7.20.2007

O homem que falava com os pássaros

O homem que falava com os pássaros partia cedo e chegava cansado. Um cansaço esgotante mas saudável. De viajante incansável, sorvendo tudo em redor. Como uma esponja faminta, fugida do tempo. Insaciável.

Falava pouco mas eram sábias as suas palavras. Sempre preferira a arte de contemplar o mundo. Ver e ouvir ao mais ínfimo pormenor. Há pequenos detalhes que fazem toda a diferença, dizia.

Conhecia a hora mágica de conversar com o mar, pouco antes do sol se apagar. Sabia qual o sabor da chuva e deslizava no vento em descidas vertiginosas. Velozes. Trazia frutos sumarentos nos bolsos que espremia carinhosamente nas curvas da lua, bebendo de seus lábios magnéticos. Era confidente dos pássaros que lhe pousavam nos ombros queimados.

Nas noites mais quentes, de Verão, onde um silêncio esguio se substitui à brisa, num lago gelado. Delicado. Pronto a quebrar. Dizem que, se ficarmos atentos, por entre o ruído das cigarras e o olhar de um mocho real se consegue sentir a sua presença contagiante, que também voa, de repente, com os pássaros.

2 comentários:

Lilazdavioleta disse...

É... todos os sábios têm asas.
E aqueles que os conseguem escutar são, também, bem aventurados.

Andrómeda disse...

Folgo em ver que as férias o inspiraram e bem :)
Muito bonito, senhor Merlin :)

Assíduos do shaker

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