não tive tempo para tratar devidamente [que não era mesmo passível de ser tratada por telefone]. Em que apesar de o explicar com toda a clareza, com toda a calma, com todo o silêncio deste mundo, fui empurrado a dizer o que não queria.

Hoje andei algures por aqui nos pensamentos, entre sensações e sentimentos que não apetecem transpor em palavras. Mais pelo tom que pelo conteúdo. Mais pela injustiça que pelo significado. Mais pelo que ficou que pelo que se disse.

Hoje andei algures por aqui nos pensamentos. Esvaziei-os a todos, antes de chegar. Como cordas, vibrando até ao silêncio total. Calaram-se à pouco. Já não vibram, mas cheguei cansado.

6.19.2009

O escritor imóvel (revisitado)

Permanecia imóvel, apenas respirando. Abrindo e fechando os olhos esponjosos. Atentos. Sentindo o sangue, em constante viagem. A mando de algo ou de alguém [estranho, ter tantas coisas dentro de nós que não se comandam. Que não ordenamos. Que, tantas vezes nem damos por elas].

O cansaço a ocupar-lhe os cantos. Todos os espaços. Um navio pesado a ondular na respiração. A conquistar território, como uma droga a alastrar. Um cansaço aquático, submergindo o corpo estanque, com a alma aprisionada. Fechada. Sem fuga possível.

Não lhe resistia. Podia escapar-lhe facilmente, num simples movimento. Numa acção. Mas não. Não lhe apetecia. Permanecia imóvel, olhando apenas o deslizar das sombras, as sonoridades das coisas. O conteúdo que habita dentro do vazio.

O tédio de tudo ter feito ou podido fazer. Sem nunca lhe chegar. A alegria fugaz das coisas simples. A insuportável sensação de nada desejar. A solidão estranha num mar de gentes. Num mundo cada vez mais distante. Uma ilha que fizera sua. Afastando o outrora próximo: pessoa a pessoa, lugar a lugar. Uma amarra que se soltara de vez, para não mais se conseguir agarrar. A nada. A ninguém. Um barco à vela sem direcção.

Permanecia imóvel abandonando os enganos das palavras, apreciando apenas o seu som e movimento [todos se enganam com frases feitas. Oferecidas aos outros e a si próprios. Com mais ou menos confortos. Com mais ou menos alentos. Falsas fés. Esperanças incontroláveis].

Permanecia imóvel partindo na leveza da brisa ou numa música agradável ao toque. Num pássaro azul, pousado à janela. [Partir para onde? Para quê?] Regressava com o eco dos pontos de interrogação, a cravarem-se como setas, deixando instantaneamente de o serem para se transformarem em vis certezas desérticas. Vastas. De perder de vista no fio do horizonte. E o cansaço incansável. Impiedoso, a ganhar corpo ao próprio corpo.

Não lhe resistia. Baixara as luvas invisíveis convidando golpes miúdos de mar. Dançando-lhe certeiros. Desgastando os ossos antigos. [Dizia-lhes calado: É só disso de que és capaz? Sorria para dentro, num falso orgulho, que nunca existira, consciente da queda breve. Próxima. Inevitável. Reconfortante, talvez].

Permanecia imóvel adiando o tempo do próprio tempo. Esticando-o ao limite. Podendo inverter tudo à distância de um simples desejo. Ali, naquele preciso momento. Mas sabia-os infrutíferos. Perecedouros. Sucumbiriam rápido demais para o seu tempo de núvens estreladas. Para o seu tempo de pirilampos na noite mais fria.

Não esperava já nada. Ninguém. Perdera o interesse até da própria surpresa, que sempre o fascinara. Tornara-se numa espécie de escritor imóvel. Preso a uma cadeira e quatro paredes. Apaixonava-se, talvez, demasiado facilmente pelas pessoas e pelas coisas. Tão facilmente que o levara a resguardar-se por custar vê-las morrer diante de si. Nesse prazo de validade que sempre o atraiçoava.

