1.14.2008

Underwater

Via-se a si próprio reflectido no escuro. Nada mais em redor. Apenas o seu corpo envolto em vácuo. Comprimido, no silêncio inatingível das profundezas. A sua imagem distorcida era, curiosamente, mais nítida de si. Como se a sua alma boiasse e o olhasse nos olhos. Simétrica mas diferente. Um espelho vivo.

Sempre lhe quisera dizer das boas. Mas limitava-se a contempla-la e a escutar-lhe a pequena ondulação, permanecendo o máximo tempo possível debaixo de água. Tentava chegar-se o mais próximo que conseguia, usando o mínimo de movimento para se deslocar. Avançando num agitar de peixe. Quase se tocavam.

O seu corpo era, no entanto, uma rocha porosa. Pesado. Afundando-se com o tempo. Afastando-se desse leve ondular. Preso a algas intransponíveis que o puxavam para o fundo. O corpo é uma casa muito pequena e estanque. Com pouco ar. Deveria acompanhar sempre a evolução da alma e nadar. Nadar sem barreiras. Sem ossos ou pele. Nadar em todas as direcções. Nadar.

1 comentário:

Andrómeda disse...

Eu prefiro a palavra flutuar :)

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