8.28.2007

Shibumi

Era uma casa antiga. Enorme para apenas uma pessoa. Mas sempre gostara de espaço. Do espaço por si só. Sem adornos ou decorações. Espaço aberto, em estado bruto. Cru. Matéria invisível, albergando um silêncio sábio e fecundo, comprimido entre as paredes despidas. Como que a querer escapar.

Tinha tido alguma dificuldade em chegar àquele ermo distante, perdido no mapa, no meio do nada. Mas, ao chegar, bastou-lhe uma volta rápida para se apaixonar e decidir ficar.
Os soalhos rangiam, corroídos pelo tempo e as espessas paredes de pedra, transmitiam uma frescura sonora, que se agarrava ao corpo, num eco sedutor. As amplas divisões vazias, sussurravam histórias, sedentas de um ouvinte mais atento. Envolvendo rapidamente o corpo estranho que ocupava parte daquele espaço sagrado, fazendo-nos sentir imediatamente esmagados por algo superior.

Tudo era fluir. Uma corrente magnética que se sentia sem se ver. O que mais o fascinou foi a paisagem, que decorava toda a casa. Inundando-a de uma luz que nunca vira. Embalando o olhar. Sobretudo a de uma divisão onde instalou apenas uma poltrona confortável. Ficando horas, embevecido, absorvendo a simplicidade das coisas, contemplando o ambiente minimalista mas ao mesmo tempo tão vasto.

Lembrava-se frequentemente da palavra japonesa de que tanto gostava – Shibumi, a verdadeira sofisticação das coisas simples – ao contemplar aquela simbiose perfeita de espaço e paisagem, numa dança frágil a perder de vista. Estava pronto para mais uma etapa.

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