Ali estava imóvel diante do terror do papel. Fiel companheiro de sempre. Insuportavelmente branco, infinito ou limitado por arestas finas. Cortantes. Sempre partida ou chegada. Sempre cru ou inacabado.

Consta que nunca mais foi visto, o escritor imóvel. Diz-se que se diluiu na própria folha. Diz-se que voou pela janela deixando imóvel o tempo que levou a cair no chão.

6.18.2009

Soul sisters




Depeche Mode, Goodnight Lovers



[ Here, somewhere in the heart of me
There is still a part of me
That cares

And ill, Ill still take the best youve got
Even though Im sure its not
The best for me

When youre born a lover
Youre born to suffer
Like all soul sisters
And soul brothers ]



Mesmo achando que este último album é um nadinha mais "wrong" que o habitual, já ando a contar os dias para o concerto.

6.17.2009

Sensualities

Gosto de pessoas sensuais. Sobretudo, a começar pela cabeça!

Suspiros e Merengadas*

Não gosto do Cristiano Ronaldo, pronto. Acho-o um bom jogador (esforçado e dedicado), mas quanto a mim, está longe de ser o melhor de todos os tempos. O facto de estar repleto de defeitos de personalidade (destacando a gritante falta de humildade e ausência completa de preocupações de responsabilidade social, normalmente presente nos verdadeiros ídolos) contribui fortemente para esta opinião.

Acho, portanto, perfeitamente ridícula a histeria colectiva à volta da sua transferência multi-milionária e sobretudo a cobertura mediática à volta de um simples jogador de futebol (incluindo as proferidas por algumas personalidades públicas a quem dou alguma credibilidade e isenção). Será que não existem feitos ou personalidades muito mais interessantes a relevar, inclusivamente no panorama nacional?

A única coisa positiva talvez seja pouparem-nos da já enfadonha crise económica ou na gripe dos “três-porquinhos”, da parte da, também fastidiosa, comunicação social nacional.

Faz-me ainda mais confusão, os suspiros de certas meninas, sobre tal personagem. É certo que tem um corpinho jeitoso (tudo bem), mas daí a ser um ícone de beleza masculina, convenhamos: cara de saloio (normalmente suada), vestes de gosto inqualificável (com o único requisito de serem caras) e um penteado “gelatino-pó-esquisitóide”. Se o fervor for a conta bancária, mesmo mantendo-nos no mundo futebolístico, estou certo que encontraremos personagens bem mais cativantes ao olhar.

Assim, quando certas amigas suspiram, na minha presença, pelo Cristiano Ronaldo descem consideravelmente na minha consideração e, acreditem, nada ter a ver com inveja ou sentimentos dessa natureza. Gostos não se discutem, é certo, mas se aqui o "je" fosse “gaja” exigiria, no mínimo, (até para provar a ausência de preconceitos) uma personagem assim para suspirar e, já agora, que não desse chutos na bola. Tenho dito.


* ou c@ralinho para o Ronaldinho porque já não há santa pachorrinha.

Perdoem-me o palavreado não habitual e a futilidade gratuíta, mas eu até prefiro o Barcelona e este post auto-destruir-se-á após a leitura imediata, pois até me faz calafrios pensar que perdi, breves segundos que sejam, a escrever estas linhas sobre esta personagem.

6.16.2009

Ai Jesus...

Suspira o diabo vermelho: Ai Jesus...

Orgulho nacional


Após o seguimento em directo na SIC Noticias da comissão parlamentar de inquérito do caso BPN (com a presença do governador do Banco de Portugal) ficou provado pelo menos uma coisa muito importante: Não é que finalmente conseguimos ter uma telenovela ao nível das da Globo.

