Paulo Coelho
Por mais negro e incerto que o mundo se apresente, devemos sempre olhar para um novo ano com esperança e optimismo, pois o futuro está, também, nas nossas mãos.
Não me refiro ao novo verbo “amunikar” que substitui, a passos largos, o simples lavar de vegetais, nem à proibição de fumeiros artesanais devido a perigos cancerígenos mas, dada a quadra, ao tradicional bolo-rei. Ora não é que o Rei foi destituído de brinde e fava porque uma qualquer criatura não sabia comer.
Esse ser, quanto a mim, tem um nome: parvo. Há que dizê-lo com toda a frontalidade, como dizia o outro. Toda a gente sabe que um bolo-rei é redondo, tem massa, frutos secos e cristalizados, um buraco no meio e, surpresa das surpresas, um brinde e uma fava.
Se fosse uma azevia ou mesmo um tronco de Natal o senhor poderia, de facto, ser ferido de morte, agora um bolo-rei? Por favor. Talvez fosse um tipo azarado que, farto de pagar bolos rei à conta das favas, inventou esta ideia peregrina ou um Édipo que preferia o dourado ao prateado, provavelmente, alguém que não sabe comer com a calma e moderação devidas.
Conclusão, o bolo-rei perdeu a graça toda, assim como uma panóplia de coisas que não vou enunciar para não deprimir almas mais sensíveis, mas teve pelo menos a decência de servir para vos brindar não, com favas, mas com umas sinceras Boas Festas.
Ramos Rosa
Não sei se sou espelho de lua, brisa salgada, ou raiz profunda a caminho do céu. Mas quando os olhos se fecham há sempre um astro que flameja.
Madredeus
Sou feito de água.
Lago cristalino,
mar revolto.
Viajo nas marés,
subo a vapor
mergulho gota a gota
e desaguo em ti,
minha cama
meu adormecer.