Mercedes
The future of the Automobile
6.30.2008
6.29.2008
Quem era eu antes de mim?
Após leitura de Lilaz da violeta
6.28.2008
Casamento
Mais um casamento. Mais banalidades. Mais conversas de circunstância. Mais caras familiares cada vez mais distantes. Quase estranhas. Diluídas entre sedas, jóias e fatos escuros. Mais um casamento. Mais do mesmo. Mais do enfadonho jogo social de politicamente correctos. Mais etiquetas insuportavelmente encenadas e notórias faltas de chá. Mais caras bonitas que nada me dizem. Mais falta de vontade de conhece-las. Mais uma pessoa que diz que me conhece. Mais a certeza que muito poucos verdadeiramente me conhecem. Mais uma resposta que gera um silêncio. Inoportuna. Propositada, talvez. Mais uns olhares que não sinto falta. Mais uma notícia que me deixa perplexamente preocupado ou um pouco magoado. Mais a certeza que sou mesmo parvo. Mais um puro na pureza da noite. Mais a certeza que comer é um acto pré-histórico. Mais um casamento. Mais subtis momentos despercebidos que ainda são a razão da minha presença. Mais um respeito pelos noivos. Por acreditarem. Por nada mais. Mais um casamento. Mais uma esperança sincera que resulte. Que valha a pena.
6.27.2008
6.26.2008
Silêncio alerta
Quero todo o silêncio do mundo. Todo. E mais algum. O das profundezas oceânicas e o da lua. O do cume e o do deserto. O da noite fria. O da madrugada. Quero todo o silêncio do mundo. O interior. O dos objectos. O do monumento antigo. O das pálpebras fechadas. O mais subtil dos silêncios. Quero respira-lo como ópio. Quero-o nas veias. Nos lábios. A levitar nos meus gestos como ramos. Suspenso. Atento. Alerta.
6.25.2008
Luxúria em seda fuchsia
Só o prazer te corrói
a pele árida
gritando deleite
Demónio insaciável
Combustão fluorescente
que vai lavrando em
uivo lascivo
A carne é fraca
E o prazer uma serpente
Esquiva
Crescente
Maça violada
ou lacrada
Ferida de acesso
Tumulto abrupto
Subtil deslizar
de seda fuchsia
nas estradas curvas
da tentação
Egoísta salgado
És torpor, gemido
Absinto
e alucinação
Escuta bem minha voz
Pois estarei contigo
Lenta ou veloz
Tua fiel inimiga
6.24.2008
Os 7 pecados mortais
Sete tentações
Sete perversões
Em sete estações
São sete manuscritos
Sete discursos ditos
Sete estados de pecar
Que nos iremos debruçar
6.23.2008
6.22.2008
Fotografia daquele jardim
6.21.2008
6.19.2008
Coração e razão
Pois. Temos 10 milhões a empurrar um autocarro movido a energia positiva. Mas os outros senhores têm 82 milhões, andam de Mercedes e quer-me parecer que a sua energia positiva se baseia mais em método e eficácia que propriamente em empurrões.
[Acho que este clima jornalístico de sermos os melhores por decreto e antecipação nada tem de positivo. Mas é a minha modesta opinião, que nada percebo de futebol]
6.18.2008
Mal-me-quer
Quer-me parecer que o mundo não faz sentido
Quer-me parecer que nunca fará
Quer-me parecer que está perdido ou nunca foi realmente achado
Quer-me parecer que estou um pouco desapontado
Quer-me parecer que quando deixar de me conseguir rir dele partirei
Quer-me parecer que já nada do que parece é
Quer-me parecer que estou-me borrifando para as aparências
Quer-me parecer que são insuportáveis certas indiferenças
Quer-me parecer que perco o meu tempo
Quer-me parecer que pareço um pouco perdido
Quer-me parecer que o importante são pequenos nadas
Quer-me parecer que apenas me agradam as coisas mais simples e imutáveis
Quer-me parecer que nada sei delas realmente
Quer-me parecer que tenho pena
Quer-me parecer que o amanhã está longe ou perto demais
Mal-me-quer? Bem-me-quer? Muito? Pouco? Nada?
6.17.2008
Esfera perfeita
Cat power, The greatest
Atiramos tantas bolas e é-nos tão dificil, por vezes, apanhar algumas. Atiro cada vez menos, é certo, mas as que atiro são directas e boas. Sem arcos nem efeitos. Lentas e precisas. Esferas perfeitas de intenção. Tento cada vez mais estar atento às que passam por mim. Tentando o menos possível ferir pela minha indiferença ou desatenção. Tenho todos os sentidos alertas como um perdigueiro. E agarro com força, junto ao peito, aquelas que agarradas guardarei para a vida. Numa esfera perfeita sempre a girar.
