E quis salvar o meu coração,
Mas o amor sabe o segredo,
O medo pode matar o coração”
Vinicius de Morais
De todos os medos é, talvez, o que mais me custa a compreender.
Por mais palavras que coleccionasse não se conseguia explicar. Por mais que existissem, que se inventassem eram manifestamente insuficientes.
As palavras padecem desta fraqueza, por mais precisas, minuciosas, poderosas, milimétricas, como que por uma maldição, não são fiéis, embaciam o espelho da alma do criador, reflectem a luz, não a deixando penetrar na profundeza desejada, evaporam sem molhar a pele. Traiem quem tanto as acarinha.
As palavras são, por vezes, prisioneiras de resposta, retidas. Outras, passeiam em pés descalços sobre conchas brancas, silenciosas, arrefecendo na espuma sem serem notadas. Arremeçadas violentamente, por vezes, ferem de morte quem as enviou com a melhor das intenções.
As palavras são meras articulações da linguagem, que na sua mais pura essencia é universal, transparente, musical aquando da presença um simples olhar.
Por tudo isso, há alturas onde aquece mais o vento na cara a uma fria palavra cara. Palavra!
Eugénio de Andrade
Sócrates
A sede do saber é insaciável.
Para tudo queremos repostas.
Simples, rápidas, directas. Tranquilizadoras.
Sobrevivo bem nas interrogações de certos mistérios.
E nunca me conheço, suficientemente bem.
Na grande confusão
deste medo
deste não querer saber
na falta de coragem
ou na coragem
de me perder me afundar
perto de ti tão longe
tão nu
tão evidente
tão pobre como tu
oh diz-me quem sou eu
quem és tu?
António Ramos Rosa