7.15.2011

Andorinha

Conserva essa inocência do olhar mas entrega-te ao que fazes com essa fome voraz. Sem medo. Sem rede. Sem armadura. Sem pele. Apenas braços abertos como asas de andorinha e dedos gentis. Todas as setas que te cravejem no peito serão tão pouco fundas comparadas à inércia do adquirido ou do nunca tentado.

Sabes? É tão difícil manter esse olhar de criança. Ver o mundo assim, sem complicar. Sorrir-lhe. Piscar-lhe o olho. Deitar-lhe a língua de fora, sem racionalizar tudo, sem tudo ter de explicar. Sabes? o coração torna-se por vezes escasso para guardar o que estravasa o corpo e os olhos turvam vezes demais.

Escuta. Ouves a brisa a bater nos beirais? Respira-lhe essa maresia que aquece por dentro. De olhos fechados, assim. Oferece sempre o teu melhor, mas nunca o deixes de fazer por mais que te possas ferir. As andorinhas regressam sempre a casa, não é? Mesmo que seja num voo razante, rápido como uma imagem que aparece do nada, um rasgo dessa tua vida. Mantêm essa sinceridade genuína pois a vida é curta demais para se ser o que não se é. E as amizades nascem assim, dos silêncios sempre presentes e dos ecos que ficam do que não se quer ouvir.

Bate-te por ideias e valores, por mais simples ou impossíveis que te venham a parecer pois serão sempre uma dádiva: essa vontade, esse querer. Com sorte bater-te-ão muitos chamamentos à porta, como um sopro ao ouvido que arrepia.

Sê o que quiseres ser e nunca o que te digam. Aprende a pensar mas nunca ponhas o saber à frente do que sentes sem saber explicar. Aprecia o mundo e a beleza presente em todas as coisas, em todos os lugares. As texturas dos momentos irrepetíveis, tornados eternos.

Na dor recupera a força. Na alegria o humilde agradecimento. Apaixona-te as vezes que forem preciso mas nunca sem te apaixonares ou derramares uma lágrima. E não te arrependas. Reúne-te de algumas pessoas cujo olhar te dispa ou conforte, que mimes e leves contigo mesmo não estando. Estima as rugas, os erros e sobretudo a memória. Cuida-a como um livro vermelho e precioso para a folheares nas pausas dos teus voos. Quando e onde quiseres. Nas saudades que apertam, nos sorrisos que te iluminam o olhar. Nos passados e nos futuros logo ali à esquina desse ar de menina com asas.

E para rematar [que uma história nunca se acaba e as andorinhas são difíceis de apanhar mesmo na escrita], mesmo que em certas alturas não saibas para onde vais, não voes, caminha. Caminha pois já é tanto. Caminha pois hás-de sempre voar.

1 comentário:

Nanny disse...

Andorinha-menina? ;-)

Beijinho

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