Há frases que nos visitam sem bater à porta. Entram, como uma corrente de ar. Sem convite ou pré-aviso e instalam-se confortáveis. Como se nos conhecessem desde sempre. Como se tivéssemos de as conhecer também. Como se conhecem de cor os cantos à casa. Sem pressa de se revelarem, ficando por ali a remoer. A libertar a ferrugem do seu sentido, tantas vezes não directo ou imediato. Dormem connosco. Agarradas ou suspensas. Sussurram-nos, por baixo da pele, ao longo do dia. Nos momentos e lugares mais imprevisíveis.
Há frases que permanecem muito tempo. Tempo demais. E num dia, quando já nos habituámos a elas, quando parece que já fazem parte de nós, eis que se revelam em pleno, numa espécie de luz de final de tarde. Esgotando-se, breves, numa paz sublime, numa beleza difícil de igualar. Nessa altura, partem como entraram. Desprendidas. Com pés descalços. Sem um beijo de despedida ou palavra a acrescentar. Com uma mão quente, esguia, que se liberta da nossa. Devagar.
2 comentários:
De que vale deixar-te palavras...Elas solram-se, debruçam-se e caem no colo de alguém que as maltrata ou acarinha. Palavras para quê?
Beijoca!
Palavras que dançam dentro do silêncio. :)
(descobri este hoje. Muito bom.)
Enviar um comentário