5.05.2008

Rasto de luz



Aquela luz acompanhava-o há muito. À medida que avançava sabia-o agora. Sentia-a cada vez mais presente. Mais intensa. Cada vez mais entranhada na pele. Como uma parte de si só agora revelada. Era uma luz estranha. De cabelos brancos. Uma serpente de lua suspensa. Como se sempre tivesse estado ali. A seu lado. Tão próxima mas oculta. Como que a parte mais distante de si. Dando-lhe apenas pequenos sinais, através de algumas imagens soltas. Perfeitas. Que recordava. Daquelas que prendem a alma a outro mundo sem sabermos porquê. No entanto, nunca se tinha apercebido do seu leito de amante. Como um espelho que finalmente se quebrava em mil pedaços. Deixando de reflectir. Abrindo-se num brilho de lâmina finalmente retirado do peito. Lembrava-se agora dela, numa dança de flashes fotográficos. Sensual. Com uma nitidez insuportável. Que quase o embriagava de tanta beleza. Aquela luz era o amor impossível. Uma anémona acorrentada à escuridão. Uma fénix de asas cortadas que o chamava para se despedir. Para a despedida. Há tanto estendida. Há tanto adiada. Esperara o último adormecer dos corpos. O último silêncio aveludado. O último mar diluindo a noite no seu balançar. O último cansaço. Para o guiar até ali. Àquele local. Beijando o seu olhar sofregamente. Uma última força. Num brilho diferente. No brilho mais intenso que um dia desceu.

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