Ficas sempre nas minhas mãos. Pousada ou a esvoaçar no interior dos gestos. Solto-te devagar, duma forma invisível ao olhar, como quem solta um novelo preso ao corpo e à alma. E ali fico, atónito, calado com os meus botões, a puxar o fio, a ver-te dançar no respirar, a sentir a luz do teu sorriso, a saborear cada beijo adormecido: um a um, dois a dois. Uma maré de ti, nas minhas mãos. Liberto-te, estou em crer, simplesmente pelo prazer de te voltar a ter no fechar da mão. Tu ali, aprisionada, sempre ao meu alcance. Pronta para te agarrar forte e fundo, prolongando o espreguiçar do teu corpo nos meus olhos fechados até ao relâmpago do teu toque, incendiando o meu sangue. Ficas sempre nas minhas mãos. Beijo-te nelas demoradamente quando não estás e adormeço a pensar em ti.
e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão deixas viver sobre a pele uma criança de lume e na fria lava da noite ensinas ao corpo a paciência o amor o abandono das palavras o silêncio e a difícil arte da melancolia