6.15.2009

Lembra-te de mim

Lembra-te de mim no interior dos frutos. No prolongar da frescura dum salpicar de mar pela pele queimada. Numa onda mais demorada, enrrolando-te nos meus olhos. No meu cheiro. Lembra-te de mim na sonoridade de uma palavra. Sussurrada. Que sobressai de todas as outras ao ouvido, e te passa a visitar durante os dias. Dançando baixinho, aconchegada. Lembra-te de mim num morder de lábios imprevisto. Num toque. Na leveza colorida do rebentar de uma bolha de sabão. Lembra-te de mim no cair da noite. No silêncio dos corpos. Lembra-te de mim assim, quando menos esperares uma lembrança.


Dádiva

Oferece-me nos lábios
os teus olhos

a planta
é no sentir teu corpo
de asceta

Recordarei amanhã
e depois recordarei
como se fosses

como se fosses
és
a intimidade antiga
que predisse inclinada
pelas mãos

tu
a ruiva sensação
de seres-me idêntico

oferece-me
o outono liquefeito no
teu corpo

e esta liberdade - noite
de te saber autêntico


Maria Tereza Horta

6.14.2009

Mini-férias

Joggings à beira mar com novidades no velhinho ipod, caipirinhas ao final da tarde (para estragar o exercício) num novo bar de praia de linhas modernas, só agora descobreto (que apesar do bom som, não apagou ainda a mágoa profunda do encerramento do meu favorito de longa data), paletes de livros com vista de mar, o melhor pão com chouriço em forno de lenha do mundo, pôr em dia dois filmes em DVD há muito adiados, refeições ligeiras à base de peixe grelhado, saladas gourmet, sumos de fruta naturais e boas descobertas enólogas. Primeiro banho de mar do ano apesar da manifesta falta de sol. Pequenos momentos de meditação tranquila nos longos passeios na praia deserta. Sonhar durante o sono como há muito não acontecia. Um cigarro à janela a sentir aquele mar por quem me apaixonei desde tenra idade. Dormir. Rever um ou dois amigos de infância. Ausência de PC, Internet e notícias do mundo (excepção apenas para ouvir o discurso completo - e brilhante - do António Barreto do 10 de Junho). Recordar mil memórias passadas neste local. Vontade de ficar mais uns dias. Regressar repleto de vida. Repleto de mim.

6.13.2009

Toma lá para não seres bruto

Para aqueles(as) que dizem que as piores dores do mundo são as de parto, cortar o dedo numa folha, ser picado pelo peixe-aranha ou entalar o "dito" na barguilha, exprimentem lá dar uma valente mordidela num pastel de nata (que não se sabia) a ferver.

6.12.2009

Nitidezes e desfoques

Gosto de pessoas com personalidade forte, mas sempre gostei mais das que possuem e assumem dúvidas e desfoques do que as detentoras de nitidezes divinas e verdades inabaláveis.

6.11.2009

O trauma da morada

Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada. Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide. Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide. Nunca mais ninguém o viu. Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!

Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide. Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.

Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casa não interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja… ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola. Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)

Ao ler os nomes de alguns sítios – Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas, compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na CEE. De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar?

Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses. Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar. Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho). E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?". Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto, para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro? Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda. Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga), mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso?

Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas? É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra". Ninguém é do Porto ou de Lisboa. Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir. Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).

É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away..."). Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa. Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima! Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros. Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes dos restaurantes giraços, tipo Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)

Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹ (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).

¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!! "


Miguel Esteves Cardoso

6.10.2009

Crónica dos bons malandros

Gostava tanto de cinema português que quando ela lhe piscou o olho saiu-lhe um:
"Quem és tu Zé Gata?"

Poema a 4 mãos

Trouxe-te a luz de todas as manhãs
Devolvida num reflexo de lua prateada
Protegida, no silêncio do meu corpo salgado
Passei a respira-la, devagarinho.
Na lentidão dos gestos sábios
Na suprema lassidão das palavras transparentes
Entrelaçadas, como mãos ofegantes
Sussurrando beijos. Ecoando no escuro.



Escrito a quatro mãos sem ver o lado malévolo .)
Conjugando apenas um pseudo ar de má
com um pretenso sentido de humor .)