Obrigado pela esfera. Foi simples e perfeita.
6.16.2008
6.15.2008
6.14.2008
Astrid, a cisne desfocada
Desfocavas tudo em teu redor. Até a ti própria Astrid. Desfocavas o certo e o errado. O desejo e a dor. Desfocavas todos os sentidos mas mantinhas essa certeza rara. Límpida apesar de morar para além do racional. Talvez fosses um quadro esquecido apagado pelo tempo à espera do meu olhar mas Astrid vi no teu subtil levantar de rosto e esticar de asas o teu espaço guardado. Escondido de todos. Do mundo. Nele vi essa certeza que não me assusta mas atormenta.
6.13.2008
Such a rush
Após uma semana repleta de viagens e muitos quilómetros, com greves de camionistas, filas intermináveis nas bombas, condutores apressados, estradas repletas de trânsito e outras completamente desertas veio-me à cabeça um episódio recente ocorrido na Madeira aquando de uma visita de estado. Após a visita à região e calorosos auto elogios da obra feita e do orgulho nas magníficas estradas existentes um dos visitantes perguntou: Sem dúvida! Das melhores estradas que vi mas digam-me apenas uma coisa – onde querem ir com tanta pressa?
6.12.2008
O mais próximo da religião
6.11.2008
Close your eyes
Preferias que cantasse noutro tom
Que te pintasse o mundo de outra cor
Que te pusesse aos pés um mundo bom
Que te jurasse amor, o eterno amor
Querias que roubasse ao sete estrelo
A luz que te iluminasse o olhar
Embalar-te nas ondas com desvelo
Levar-te até à lua para dançar
Que a lua está longe e mesmo assim
Dançar podemos sempre, se quiseres
Ou então, se preferires, fica aí
Que ninguém há-de saber o que disseres
Talvez até pudesse dar-te mais
Que tudo o que tu possas desejar
Não te debruces tanto que ainda cais
Não sei se me estás a acompanhar
Que a lua está longe e mesmo assim
Dançar podemos sempre, se quiseres
Ou então, se preferires, fica aí
Que ninguém há-de saber o que disseres
Podia, se quisesses, explicar-te
Sem pressa, tranquila, devagar
E pondo, claro está, modéstia à parte
Uma ou duas coisas, se calhar
Que a lua está longe e mesmo assim
Dançar podemos sempre, se quiseres
Ou então, se preferires, fica aí
Que ninguém há-de saber o que disseres
Rádio Macau, Cantiga de amor
6.10.2008
A beleza e o desastre
A beleza num pano ou na parede pode comover mais que a beleza num rosto. A beleza não é quantificada pelas narinas, apenas pelos olhos e, no caso da música, pelos ouvidos. Embora no caso da música a beleza dependa também das imagens que vemos quando ouvimos algo. Mas também da pintura poderás dizer que tem a sua parte auditiva: quais os sons que ouves quando vez um quadro?
Se colocares datas na beleza e no desastre verás que, por vezes, estranhamente, a grande beleza surge depois do grande desastre. Mas o mais comum é o inverso.
Gonçalo M. Tavares
6.09.2008
Percepções
6.08.2008
101
Água Lua Deserto Noite Mar Sonho Sombra Alga Fogo Gesto Pele Mão Coração Cor Silêncio Abraço Torpor Arrepio Paixão Livro Saber Mistério Sentir Acaso Atento Sinal Gato Ponte Música Arte Antigo Memória Fundo Momento Viagem Dar Escutar Cozinhar Emoção Liberdade Respeito Impossível Abismo Beijo Anémona Spa Design Sentidos Pecado Raízes Alma Nada Tudo Levitar Amigo Distante Azul Tempo Lareira Babilónia Jacarandá Lenda Piano Magia Escrita Sangue Lágrima Caminho Dúvida Chuva Cal Cálice Inquietação Invisível Cumplicidade Sim Paz Especiaria Sorriso Feminino Sedução Sopro Sussurro Cacto Tigre Clássico Contemporâneo Seda Anjo Jardim Musa Demónios Fruto Imaginação Novelo Teia Janela Perdido Búzio Quimono Magnólia
* Desafio lançado por Andromeda sobre 101 palavras
com que me identifico de alguma forma.
