10.01.2006

Arranha céus

Era uma vez uma arquitecta. Não uma arquitecta qualquer.
Estou a falar da arquitecta que arranha céus com os seus poemas.
Era modesta, esta arquitecta, e nem sei, ao certo, se alguém se apercebia da altura dos seus poemas.

Se fossem dela, as twin towers, não haveria avião que chegasse aos últimos andares e o museu guggenheim poderia ter a mesma forma bizarra, moderna e ousada, mas não seria em Bilbao, porventura, na Lua.

Gostei de conhecer uma arquitecta capaz de ultrapassar as margens da folha de papel e sem vertigens, apenas um pouco modesta. Mas como vos disse, não é uma arquitecta qualquer. É a arquitecta que arranha céus, com os seus poemas.

Perdoa-me mas não resisti a partilhar...


Faz
De mim a tua tela,
Pinta-me
Com as cores
Com que o meu ser
Se esbate,
Traça em mim
A alma da tua arte.

Dá-me traços
Curvos e longos
Rectos ou escassos,
Dá-me perspectivas
Pontos de fuga
Breves espaços.
Serei abstracta
Ou digna do puro realismo?
Indiferente!
Pinta somente,
Compõe em cinco actos
O meu surrealismo.

Faz
De mim a tua tela,
Faz
De mim o teu teorema.
Eu farei de ti o meu poema.



M.

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