4.07.2013

10 new stories, #6 [Tree don't care what the little bird sings]



A mão percorre, de olhos fechados, a escultura ponteaguda. São punhais que afaga, não arte. Desliza lentamente, apertando-a com força, até sangrar, sem que a dor lhe aumente ou diminua a alma. Apenas uma mão cerrada, sem pressa, sem lugar. O sangue a escorrer, espesso e delicado, por detrás das veias, tomando talvez caminhos antigos daquela mão imóvel, tingindo o seu calor no eco do silêncio aprisonado. Tudo é possível de sentir com os olhos fechados. Tudo é possível de agarrar à pele. Tudo. Abertos os olhos a mão volta a ganhar vida e a pálida calidez do corpo recupera algo de antigo. A mesma dor, incauta, imóvel, tatuada algures pela copa das árvores a acenar ao vento.


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