Está aberto o desafio
6.07.2008
Os troncos das árvores
6.06.2008
Still have the music
Leonard Cohen, Chelsea Hotel
I need you... I don't need you…
You need me... You don't need me…
But we still have the music
6.05.2008
Um dia
6.04.2008
The Bill Gates Sindrome
Detesto estereótipos e generalizações fáceis. Sou até apologista de não haver, normalmente, regra sem excepção e que, muitas vezes, “nem tudo o que parece é” ou “tudo o que parece mesmo certo não o é definitivamente”. No entanto, descobri recentemente uma possível falha a esta teoria prendendo-se com os Informáticos. Sim, essa classe maravilhosa tão injustamente incompreendida. Passo a explicar.
Todos os informáticos têm borbulhas na cara e usam (quase sempre, pronto) óculos, fruto, porventura, das excessivas radiações de fósforo verde a que estiveram submetidos nas caves antes do aparecimento dos actuais TFT’s ou por insistência dos mais puristas. Aparentam ter muito menos idade (sendo talvez interessante para a industria cosmética, se nos abstrairmos das referidas borbulhas) parecendo quase sempre meros adolescentes. Tem aspecto de tocarem mais em teclados que em mulheres, é verdade (se calhar esqueçam a da industria cosmética) e (desculpem-me lá esta) de serem grandes consumidores de sites pornográficos. Têm mais medo de gravatas que o Diabo da Cruz e quando as usam há grande probabilidade de ser conjugada com um bonito blusão de cabedal.
Ou seja, vestem-se de uma maneira inconfundível (como se tivessem uma farda invisível que dissesse “Sim sim sou um informático”). Outra particularidade, irritante (por sinal), é a de receberem frequentes contactos telefónicos solicitando pareceres de novos equipamentos ou para "sacar" jogos piratas da net, aos quais respondem, quase sempre, com a linguagem indecifrável do próprio computador (pelo menos ao comum dos mortais já que do outro lado se encontra, normalmente, lá está, outro informático).
Curioso. Não me recordo de ver um informático acompanhado de um não informático ou munido de outro objecto que não uma mala preta à tiracolo. Estou provavelmente a ser injusto, sendo apenas consequência de uma nova má experiência com um iluminado "Help Desk" com que me tenho relacionado ultimamente, apresentando desde já as minhas desculpas, mas digam-me lá por favor, as meninas (inclusive as informáticas) por exemplo, o que pensam? Existirá excepção a esta regra? Ou é o sindrome Bill Gates?
6.03.2008
Aquisição
6.02.2008
Moda Lisboa
Posso dizer que hoje me sinto envolvido num denso manto de perplexidade quanto à noção de “bom gosto”. Bem sei que gostos não se discutem mas nunca tinha sentido na pele a estranha sensação de um “extremo mau gosto” (na minha modesta opinião) afectar os meus gostos, ao ponto de me levar a pensar que certas coisas simplesmente deveriam ser proibidas. Sim. Leram bem. Proibidas. Querem ver?
Passo a detalhar:
- Caneta no bolso da camisa
- Aberta até ao umbigo (importante detalhe de abotoar apenas o último botão e ter um fio ao pescoço com o que me pareceu um corno)
- Pé de gesso (leia-se meia branca)
- Unha preponderante no mindinho (poupo-vos pormenores)
- Telemóvel ao coldre (com o respectivo toque estúpido e ensurdecedor)
- Calças vermelhas (mais vivas que as capas de tourear)
- Conjugação de cores surrealista (de ofuscar qualquer arco-íris)
- Devem estar a pensar: mas eu já vi isto. Pois, acredito, mas... (e é aqui que reside a diferença)
- O “espécimen” apresenta-se num Bentley Continental azul escuro, estacionado ao meu lado, no parque de estacionamento do Chiado.
Três conclusões:
- Já posso morrer tranquilo por termos uma alternativa à altura do John Galliano
- Desculpa lá Bentley mas perdemos definitivamente a chama. Já não bastavam os jogadores de futebol?
- Obrigado Senhor por, apesar de agnóstico, me teres brindado com a noção das prioridades. Não me venhas agora lançar dúvidas quanto ao bom gosto. Pode ser? Eu não o discuto mas mantém, pelo menos, uma certa coerência.
6.01.2008
Ancorado em ti
Aqui me encontro com esta saudade salgada dum ainda nada que é já tanto. Nesta espessa maresia aguardando os teus dedos de praia secreta. Por descobrir. Esperando um sol que me envolve. Que me percorre. Aqui me encontro neste mar revolto em que um dia ancorei à espera dos teus lábios de veleiro. Que sempre soube a caminho. Que sempre nos levam para águas distantes. Esquecidas deste mundo. Onde nadamos envoltos como algas. Juntos. Vestidos de peixes. Despidos de tudo. Águas onde só chega quem não teme tempestades. Onde só chega quem não teme perder-se. Onde só chega quem não teme dar à costa. Nesta praia deserta que é a tua espera.