1.15.2008

Michele, a gaivota atrevida

Tinha mil adjectivos nas suas penas brancas mas destacava-se-lhe o atrevimento: a roçar o descaramento. Possuía, no entanto, uma graça fora do comum, apenas acessível aos seres pecaminosos. Uma graça que a tornava irresistível fazendo o comum dos mortais tudo lhe perdoar.

Visitava-me sempre à mesma hora, no final da manhã. Ainda um pouco ensonada. Tinha um local predilecto, no parapeito do extenso terraço da piscina do Hotel, onde pousava com a subtileza dos saltos altos e mirava as vítimas esparramadas nas espreguiçadeiras.

Sabia perfeitamente que a observava, mas nascera habituada a ser o centro do universo, destacando-se de todas as outras. Apenas cruzámos uma vez o olhar. Fixamente. Olhos nos olhos, naqueles segundos eternos que por vezes sucedem. Tinha o perigo e a vertigem estampados, adornados por um sorriso. Recordo-me de a ver desfalecer a pique, teatral. Como que morta para logo explodir em vida, soltando uma gargalhada que permanecia pelo entardecer do dia.

2 comentários:

lilazdavioleta disse...

Gosto mto de gaivotas.
Existe uma com a qual divido pão e afecto.
Não tem manias de exibição.
Também, visita-me na varanda de uma simples casa, e não no terraço de um hotel.
E penso, que com o tempo, as almas vão-se interpenetrando ... .!

Dry-Martini disse...

Não sei o nome da sua gaivota, mas o cognomo é sortuda por certo. Consegue-se viver de simplicidade, pão e afecto. Que sorte tem a sua gaivota .)

Assíduos do shaker

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