9.11.2008

O quadro inacabado

Porque é assim que ele vê as coisas, no fim. Primeiro, vê-as completamente nítidas, como todos nós as vemos, e, depois vê-as com um olhar que é só dele, e então elas ganham a forma desse olhar. Aí é que está o génio dele: vê o que todos vemos, mas vê também para além disso.
Um quadro não se pinta só com o olhar, pinta-se também com os sentimentos, com a alma, com o estado de espírito, com os sonhos, os pesadelos, tudo isso. É o consciente e o inconsciente, o visível e o obscuro. É isso a arte moderna.


Miguel Sousa Tavares


Foi assim, de forma imprevisível e inexplicável que se apaixonou pela forma desse olhar. Pelo infinito condensado por quatro tábuas. Numa vela esticada, que nos transportava para longe. Algures. Onde uma história se desenrolava na cálida lentidão do passar de nuvens. Onde mil formas voláteis que se misturavam numa nitidez crua. Quase desprotegida. Rebentando frágeis como bolhas que permaneciam numa sensação quente de final de tarde. Onde as cigarras cantam e a planície se espreguiça. Perdendo-se, lá longe, no horizonte. Onde tudo faz tanto sentido.


Dedicado a uma futura mãmã. Das melhores, só que ainda não sabe.

1 comentário:

Anónimo disse...

há posts difíceis de comentar...por tudo, mas acima de tudo por quem os escreve, a sensibilidade para além de...de mim, de si...de cores, ou de imagens...!!!não sei qual o sentido, mas talvez um dia o encontre...
tal como, talvez, um dia quem pintou esse quadro o termine...e a "Mamã" arrisque a tentar sê-lo ...com alma!!!
mas não serão estas "dúvidas" que nos alimentam um "amanhã"?!
não será a vida sempre um quadro inacabado?!...
Beijo

Assíduos do shaker

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