6.09.2009

Mãos de anémonas

Tocar-te em cores de fogo. Num arrepio de mar. Azul. Tocar-te da cabeça aos pés. Nos lábios. Nos cabelos. Num curvilíneo deslizar. Do queixo ao pescoço. Tocar-te no espaço vedado ao tempo e aos olhares. Tocar-te por inteiro. Pelo avesso. Tocar-te numa embriaguez à deriva pelo teu corpo. Numa imensidão de sentidos. Sem perguntas. Sem porquês. Tocar-te com mãos de anémonas. Medusas lentas. Quentes. Diluíndo pela pele um desejo volátil. Evaporando suspiros à passagem. Torpores, palpitando vida na pulsação.

6.08.2009

Romeu e Julieta em versão familiar

Diz a mãe: - Fui ver a nova versão do Romeu e Julieta ao cinema.

Diz o pai: - Deixa-me adivinhar querida, o verdadeiro amor da Julieta é o Alfa-Romeu?

Responde o filho: - Não é nada. Todos sabem que o amor da Julieta é o D'Artacão

Eleições

Se quem ganhou as eleições foi a abstenção, liderada pela abstinência, porque carga de água é que me quer parecer que isto vai continuar, na mesma, tudo f*!#ido?

6.07.2009

Lenda viva

E assim nasce uma lenda viva: à 5ª foi mesmo de vez


Roger Federer, tornou-se hoje ao conquistar o torneio de Roland-Garros, um dos únicos seis tenistas a ganhar todos os Grand Slams, juntando talvez o único feito que lhe faltava [do seu impressionante palmarés de records históricos no ténis]. Muito provavelmente o melhor jogador de todos os tempos.

Amor, em poema pequeno

No meu amor moram mil choros e um sorriso infinito

6.06.2009

Hey Tom

Rita Red Shoes, Hey Tom

[ I want to make you smile
I want to close your eyes
But you don't have the strength
So come on run with me
I will not set you free
I need you to... ]

Ali, perto das águas

Movimento d’água. A distância. Sonoridades de jazz. Conversas intermitentes numa língua estranha. Uma bebida lenta. Os passos das pessoas. Fotografias ao acaso. Ruídos, rompendo a brisa breve. Turistas esgotando o tempo. Alegrias e tristezas presas em caras estranhas. E o movimento das águas, novamente, absorvendo a atenção. Ausência de pensamentos. De um fio condutor. Imagens desconexas. Sem ligação aparente. O tempo moderno passando ao lado de um cigarro que se acende e sempre se consome. O azul dos teus olhos num repentismo. Num arrepio das águas. Culturas e vivências diferentes. Misturadas na atenção das árvores imóveis. A vida em estado bruto, escorrendo para a vastidão marinha. Que tudo esmorece na sua ondulação. Que tudo apaga. A corrosão incolor do metal antigo, contracenando com o andar jovial de uma mulher bonita. Risos ecoando não se sabe bem de onde. Talvez de um grupo apressado. A geometria perfeita de um bando de aves. Unidas por assombroso mistério. As mãos, de fugida, passando nos cabelos. Um beijo de namorados. Talvez o primeiro. O tempo a desfalecer nas águas. Sem destino. Sem pressa. Sem antes nem depois. Saudades de me ir embora ou de ficar. Ali.

6.05.2009

Surpresa

Vi hoje na televisão* (que por si só já seria uma novidade) um dos melhores documentários que já tive o prazer de ver, em horário nobre, num canal de serviço público e com um conteúdo e uma qualidade fotográfica simplesmente soberbos. Do melhor que vi até hoje.


* Canal 2, Home - O Mundo é A Nossa Casa

É oficial...

... Despedi-me!

6.04.2009

Post it


A gerência desta mercearia de bairro informa que por motivos delicados, implicando um certo cariz introspectivo (tendente a tomar, de vez, uma decisão importante), se vai ausentar por tempo indeterminado.

