Não me parece que herdei muito dos meus pais, dos meus avós: algumas coisas mais ou menos superficiais mas lá do fundo nada. Princípios, claro. Regras. O resto, quase tudo, fiz sempre sozinho.
António Lobo Antunes
Cálidas imagens acenam brilhos escondidos. Resguardados do rebuliço apressado dos dias. Protegendo-se da ferrugem do tempo. Camuflados. Mas sempre presentes. Num objecto. Num gesto. Num cansaço ou olhar. Com tanto sentido e doutra forma esquecidos, à morte.
Nascentes secretas brotando sereias de luz. Ávidas de sussurros, que invadem a pele em ondas mornas. Planando aos ouvidos. Tocando fundo em gotas densas interiores.
Nunca tivera medo de facas. Sempre alertam para as facas - “Cuidado para não te cortares”. As facas perdem assim muito da sua imprevisibilidade e consequente perigo.
As colheres, por seu lado, dispersam a realidade em formas curvas e côncavas, o que tem a sua sensualidade e utilidade, no conforto de não permanecer demasiado tempo nessa realidade enfadonha. Mas não representam perigo algum, também.
O verdadeiro perigo reside nos garfos. Forquilhas impotentes duma fome, por vezes, impossível de saciar.
Para guardar na memória o concerto* do CCB, provando que há coisas que com a idade roçam a perfeição
* de Bethovenn (apesar do vídeo ser de Chopin)
O silêncio é um amigo que nunca trai
Confúcio
O deserto. Novamente o deserto. A noite no deserto. Descendo calma ao seu leito de terra. Com suas mãos tácteis e frias. Sossegando segredos incandescentes. Antigos. Esticando o silêncio a uma extensão de nós. Inigualável. Tudo em redor é como sempre foi. Como sempre será. De nós uma pequenez grandiosa que tudo invade. Imagens. Histórias. Dúvidas e certezas. Todas estalam na fogueira, envolta de um nada que nos une a nós. Na noite que já vai longa.
Aceitam-se sugestões musicais e até, quem sabe, possíveis participações.
I wanna kiss you in Paris
I wanna hold your hand in Rome
I wanna run naked in a rainstorm
Make love in a train cross-country
You put this in me
So now what, so now what?
Wanting, needing, waiting
For you to justify my love
Hoping, praying
For you to justify my love
I want to know you
Not like that
I don't wanna be your mother
I don't wanna be your sister either
I just wanna be your lover
I wanna be your baby
Kiss me, that's right, kiss me
Yearning, burning
For you to justify my love
What are you gonna do?
What are you gonna do?
Talk to me - tell me your dreams
Am I in them?
Tell me your fears
Are you scared?
Tell me your stories
I'm not afraid of who you are
We can fly!
Poor is the man
Whose pleasures depend
On the permission of another
Love me, that's right, love me
I wanna be your baby
I'm open and ready
For you to justify my love
To justify my love
Wanting, to justify
Waiting, to justify my love
Praying, to justify
To justify my love
I'm open, to justify my love
Madonna, Justify my love
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes ah por vezes
num segundo se evocam tantos anos.
David Mourão-Ferreira
Isto de receber visitas inesperadas com desejos de saladas light implica sempre alguma criatividade gastronómica. Nada que não se resolva com uma base de rúcula e tomate cherry, salmão fumado, temperado com vinagre balsâmico e um pouco de azeite, decorado com uns pinhões e acompanhado com um Vila Régia branco, bastante fresco. Foi o que se arranjou. Queriam melhor? Tivessem ido ao Magnólia.
Continuação de post anterior
My joy, the air that I breathe
My joy, in God I believe
You move me
My joy, the blood in my veins
My joy, flows in your name
You move me
I'm not a mountain, no
You move me
My joy, heavenly bliss
My joy, the pleasure I miss
You move me
I'm not a mountain, no
You move me
Depeche Mode, My Joy
Some day he'll come along,
The man I love
And he'll be big and strong,
The man I love
And when he comes my way
I'll do my best to make him stay.
He'll look at me and smile
I'll understand ;
And in a little while,
He'll take my hand ;
And though it seems absurd,
I know we both won't say a word
Maybe I shall meet him Sunday
Maybe Monday, maybe not ;
Still I'm sure to meet him one day
Maybe Tuesday will be my good news day
He'll build a little home
Just meant for two,
From which I'll never roam,
Who would - would you ?
And so all else above
I'm waiting for the man I love.
George Gershwin, The Man I Love, By Larry Adler and Kate Bush
Jorge Palma
Gostava de poder lembrar o embate. Em que momento ocorrera? Esse pequeno fragmento de pó. Invisível a olhos nus. Que estalara, para sempre, esse seu vidro de mundo. Ecoando uma sede de doença. Que lhe ancorara raízes profundas. Gretando o fundo de seu lago interior. Atraiçoando peixes coloridos e anémonas tranquilas. Fragmentos soltos de algo outrora seu ou talvez nunca alcançado. Tornando o ar irrespirável. Frágil. Etéreo.
Caminhava pelo abismo a galope. Sentia-o no apagar das luzes. Desprendendo-se de tudo ao redor. Ouvia o som do vidro em riscos de instáveis direcções. Serpentes vivas. Famintas. Gretando gemidos de gelo. Pesar? Chamamento? Não sabia, ao certo, mas o caminho parecia chegar ao fim. Finalmente ao fim.
Georges Braque
Musicalmente falando seria, talvez, um piano de cauda Steinway. Um longo espelho negro de sete oitavas - ébano e marfim - colocado no centro de uma sala ampla, de tecto alto e boa acústica. Prolongando no espaço beijos tácteis. Leves e longos. Suspendendo o tempo no espaço. A pairar.