2.09.2009

Quem escreve

Quem escreve tem sempre algo a dizer, mesmo que não o saiba. Algo para dizer aos outros ou a si próprio. Algo que, tantas vezes, parece nem vir de si. Que aparece, algures, num fragmento que cresce e exige um pensamento, uma vontade, uma fuga. Que exige asas ou rio para arder.

Quem escreve transporta sempre algo misturado no sangue, que lhe escorre pela tinta. Por vezes sem aparente razão. Algo que o emociona, algo que doi. Algo que tem de sair por necessidade. Porque tem de ser. E o tem de ser tem muita força.

Quem escreve tem tudo, por vezes, sem nada ter. Sem nada desejar ou desejando o impossível. Quem escreve absorve o mundo no respirar e devolve-o diferente, por mais subtil. Depurado. Dissolvido com parte de si.

Quem escreve tem música e quadros interiores. Tem quente e frio. Texturas. Sabores. Tem fome e tem paixão. Tem algumas certezas, poucas, e muitas dúvidas. É um etérno insatisfeito. Porque a escrita nada alcança. Só liberta. Acalma, um pouco, essa sede. Esse abismo sempre inacabado.

Quem escreve sente algo mágico que não pode dormir um segundo mais. Que rodopia, ao sol, num vasto campo de trigo. Até cair de tonto no chão. Deitado, de braços abertos para o mundo. De olhos postos no céu.

3 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Deitado, de braços abertos para o mundo. De olhos postos no céu.


***

Ou de como se forma poesia do simples pulsar da vida ;)

hugs

Leonor disse...

Quem escreve liberta ... sem dúvida e derrama-se em tinta, consciente ou inconscientemente.
Mas o melhor mesmo é eu não pensar muito nessa tomada de consciência ou começo a reter as teclas e não escrevo mais coisa nenhuma :)
xin xin

Sandrine disse...

Quem escreve sente algo mágico!
É bem verdade!!!!

Quem escreve como tu dá sempre algo de mágico aos outros e por isso o meu humilde obrigada!!!!
Beijo
s

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