Para qualquer encomenda urgente ou pedido mais delicado, poderá ser utilizado pombo correio (leia-se email).

Antecipadamente grato,
XinXin

6.03.2009

Capacete


"É através da arte e só pela arte, que podemos realizar-nos na perfeição.
Pela arte e só através da arte, nos podemos proteger
dos sórdidos perigos da existência real"
Oscar Wilde

Se fosse um capacete seria um Ruby sedoso. Sóbrio, mas de linhas inigualáveis e pormenores deliciosos. De brilhos vivos, espelhando uma força colorida. Que me protegesse dos cinzentos. Que me protegesse da amorfa indiferença da banalidade.

Jantar "langão"

... dado o avançar da hora mas com os devidos dotes "desenrrasca". 
Simples, leve, apresentável e num abrir e fechar de olhos. 


Pão de sementes de sésamo, ligeiramente torrado, barrado com pasta de requeijão com ervas aromáticas, tomate fino e cebolinho, acompanhado por uma refrescante salada de papaia e requeijão, um quinta de cabriz tinto, e finalizado por umas framboesas ao natural

 

6.02.2009

Descanso na tua voz

Descanso na tua voz. Levo-a comigo e liberto-a, devagar. Delicadamente  num correr de água solta. Preciosa. E fico ali, a ouvi-la. Num desenrolar de novelo sedoso. Macio. Tentando não a gastar nunca. Decantando a essência adocicada dos frutos. Não te conheço. Não te quero ver. Basta-me apenas o aroma nacarado da tua voz.

Mãos submersas

Nas minhas mãos
é noite
amor

multiplica nos teus
olhos
a distância

no cume cendrado
da pirâmide

a febre das flores
ocasionou os seios
na exaustiva sede
de ter mar
na interioridade
dos abraços
e nas espadas

diálogos mortos
onde
nas minhas mãos
submersas
os rios confundem
a vontade

É noite
é hora
é tempo
.......................................amor
é madrugada


Maria Tereza Horta

Noite

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita

A. Ramos Rosa

6.01.2009

No silêncio da noite

No silêncio da noite tudo parece mais eterno. Permanências de passados longínquos. Distantes. Deambulando nas ruas vazias, num mundo aquático. Frágil mas protegido, pelo esvaziar do som, dos olhares, do movimento.

No silêncio da noite levita uma leveza estranha. Suspensa. Emanada do imobilismo da calçada, do abanar da folhagem das árvores, do balançar dos olhos nos contornos da lua, do coaxar duma rã a ecoar no vazio.

No silêncio da noite habita uma leveza táctil. Descalça. Alheada da atenção diurna. Sussurrando gritos inaudíveis. Inodoros. De uma névoa espessa, vislumbrada no rasto trémulo da luz do candeeiro. Redondo. Brilhante. Uma bola de cristal.

No silêncio da noite lembro-me de ti. Subo pelo teu corpo, ramo a ramo, para me perder no encontro de lábios de estátuas. Polidas por mãos de afectos. Suspiradas, pelo cerrar das pálpebras. Transpiradas. Sentidas.

No silêncio da noite jogam-nos cartas para o dia seguinte e passeiam mensageiros em formas de gatos. Criaturas nocturnas numa dança de algas que nos agarra a alma e nos despe o pensamento. Visitam-nos imagens, ideias, desejos. Vindos de um local desconhecido, mas que sempre nos abre a porta quando, atentos, nos entregamos aos seus encantos.

No silêncio da noite, o tempo faz a cama e descansa, e a vida passa mais devagar. Como um rio espelhado que tudo permite ver por uns segundos. Passeio há muito pelos seus jardins secretos. Vagarosamente, acendendo um cigarro, escrevendo umas linhas, aquecendo um chá. Aqui. Acolá.

No silêncio da noite tudo absorvo. Nunca me deito cedo. Nunca me deito o mesmo.

Assíduos do shaker

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